Para Reflectir: O Aspirante Árabe

O Mestre árabe, Jalad ud-Din Rumi, gostava de contar esta «estória»:

            Certo dia Maomé estava a presidir à oração da manhã, numa Mesquita; e, entre os presentes que rezavam com o Profeta, havia um Aspirante.
            Pôs-se Maomé a ler o Alcorão e leu os versos em que o Faraó dizia ao povo: «Eu sou o vosso Deus». Ouvindo tal blasfémia, o Aspirante encheu-se de espontânea indignação e gritou, lá no meio da assembleia:
«Mas como é orgulhoso, este filho da mãe!».
            Maomé não disse nada; mas, após a oração, algumas das pessoas que lá estavam começaram a insultar o moço e a repreendê-lo:
«Tu não tens vergonha? A tua atitude não pode ter agradado a Deus, pois não somente interrompeste o silêncio sagrado da oração, como fizeste coisa pior: pronunciaste um palavrão na frente do Profeta!».
            Corou, envergonhado, o pobre Aspirante e tremia de medo, até que Gabriel surgiu ante Maomé e falou assim:
«Alá te saúda e deseja que mandes esta gente parar de insultar o pobre jovem. Para falar com franqueza, aquele palavrão que ele pronunciou moveu o meu coração bem mais que as orações de muitos outros».

            Quando rezamos, Deus olha para o nosso coração, não para as nossas fórmulas.

                                                                                         
Anthony de Mello, in O Canto do Pássaro

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