CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO PADRE JOÃO MAURÍCIO DE AMARAL FERREIRA (MONSENHOR) 1914 – 1977

Ocorre segunda-feira, dia 22 de setembro de 2014, o Centenário do nascimento de Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira, patrono da Escola Profissional da Povoação.

A Direção da Fundação convida a população a participar na Eucaristia que será celebrada na Igreja Matriz às 18h00.

Dados Biográficos

Nasceu na Povoação no dia 22 de Setembro de 1914.

Filho de Manuel Jacinto Ferreira e de Júlia de Amaral, neto paterno de Jacinto José Ferreira e de Andreza de Jesus e materno de Manuel de Amaral e de Maria José da Glória.

Teve dois irmãos: Manuel Amaral Ferreira e Maria do Santo Cristo Ferreira.

Foi batizado na igreja paroquial de Nossa Senhora Mãe de Deus, Povoação, pelo Cura-Coadjutor, Pe. Dionísio Moniz de Almeida(74), no dia 4 de outubro de 1914, sendo padrinhos Manuel Joaquim Arnaldo e Maria Andreza.

Depois de completar o ensino primário na sua terra natal, deu entrada no Seminário de Angra no ano letivo 1927-1928(75).

Recebeu a Tonsura no dia 26 de Abril de 1936, as Ordens Menores de Ostiário e Leitor no dia 3 de Maio de 1936; as de Exorcista e Acólito no dia 10 de Maio do mesmo ano, a Ordem Maior de Subdiaconado aos 4 de Abril de 1937, a de Diácono no dia 30 de Maio do mesmo ano.
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(74) Natural de Santa Cruz da Lagoa, faleceu, “de gripe”, na Povoação no dia 21 de Novembro de 1918, com 28 anos de idade. Foi sepultado no Cemitério de Santa Bárbara, Povoação.
(75) Octávio H. Ribeiro de Medeiros, A Igreja nos Açores Segundo Quartel do Século XX, Povoação, Santa Casa da Misericórdia da Povoação, 1998, p. 151.

Foi ordenado sacerdote na Sé Catedral de Angra, por Sua Ex.cia Rev.ma, D. Guilherme Augusto Inácio da Cunha Guimarães, no dia 20 de Junho de 1937.

Celebrou a sua Missa Nova na igreja onde tinha recebido o batismo (Matriz da Povoação), aos 11 de Julho de 1937.

Foi elevado a Monsenhor a 25 de outubro de 1963, pelo Papa VI, por proposta do Bispo de então, D. Manuel Afonso de Carvalho.

Atividade pastoral(76)

Em 1938 foi nomeado Vigário Cooperador de Vila do Porto, ilha de Santa Maria.

Aos 30 de Junho de 1940 foi nomeado Vigário Ecónomo da Povoação, paróquia onde exerceu o múnus sacerdotal até 2 de Julho de 1975.

Exerceu o cargo de Pároco e ouvidor Eclesiástico da Povoação de 1940 a 1975.

Aos 18 de Março de 1970 é nomeado Vigário Episcopal das ilhas do Distrito Autónomo de Ponta Delgada, cargo que exerceu até 1974.

Foi o primeiro a exercer tal cargo.

No dia 2 de Julho de 1975, foi nomeado por D. Manuel Afonso de Carvalho, Bispo de então, para Reitor do Santuário da Esperança, Ponta Delgada. Esta nomeação e consequente transferência não foi bem aceite pelo grande médico povoacense, Dr. Cláudio Pires Coelho, o qual chegou a desaconselhá-la ao Bispo de então, D. Manuel Afonso de Carvalho.

Faleceu na cidade de Ponta Delgada aos 20 de Maio de 1977, quando nem tinha ainda completado os 63 anos de idade. Encontra-se sepultado no Cemitério de Santa Bárbara, Povoação, sua terra natal.

A imprensa deu notícia do infausto acontecimento. O Jornal Açores, logo no dia seguinte, na sua primeira página, escreve:
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(76) Cf. António Marinho de Matos, Povoação. Evangelização, devoção e património cultural (subsídios para a história da paróquia de Nossa Senhora Mãe de Deus), Março 2006.

“Faleceu Monsenhor João Maurício de A. Ferreira. Faleceu, ontem à noite, na Clínica do Bom Jesus, vítima de enfarte, Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira, Reitor do santuário do Senhor Santo Cristo. Contava 62 anos de idade e fora ouvidor na Vila da Povoação, onde muito se interessou pela construção do Externato Maria Isabel do Carmo Medeiros, e vigário episcopal das Ilhas de São Miguel e Santa Maria. O levantamento do seu corpo, da Clínica para o Santuário do Santo Cristo, far-se-á hoje, às 8h30, seguindo-se a celebração da missa. Às 16 horas, haverá concelebração e, às 21 horas, transladação do cadáver do Santuário para a Matriz da Povoação onde, amanhã, às 8h30, será o enterro, precedido de celebração de missa”(77).

No mesmo dia 21, o Diário dos Açores, jornal vespertino, também dava a notícia na primeira página:

“Mons. João Maurício de Amaral Ferreira: Faleceu este ilustre sacerdote, reitor do Santuário Diocesano do Santo Cristo.

Externato Maria Isabel do Carmo Medeiros, obra a que dedicou muito do seu saber e do seu tempo
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(77) In: Açores, Ponta Delgada, 21 de Maio de 1977, p. 1.

Em consequência da doença súbita de que ontem de madrugada fora acometido e que determinou o seu internamento na Clínica do Bom Jesus, como este jornal noticiou, faleceu na noite finda, naquela casa de saúde, monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira, reitor do Santuário do santo Cristo, que contava 62 anos de idade.

Figura prestigiosa do clero açoriano, exerceu o seu múnus sacerdotal, primeiramente, como pároco do Cabouco, em S. Miguel, sendo seguidamente, ouvidor eclesiástico em Vila do Porto, por dois anos, e a seguir, por 35 anos, foi prior da matriz da vila da Povoação, sua terra natal, em todos estes lugares tendo vincado o seu profundo amor apostólico, a par com o qual, naquela vila, desenvolveu uma notável ação assistencial bem patente, sobretudo, no Externato Maria Isabel do Carmo Medeiros, cuja ação tem sido de relevante projeção na juventude povoacense.

Vivendo apaixonadamente as obras a que se dedicava, foi vigário episcopal, deste cargo transitou para reitor do Santuário do Santo Cristo, cargo em que, pela sua saúde abalada, foi colhido pela morte.

De feito jovial e acolhedor, por todos os pontos aonde o levou a sua carreira de virtuoso sacerdote colheu a simpatia das populações, o que torna o seu passamento inesperado e prematuro profundamente sentido.

Os restos mortais de monsenhor Amaral Ferreira encontram-se depositados em câmara ardente no Santuário do Santo Cristo, onde, pelas 16 horas de hoje, serão concelebradas solenes exéquias, sendo feita a sua transladação, às 20.30 horas, para a Matriz da Povoação, onde amanhã, pelas 9 horas, após missa do corpo presente, se efetuará o funeral para o cemitério da terra da sua naturalidade.

O extinto era irmão da Sr.ª D. Maria do Santo Cristo Ferreira de Paiva, casada com o Sr. Manuel de Medeiros Paiva, e do Sr. Manuel de Amaral Ferreira, presidente da Câmara Municipal da Povoação, casado com a Sr.ª D. Maria Rosa de Medeiros Ferreira.

Profundamente penalizados pelo passamento do distinto sacerdote, a toda a família enlutada dirigimos a expressão das nossas sentidas condolências”(78).
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(78)In: Diário dos Açores, Ponta Delgada, 21 de Maio de 1977, p. 1.

O Correio dos Açores, na sua edição do dia 22 de Maio, também na primeira página, dá a notícia:

“Na morte de Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira ilustre ornamento do clero açoriano.

A cidade e a Ilha foram, na verdade abaladas pela notícia inesperada do falecimento de Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira, ocorrido anteontem na Clínica do Bom Jesus, para onde tinha ido de manhã, acometido de doença súbita. Tinha 62 anos de idade.

Sacerdote zeloso e estimado, Reitor do santuário do Senhor Santo Cristo norteou a sua atividade apostólica ao longo de quatro décadas, com espírito de trabalho, de dedicação e de delicadeza.

Começou a sua carreira como Pároco do Cabouco, depois na Ilha de Santa Maria, vindo a seguir para a vila da Povoação, onde realizou uma obra notável, não só no aspeto pastoral, como também no campo social e educativo.

Restaurou o lindo templo da Matriz e foi o obreiro número um do magnífico Externato Maria Isabel do Carmo Medeiros, daquela vila, sua terra natal, onde foi Prior da matriz durante cerca de três décadas.

Pelas suas qualidades e pelos seus conhecimentos em Direito Canónico, foi designado Ouvidor Eclesiástico daquela Circunscrição Eclesiástica e, mais tarde, Vigário Episcopal para as ilhas de S. Miguel e santa Maria, cargo este que desempenhou com critério, com prudência e com espírito de abertura e de diálogo, conquistando justamente a amizade e a confiança do clero.

Há cerca de dois anos, ocupava o lugar de Reitor do Santuário da Esperança. Deixado vago pela morte de Monsenhor José Gomes, tendo sabido granjear prestígio e simpatia. […]”(79).

O Diário dos Açores, na edição do dia 23, volta a dar notícia, agora sobre o funeral:
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(79)Correio dos Açores, Ponta Delgada, 22 de Maio de 1977, pp. 1 e 6. [A notícia continuava, mas com assuntos já conhecidos].

“Funeral Mons. João Maurício de Amaral Ferreira:

Constituiu uma muito sentida manifestação de pesar o funeral do venerando reitor do santuário Diocesano do Senhor Santo Cristo, realizado ontem na vila da Povoação, terra da sua naturalidade e de cuja Matriz foi durante muitos anos estimado e virtuoso pároco.

Na véspera, pelas 16 horas, celebrou-se na igreja da Esperança desta cidade, onde os seus restos mortais foram depositados, uma solene concelebração em que tomaram parte 46 sacerdotes, com a presença da família, da Mesa da Irmandade do Senhor Santo Cristo, das Religiosas de Maria Imaculada e de numerosos fiéis que por completo enchiam aquele templo.

O senhor Bispo de Angra e dos Açores, D. Manuel Afonso de Carvalho, que presidiu ao ato religioso, proferiu ao Evangelho sentidas palavras de homenagem à memória do ilustre sacerdote, que tão dedicadamente exerceu o apostolado em todas as localidades onde paroquiou, e ultimamente naquele santuário, onde, no curto espaço de tempo em que ali serviu, realizou obra a todos os títulos notável e meritória.

Às 20:30 horas desse dia, saiu a urna, contendo os seus restos mortais, em direção à Vila da Povoação, acompanhada de um numeroso préstito de automóveis, tendo ficado toda a noite em câmara ardente na respetiva Matriz.

Ontem, pelas 8 horas, realizou-se nesse templo nova concelebração com a presença igualmente de numerosos sacerdotes, seguindo-se depois o funeral para o cemitério da Povoação, em que tomou parte a grande maioria dos habitantes daquela vila, que assim quiseram testemunhar o seu grande pesar pelo falecimento de quem tão prestimosamente serviu a terra onde nasceu, quer no exercício do seu múnus sacerdotal, quer na direção do Externato Maria Isabel do Carmo Medeiros, que muito ficou a dever à sua dedicação e proficiência.

O Sr.º João Vasco Botelho de Paiva, representando o Governo Regional, levou a chave da urna e a Mesa da Irmandade do Senhor Santo Cristo fez-se representar pelo seu provedor e tesoureiro, Sr.º Dr. João Bernardo de Oliveira Rodrigues e Luís Alberto de Freitas da Silva Oliveira.

Renovamos as nossas mui sentidas condolências à Família enlutada”(80).

O Jornal A Crença, semanário católico que se publica em Vila Franca do Campo, nas páginas 2 e 3 também de fez eco do acontecimento, desta feita pela pena do Pároco das Furnas de então, Pe. Afonso Quental:

“Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira: Mais uma vez o difícil encargo de comunicar aos leitores deste jornal «A CRENÇA», o falecimento de mais um padre, Mons. João Maurício de Amaral Ferreira, em 20 deste mês de Maio, Reitor do santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em Ponta Delgada. Com a surpresa do duro acontecimento não é fácil tratar-se o curriculum vitae de Mons. Maurício.

    Edifício da Escola Profissional Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira 
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(80)Diário dos Açores, Ponta Delgada, 23 de Maio de 1977, p. 1. Na sua edição do dia 25 de Maio, o Diário Insular, editado na cidade de Angra do Heroísmo, também dá a notícia na sua primeira página.

A morte é verdade na vida. Em Mons. A morte foi verdade na vida de Padre. Nasceu na vila da Povoação em 22 de Setembro de 1914, frequentou o Seminário de Angra com muito aproveitamento, sendo ordenado por S. Ex.ª Revd.ma e Sr. D. Guilherme, Bispo de Angra, a 20 de Junho de 1937. Colocado primeiramente no Cabouco e Atalhada, foi transferido para Vila do Porto em santa Maria, como auxiliar do virtuoso Pe. Chaves. Após o falecimento do sempre lembrado Pe. Ernesto Jacinto raposo, primeiro Ouvidor da Povoação, foi colocado nesta vila, onde paroquiou cerca de 35 anos. Vagando o Santuário do Senhor Santo Cristo, com a morte de Mons. José Gomes, veio ocupar este difícil cargo de Reitor com muito mérito.

Em todos os lugares que lhe foram confiados, trabalhou como se nunca viesse a ser removido. Por temperamento tinha por lema aquilo que o Povo diz «pela estrada do amanhã, chega-se à porta do nunca». Começou pelas crianças, organizando o catecismo, fazendo fichas de frequência e aproveitamento, bem como modelos de arquivo que se foram aperfeiçoando e adaptando às necessidades da paroquiação.

Fez na Igreja Matriz reparações de vulto, inauguradas festivamente, estando presentes as Imagens dos Padroeiros das paróquias da Ouvidoria, pelo Sr. Bispo D. Guilherme, em 1948(81). Deu grande impulso à Conferência de S. Vicente de Paulo, construindo um bairro de casas para os pobres. Fundou o Externato da Povoação, com grande esforço e sacrifício, a bem da promoção intelectual e social deste concelho, a que foi dado o nome de Maria Isabel do Carmo Medeiros, em Fundação, por dádiva generosíssima de um filho desta Vila, o Benemérito Comendador Pe. João de Medeiros.

As criancinhas em idade pré-escolar desfrutam do seu Jardim Infantil. O Hospital da Santa Casa da Misericórdia nunca foi esquecido. Defendendo a promoção deste concelho assinou e estimulou a criação da Liga dos Amigos da povoação. E até o desporto para os jovens recebeu dele incremento valioso. Soube lutar e sacrificar-se aproveitando a boa vontade do povo e da Edilidade da Povoação com ânsia de se promover, moral, social e intelectualmente.

Por competência e dotes intelectuais foi nomeado Examinador Pre-Sinodal, elevado à dignidade de Monsenhor e primeiro Vigário Episcopal para as ilhas de santa Maria e São Miguel.

Ouvidor amigo, soube proporcionar ambiente de estudo e camaradagem entre os colegas, não aceitando cargos de maior relevância por amor à sua terra.

Terminou os seus dias depois de encerradas as solenes festas do Santo Cristo, deste agitado ano de 1977, prudentemente atualizado com a vida da Igreja dos nossos dias.

Foi grande a manifestação de pesar no seu funeral.

Presidiu o Ex.mo e Revd.mo Sr. D. Manuel, Bispo de Angra, que fez a homilia com manifesta emoção. Tomaram parte na concelebração cerce de cinquenta sacerdotes, e o Vigário Geral da Diocese fez-se representar pelo Ex.mo Reitor do Seminário Maior de Angra Dr. Augusto Cabral. O Governo Regional fez-se representar pelo Sr. João Vasco Paiva, estando desde a primeira hora a Mesa da Irmandade do Senhor Santo Cristo, bem como um destacado número de povoacenses e o clero da Ouvidoria.

Trasladado para a Povoação, ficou em câmara ardente na Matriz havendo no Domingo nova concelebração presidida pelo representante do Vigário Geral, e a homilia foi feita pelo pároco de Furnas, tomando parte os padres naturais desta Vila. A Povoação cumpriu o seu dever de gratidão.

A vida de um padre é imolação, sacrifício, às vezes incompreendido e pouco apreciado. A História Local fará justiça no futuro.

Nas preces da Eucaristia dizemos: Pelo nosso irmão Pe. Maurício que recebeu e viveu o sacerdócio: Ouvi-nos Senhor. Assim seja.

Deste cantinho. A parte de luto e dor que me cabe, ofereço ao Senhor pelo descanso eterno de Mons. Maurício. À família – verdadeiro cireneu – o conforto do meu sentimento cristão e sacerdotal.

Furnas, 23 de Maio de 1977.

Pe. Afonso Quental”(82)
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(81)Esta data, se se refere à festa do Centenário, não está correta, pois aquele foi celebrado em 1956 e não em 1948.
(82)A Crença, Vila Franca do Campo, 29 de Maio de 1977, pp. 2 e 3.

No Jornal de Fall River, de 26 de Maio de 1977, pode ler-se:

“Os acontecimentos registados em Ponta Delgada no fim-de-sema na de 14 e 15 de Maio arrasaram o malogrado clérigo, estando assim na origem do ataque que o vitimou. Constava em Ponta Delgada que além das diversas pressões para cancelar a procissão do Senhor Santo Cristo, várias fontes teriam contactado com Mons. Maurício para que aceitasse proteção das Forças Armadas durante a procissão.

As cerimónias fúnebres tiveram lugar no Convento da Esperança na tarde de sábado, sendo depois o corpo trasladado para a Matriz da Povoação, onde ficou em vigília de corpo presente até à manhã de domingo”(83).

Ação pastoral

Deve-se a este sacerdote a existência na Paróquia de Nossa Senhora Mãe de Deus do “Património dos Pobres, com cinco casas na Vila da Povoação e Ramalho e 5 na Lomba do Botão, refúgio para atender às necessidades mais urgentes da freguesia no aspeto de falta de habitação”.

Relativamente à Igreja Matriz, “foi enriquecida ainda com os seguintes melhoramentos: Pintura dos tetos, tendo [para o efeito] se deslocado um pintor do continente; o sacrário, os castiçais dourados, o vitral do Batistério, o cadeiral da Capela-Mor, a reparação e retábulo dos altares, os maravilhosos azulejos, os lustres, a bancada, os confessionários, a instalação elétrica e sonora, tudo isto foi feito no tempo do Monsenhor, para honrar e dignificar o templo de Nossa Senhora Mãe de Deus(84).

Enquanto pároco da Povoação “fundou várias obras de apostolado na Paróquia que muito contribuíram para a transformação espiritual da sua gente.
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(83)In Escola EB/JI Monsenhor Maurício Amaral Ferreira, O Ilustre Povoacense Monsenhor João Maurício Amaral Ferreira, Vila do Povoação, 1996, p. 11.
(84)Escola EB/JI Monsenhor Maurício Amaral Ferreira, O Ilustre Povoacense Monsenhor João Maurício Amaral Ferreira, Vila do Povoação, 1996, p. 13.

A Ação Católica Rural, que ainda hoje existe, e que na altura marcou jovens e adultos, que agora testemunham ter sido uma grande ajuda na sua formação pessoal.

Fundou a Obra Vicentina nesta terra e acompanhou-a sempre com entusiasmo e muita caridade.

Foi o promotor da realização dos 1ºs Cursos de Cristandade nesta Comunidade que fizeram com que muitos paroquianos renascessem para a vida espiritual.

A Liga Eucarística dos homens [e] o Apostolado da Oração tiveram grande importância na ajuda espiritual dos Povoacenses.

O Monsenhor ainda encaminhou várias crianças para o Seminário, fazendo com que os mais pobres estudassem gratuitamente.

As novenas de Nossa Senhora da Conceição e Natal, os tríduos para preparação das festas principais, ficaram inesquecíveis a este povo. As tradicionais Festas do Corpo de Deus da Povoação, iniciadas em 1905 pelo Padre Ernesto Jacinto Raposo, foram continuadas com grande brilho pelo Monsenhor.

Na Quaresma o rancho de Romeiros, saídos de cá todos os anos, também era de grande preocupação para o Monsenhor, quer em relação à sua preparação, como na sensibilização deste povo para a hospitalidade daqueles outros grupos [ranchos] de romeiros que aqui pernoitavam, dando ele próprio na sua casa dormida a alguns, principalmente ao Mestre.

A Comemoração do Centenário da Igreja Matriz em 1956 revestiu-se de tal brilho que ficou gravada na alma desta Comunidade «Foi uma festa nunca vista», dizem as pessoas cheias de emoção. […]”(85).

Ação cultural

A ação do Monsenhor João Maurício não se esgota no aspeto pastoral. Estendeu-se também, ao campo cultural, “principalmente na Fundação do Externato Maria Isabel do Carmo Medeiros, em que deu todo o seu empenho. Principalmente na construção do Externato, obra custeada em grande parte e pelo Povoacense Padre João de Medeiros, então a paroquiar nos estados Unidos da América do Norte.

O Monsenhor não temeu. Lutou contra todas as dificuldades. Deu todos os seus talentos de aventura, entusiasmo e esperança para chegar ao termo daquele grande empreendimento. Foi com a grande força de Deus, em quem sempre confiou, que conseguiu não se intimidar perante as contrariedades de que fora acometido.

A coragem do Monsenhor conseguiu transformar esta terra, fazendo com que muitas crianças que não passariam da Instrução Primária, hoje estejam a ocupar cargos que nunca seriam realidade, proporcionando a muitos um estudo gratuito, visto não terem possibilidades financeiras. Hoje muitos poderão afirmar: «Sou o que sou devido à existência do Externato na Povoação».

Assim perante obra tão notável que colocou o Monsenhor João Maurício Amaral Ferreira numa das figuras mais notáveis desta terra, não foi por acaso, nem em vão que Rubens de Almeida Pavão, Diretor Escolar de Ponta Delgada sugeriu para Patrono desta Escola Básica e Jardim de Infância da Vila da Povoação Monsenhor João Maurício Amaral Ferreira(86).
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(85)Escola EB/JI Monsenhor Maurício Amaral Ferreira, O Ilustre Povoacense Monsenhor João Maurício Amaral Ferreira, Vila do Povoação, 1996, pp. 13-22
(86)Escola EB/JI Monsenhor Maurício Amaral Ferreira, O Ilustre Povoacense Monsenhor João Maurício Amaral Ferreira, Vila do Povoação, 1996, pp. 22-31.

O Monsenhor Maurício é cumprimentado pelo Pe. Octávio Raposo no dia da sua “investidura” (foto)

A concluir, mais um testemunho escrito:

“Sua Senhoria Ilustríssima gastou longos anos desenvolvendo social, material e religiosamente este concelho, a Vila e Lombas principalmente. Não se poupou a esforços, trabalhos, arrelias, desgostos, para bem deste povo. Venceu teimosamente todos os obstáculos que se lhe deparavam para conseguir o bem espiritual e material dos povoacenses. Ultrapassou dificuldades, consideradas muitas vezes invencíveis, para realizar os seus intentos no sentido de melhorar o bem comum dos seus paroquianos. Mas a sua ação não se ficou só pelo coletivo. Individualmente considerado, atendia de igual modo e resolvia as dificuldades pessoais de quem o procurava.

Convivi de perto com tão ilustre personalidade, sempre ou quase sempre em desacordo com ele. […] Foram muitas as situações em que ideológica e pedagogicamente extremámos posições antagónicas. Nem por isso deixei de ver em Monsenhor João Maurício uma pessoa do meu respeito e consideração. […]

[…] ... aqui fica, após vários anos do seu falecimento, o preito de quem, exclusivamente sob o ponto de vista intelectual, religioso e compreensivo sempre o apreciou e defendeu”(87).
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(87)José Gaudêncio, “Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira”, Seara Verde, Ano II, Nº 41, 25 de Junho de 1998, p. 9.

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