CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO PADRE JOÃO MAURÍCIO DE AMARAL FERREIRA (MONSENHOR) 1914 – 1977
Ocorre
segunda-feira, dia 22 de setembro de 2014, o Centenário do nascimento de Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira, patrono da Escola Profissional da
Povoação.
A
Direção da Fundação convida a população a participar na Eucaristia que será
celebrada na Igreja Matriz às 18h00.
Dados Biográficos
Nasceu
na Povoação no dia 22 de Setembro de 1914.
Filho
de Manuel Jacinto Ferreira e de Júlia de Amaral, neto paterno de Jacinto José
Ferreira e de Andreza de Jesus e materno de Manuel de Amaral e de Maria José da
Glória.
Teve
dois irmãos: Manuel Amaral Ferreira e Maria do Santo Cristo Ferreira.
Foi
batizado na igreja paroquial de Nossa Senhora Mãe de Deus, Povoação, pelo
Cura-Coadjutor, Pe. Dionísio Moniz de Almeida(74), no dia 4 de outubro de 1914, sendo padrinhos Manuel Joaquim Arnaldo e
Maria Andreza.
Depois
de completar o ensino primário na sua terra natal, deu entrada no Seminário de
Angra no ano letivo 1927-1928(75).
Recebeu
a Tonsura no dia 26 de Abril de 1936, as Ordens Menores de Ostiário e Leitor no
dia 3 de Maio de 1936; as de Exorcista e Acólito no dia 10 de Maio do mesmo
ano, a Ordem Maior de Subdiaconado aos 4 de Abril de 1937, a de Diácono no dia
30 de Maio do mesmo ano.
__________________
(74) Natural de Santa
Cruz da Lagoa, faleceu, “de gripe”, na Povoação no dia 21 de Novembro de 1918,
com 28 anos de idade. Foi sepultado no Cemitério de Santa Bárbara, Povoação.
(75) Octávio H. Ribeiro de Medeiros, A Igreja
nos Açores Segundo Quartel do Século XX, Povoação, Santa Casa da Misericórdia
da Povoação, 1998, p. 151.
Foi
ordenado sacerdote na Sé Catedral de Angra, por Sua Ex.cia Rev.ma, D. Guilherme
Augusto Inácio da Cunha Guimarães, no dia
20 de Junho de 1937.
Celebrou
a sua Missa Nova na igreja onde tinha recebido o batismo (Matriz da Povoação),
aos 11 de Julho de 1937.
Foi
elevado a Monsenhor a 25 de outubro de 1963, pelo Papa VI,
por proposta do Bispo de então, D. Manuel Afonso de Carvalho.
Atividade pastoral(76)
Em 1938 foi nomeado
Vigário Cooperador de Vila do Porto, ilha de Santa Maria.
Aos
30 de Junho de 1940 foi nomeado
Vigário Ecónomo da Povoação, paróquia onde exerceu o múnus sacerdotal até 2 de Julho de 1975.
Exerceu
o cargo de Pároco e ouvidor Eclesiástico
da Povoação de 1940 a 1975.
Aos
18 de Março de 1970 é nomeado Vigário Episcopal das ilhas do Distrito
Autónomo de Ponta Delgada, cargo que exerceu até 1974.
Foi
o primeiro a exercer tal cargo.
No
dia 2 de Julho de 1975, foi nomeado
por D. Manuel Afonso de Carvalho, Bispo de então, para Reitor do Santuário da
Esperança, Ponta Delgada. Esta nomeação e consequente transferência não foi bem
aceite pelo grande médico povoacense, Dr. Cláudio Pires Coelho, o qual chegou a
desaconselhá-la ao Bispo de então, D. Manuel Afonso de Carvalho.
Faleceu na cidade
de Ponta Delgada aos 20 de Maio de 1977, quando nem tinha ainda completado os 63
anos de idade. Encontra-se sepultado no Cemitério de Santa Bárbara, Povoação,
sua terra natal.
A
imprensa deu notícia do infausto acontecimento. O Jornal Açores, logo no dia
seguinte, na sua primeira página, escreve:
__________________
(76) Cf. António Marinho de Matos, Povoação.
Evangelização, devoção e património cultural (subsídios para a história da
paróquia de Nossa Senhora Mãe de Deus), Março 2006.
“Faleceu
Monsenhor João Maurício de A. Ferreira. Faleceu, ontem à noite, na Clínica do
Bom Jesus, vítima de enfarte, Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira,
Reitor do santuário do Senhor Santo Cristo. Contava 62 anos de idade e fora
ouvidor na Vila da Povoação, onde muito se interessou pela construção do
Externato Maria Isabel do Carmo Medeiros, e vigário episcopal das Ilhas de São
Miguel e Santa Maria. O levantamento do seu corpo, da Clínica para o Santuário
do Santo Cristo, far-se-á hoje, às 8h30, seguindo-se a celebração da missa. Às
16 horas, haverá concelebração e, às 21 horas, transladação do cadáver do
Santuário para a Matriz da Povoação onde, amanhã, às 8h30, será o enterro,
precedido de celebração de missa”(77).
No
mesmo dia 21, o Diário dos Açores,
jornal vespertino, também dava a notícia na primeira página:
“Mons.
João Maurício de Amaral Ferreira: Faleceu este ilustre sacerdote, reitor do
Santuário Diocesano do Santo Cristo.
Externato
Maria Isabel do Carmo Medeiros, obra a que dedicou muito do seu saber e do seu
tempo
_____________
(77) In: Açores, Ponta Delgada, 21 de Maio de
1977, p. 1.
Em
consequência da doença súbita de que ontem de madrugada fora acometido e que
determinou o seu internamento na Clínica do Bom Jesus, como este jornal
noticiou, faleceu na noite finda, naquela casa de saúde, monsenhor João
Maurício de Amaral Ferreira, reitor do Santuário do santo Cristo, que contava
62 anos de idade.
Figura
prestigiosa do clero açoriano, exerceu o seu múnus sacerdotal, primeiramente,
como pároco do Cabouco, em S. Miguel, sendo seguidamente, ouvidor eclesiástico
em Vila do Porto, por dois anos, e a seguir, por 35 anos, foi prior da matriz
da vila da Povoação, sua terra natal, em todos estes lugares tendo vincado o
seu profundo amor apostólico, a par com o qual, naquela vila, desenvolveu uma
notável ação assistencial bem patente, sobretudo, no Externato Maria Isabel do
Carmo Medeiros, cuja ação tem sido de relevante projeção na juventude
povoacense.
Vivendo
apaixonadamente as obras a que se dedicava, foi vigário episcopal, deste cargo
transitou para reitor do Santuário do Santo Cristo, cargo em que, pela sua
saúde abalada, foi colhido pela morte.
De
feito jovial e acolhedor, por todos os pontos aonde o levou a sua carreira de
virtuoso sacerdote colheu a simpatia das populações, o que torna o seu passamento
inesperado e prematuro profundamente sentido.
Os
restos mortais de monsenhor Amaral Ferreira encontram-se depositados em câmara
ardente no Santuário do Santo Cristo, onde, pelas 16 horas de hoje, serão
concelebradas solenes exéquias, sendo feita a sua transladação, às 20.30 horas,
para a Matriz da Povoação, onde amanhã, pelas 9 horas, após missa do corpo
presente, se efetuará o funeral para o cemitério da terra da sua naturalidade.
O
extinto era irmão da Sr.ª D. Maria do Santo Cristo Ferreira de Paiva, casada
com o Sr. Manuel de Medeiros Paiva, e do Sr. Manuel de Amaral Ferreira,
presidente da Câmara Municipal da Povoação, casado com a Sr.ª D. Maria Rosa de
Medeiros Ferreira.
Profundamente
penalizados pelo passamento do distinto sacerdote, a toda a família enlutada
dirigimos a expressão das nossas sentidas condolências”(78).
______________
(78)In: Diário dos Açores, Ponta Delgada, 21 de
Maio de 1977, p. 1.
O
Correio dos Açores, na sua edição do
dia 22 de Maio, também na primeira página, dá a notícia:
“Na
morte de Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira ilustre ornamento do clero
açoriano.
A
cidade e a Ilha foram, na verdade abaladas pela notícia inesperada do
falecimento de Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira, ocorrido anteontem
na Clínica do Bom Jesus, para onde tinha ido de manhã, acometido de doença
súbita. Tinha 62 anos de idade.
Sacerdote
zeloso e estimado, Reitor do santuário do Senhor Santo Cristo norteou a sua atividade
apostólica ao longo de quatro décadas, com espírito de trabalho, de dedicação e
de delicadeza.
Começou
a sua carreira como Pároco do Cabouco, depois na Ilha de Santa Maria, vindo a
seguir para a vila da Povoação, onde realizou uma obra notável, não só no aspeto
pastoral, como também no campo social e educativo.
Restaurou
o lindo templo da Matriz e foi o obreiro número um do magnífico Externato Maria
Isabel do Carmo Medeiros, daquela vila, sua terra natal, onde foi Prior da
matriz durante cerca de três décadas.
Pelas
suas qualidades e pelos seus conhecimentos em Direito Canónico, foi designado
Ouvidor Eclesiástico daquela Circunscrição Eclesiástica e, mais tarde, Vigário
Episcopal para as ilhas de S. Miguel e santa Maria, cargo este que desempenhou
com critério, com prudência e com espírito de abertura e de diálogo,
conquistando justamente a amizade e a confiança do clero.
Há
cerca de dois anos, ocupava o lugar de Reitor do Santuário da Esperança.
Deixado vago pela morte de Monsenhor José Gomes, tendo sabido granjear
prestígio e simpatia. […]”(79).
O
Diário dos Açores, na edição do dia
23, volta a dar notícia, agora sobre o funeral:
___________________
(79)Correio dos Açores, Ponta Delgada, 22 de
Maio de 1977, pp. 1 e 6. [A notícia continuava, mas com assuntos já
conhecidos].
“Funeral
Mons. João Maurício de Amaral Ferreira:
Constituiu
uma muito sentida manifestação de pesar o funeral do venerando reitor do
santuário Diocesano do Senhor Santo Cristo, realizado ontem na vila da
Povoação, terra da sua naturalidade e de cuja Matriz foi durante muitos anos estimado
e virtuoso pároco.
Na
véspera, pelas 16 horas, celebrou-se na igreja da Esperança desta cidade, onde
os seus restos mortais foram depositados, uma solene concelebração em que tomaram
parte 46 sacerdotes, com a presença da família, da Mesa da Irmandade do Senhor
Santo Cristo, das Religiosas de Maria Imaculada e de numerosos fiéis que por
completo enchiam aquele templo.
O
senhor Bispo de Angra e dos Açores, D. Manuel Afonso de Carvalho, que presidiu
ao ato religioso, proferiu ao Evangelho sentidas palavras de homenagem à
memória do ilustre sacerdote, que tão dedicadamente exerceu o apostolado em
todas as localidades onde paroquiou, e ultimamente naquele santuário, onde, no
curto espaço de tempo em que ali serviu, realizou obra a todos os títulos
notável e meritória.
Às
20:30 horas desse dia, saiu a urna, contendo os seus restos mortais, em direção
à Vila da Povoação, acompanhada de um numeroso préstito de automóveis, tendo
ficado toda a noite em câmara ardente na respetiva Matriz.
Ontem,
pelas 8 horas, realizou-se nesse templo nova concelebração com a presença
igualmente de numerosos sacerdotes, seguindo-se depois o funeral para o
cemitério da Povoação, em que tomou parte a grande maioria dos habitantes
daquela vila, que assim quiseram testemunhar o seu grande pesar pelo
falecimento de quem tão prestimosamente serviu a terra onde nasceu, quer no
exercício do seu múnus sacerdotal, quer na direção do Externato Maria Isabel do
Carmo Medeiros, que muito ficou a dever à sua dedicação e proficiência.
O
Sr.º João Vasco Botelho de Paiva, representando o Governo Regional, levou a
chave da urna e a Mesa da Irmandade do Senhor Santo Cristo fez-se representar pelo
seu provedor e tesoureiro, Sr.º Dr. João Bernardo de Oliveira Rodrigues e Luís
Alberto de Freitas da Silva Oliveira.
Renovamos
as nossas mui sentidas condolências à Família enlutada”(80).
O
Jornal A Crença, semanário católico
que se publica em Vila Franca do Campo, nas páginas 2 e 3 também de fez eco do
acontecimento, desta feita pela pena do Pároco das Furnas de então, Pe. Afonso
Quental:
“Monsenhor
João Maurício de Amaral Ferreira: Mais uma vez o difícil encargo de comunicar
aos leitores deste jornal «A CRENÇA», o falecimento de mais um padre, Mons. João
Maurício de Amaral Ferreira, em 20 deste mês de Maio, Reitor do santuário do
Senhor Santo Cristo dos Milagres, em Ponta Delgada. Com a surpresa do duro
acontecimento não é fácil tratar-se o curriculum vitae de Mons. Maurício.
Edifício
da Escola Profissional Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira
_______________
(80)Diário dos Açores, Ponta Delgada, 23 de
Maio de 1977, p. 1. Na sua edição do dia 25 de Maio, o Diário Insular, editado
na cidade de Angra do Heroísmo, também dá a notícia na sua primeira página.
A
morte é verdade na vida. Em Mons. A morte foi verdade na vida de Padre. Nasceu
na vila da Povoação em 22 de Setembro de 1914, frequentou o Seminário de Angra
com muito aproveitamento, sendo ordenado por S. Ex.ª Revd.ma e Sr. D.
Guilherme, Bispo de Angra, a 20 de Junho de 1937. Colocado primeiramente no
Cabouco e Atalhada, foi transferido para Vila do Porto em santa Maria, como
auxiliar do virtuoso Pe. Chaves. Após o falecimento do sempre lembrado Pe. Ernesto
Jacinto raposo, primeiro Ouvidor da Povoação, foi colocado nesta vila, onde
paroquiou cerca de 35 anos. Vagando o Santuário do Senhor Santo Cristo, com a
morte de Mons. José Gomes, veio ocupar este difícil cargo de Reitor com muito
mérito.
Em
todos os lugares que lhe foram confiados, trabalhou como se nunca viesse a ser
removido. Por temperamento tinha por lema aquilo que o Povo diz «pela estrada do
amanhã, chega-se à porta do nunca». Começou pelas crianças, organizando o
catecismo, fazendo fichas de frequência e aproveitamento, bem como modelos de
arquivo que se foram aperfeiçoando e adaptando às necessidades da paroquiação.
Fez
na Igreja Matriz reparações de vulto, inauguradas festivamente, estando
presentes as Imagens dos Padroeiros das paróquias da Ouvidoria, pelo Sr. Bispo
D. Guilherme, em 1948(81). Deu grande
impulso à Conferência de S. Vicente de Paulo, construindo um bairro de casas para
os pobres. Fundou o Externato da Povoação, com grande esforço e sacrifício, a
bem da promoção intelectual e social deste concelho, a que foi dado o nome de
Maria Isabel do Carmo Medeiros, em Fundação, por dádiva generosíssima de um filho
desta Vila, o Benemérito Comendador Pe. João de Medeiros.
As
criancinhas em idade pré-escolar desfrutam do seu Jardim Infantil. O Hospital
da Santa Casa da Misericórdia nunca foi esquecido. Defendendo a promoção deste
concelho assinou e estimulou a criação da Liga dos Amigos da povoação. E até o
desporto para os jovens recebeu dele incremento valioso. Soube lutar e
sacrificar-se aproveitando a boa vontade do povo e da Edilidade da Povoação com
ânsia de se promover, moral, social e intelectualmente.
Por
competência e dotes intelectuais foi nomeado Examinador Pre-Sinodal, elevado à
dignidade de Monsenhor e primeiro Vigário Episcopal para as ilhas de santa
Maria e São Miguel.
Ouvidor
amigo, soube proporcionar ambiente de estudo e camaradagem entre os colegas,
não aceitando cargos de maior relevância por amor à sua terra.
Terminou
os seus dias depois de encerradas as solenes festas do Santo Cristo, deste
agitado ano de 1977, prudentemente atualizado com a vida da Igreja dos nossos
dias.
Foi
grande a manifestação de pesar no seu funeral.
Presidiu
o Ex.mo e Revd.mo Sr. D. Manuel, Bispo de Angra, que fez a homilia com
manifesta emoção. Tomaram parte na concelebração cerce de cinquenta sacerdotes,
e o Vigário Geral da Diocese fez-se representar pelo Ex.mo Reitor do Seminário
Maior de Angra Dr. Augusto Cabral. O Governo Regional fez-se representar pelo
Sr. João Vasco Paiva, estando desde a primeira hora a Mesa da Irmandade do Senhor
Santo Cristo, bem como um destacado número de povoacenses e o clero da
Ouvidoria.
Trasladado
para a Povoação, ficou em câmara ardente na Matriz havendo no Domingo nova
concelebração presidida pelo representante do Vigário Geral, e a homilia foi
feita pelo pároco de Furnas, tomando parte os padres naturais desta Vila. A
Povoação cumpriu o seu dever de gratidão.
A
vida de um padre é imolação, sacrifício, às vezes incompreendido e pouco
apreciado. A História Local fará justiça no futuro.
Nas
preces da Eucaristia dizemos: Pelo nosso irmão Pe. Maurício que recebeu e viveu
o sacerdócio: Ouvi-nos Senhor. Assim seja.
Deste
cantinho. A parte de luto e dor que me cabe, ofereço ao Senhor pelo descanso
eterno de Mons. Maurício. À família – verdadeiro cireneu – o conforto do meu
sentimento cristão e sacerdotal.
Furnas,
23 de Maio de 1977.
Pe.
Afonso Quental”(82)
__________________
(81)Esta data, se se
refere à festa do Centenário, não está correta, pois aquele foi celebrado em
1956 e não em 1948.
(82)A Crença, Vila Franca do Campo, 29 de Maio
de 1977, pp. 2 e 3.
No
Jornal de Fall River, de 26 de Maio de 1977, pode ler-se:
“Os
acontecimentos registados em Ponta Delgada no fim-de-sema na de 14 e 15 de Maio
arrasaram o malogrado clérigo, estando assim na origem do ataque que o vitimou.
Constava em Ponta Delgada que além das diversas pressões para cancelar a
procissão do Senhor Santo Cristo, várias fontes teriam contactado com Mons.
Maurício para que aceitasse proteção das Forças Armadas durante a procissão.
As
cerimónias fúnebres tiveram lugar no Convento da Esperança na tarde de sábado,
sendo depois o corpo trasladado para a Matriz da Povoação, onde ficou em
vigília de corpo presente até à manhã de domingo”(83).
Ação pastoral
Deve-se
a este sacerdote a existência na Paróquia de Nossa Senhora Mãe de Deus do
“Património dos Pobres, com cinco casas na Vila da Povoação e Ramalho e 5 na
Lomba do Botão, refúgio para atender às necessidades mais urgentes da freguesia
no aspeto de falta de habitação”.
Relativamente
à Igreja Matriz, “foi enriquecida ainda com os seguintes melhoramentos: Pintura
dos tetos, tendo [para o efeito] se deslocado um pintor do continente; o
sacrário, os castiçais dourados, o vitral do Batistério, o cadeiral da
Capela-Mor, a reparação e retábulo dos altares, os maravilhosos azulejos, os
lustres, a bancada, os confessionários, a instalação elétrica e sonora, tudo
isto foi feito no tempo do Monsenhor, para honrar e dignificar o templo de
Nossa Senhora Mãe de Deus(84).
Enquanto
pároco da Povoação “fundou várias obras de apostolado na Paróquia que muito
contribuíram para a transformação espiritual da sua gente.
______________________
(83)In Escola EB/JI
Monsenhor Maurício Amaral Ferreira, O Ilustre Povoacense Monsenhor João
Maurício Amaral Ferreira, Vila do Povoação, 1996, p. 11.
(84)Escola EB/JI Monsenhor Maurício Amaral
Ferreira, O Ilustre Povoacense Monsenhor João Maurício Amaral Ferreira, Vila do
Povoação, 1996, p. 13.
A
Ação Católica Rural, que ainda hoje existe, e que na altura marcou jovens e adultos,
que agora testemunham ter sido uma grande ajuda na sua formação pessoal.
Fundou
a Obra Vicentina nesta terra e acompanhou-a sempre com entusiasmo e muita
caridade.
Foi
o promotor da realização dos 1ºs Cursos de Cristandade nesta Comunidade que
fizeram com que muitos paroquianos renascessem para a vida espiritual.
A
Liga Eucarística dos homens [e] o Apostolado da Oração tiveram grande
importância na ajuda espiritual dos Povoacenses.
O
Monsenhor ainda encaminhou várias crianças para o Seminário, fazendo com que os
mais pobres estudassem gratuitamente.
As
novenas de Nossa Senhora da Conceição e Natal, os tríduos para preparação das
festas principais, ficaram inesquecíveis a este povo. As tradicionais Festas do
Corpo de Deus da Povoação, iniciadas em 1905 pelo Padre Ernesto Jacinto Raposo,
foram continuadas com grande brilho pelo Monsenhor.
Na
Quaresma o rancho de Romeiros, saídos de cá todos os anos, também era de grande
preocupação para o Monsenhor, quer em relação à sua preparação, como na sensibilização
deste povo para a hospitalidade daqueles outros grupos [ranchos] de romeiros
que aqui pernoitavam, dando ele próprio na sua casa dormida a alguns, principalmente
ao Mestre.
A
Comemoração do Centenário da Igreja Matriz em 1956 revestiu-se de tal brilho
que ficou gravada na alma desta Comunidade «Foi uma festa nunca vista», dizem
as pessoas cheias de emoção. […]”(85).
Ação cultural
A
ação do Monsenhor João Maurício não se esgota no aspeto pastoral. Estendeu-se também,
ao campo cultural, “principalmente na Fundação do Externato Maria Isabel do
Carmo Medeiros, em que deu todo o seu empenho. Principalmente na construção do
Externato, obra custeada em grande parte e pelo Povoacense Padre João de
Medeiros, então a paroquiar nos estados Unidos da América do Norte.
O
Monsenhor não temeu. Lutou contra todas as dificuldades. Deu todos os seus talentos
de aventura, entusiasmo e esperança para chegar ao termo daquele grande
empreendimento. Foi com a grande força de Deus, em quem sempre confiou, que
conseguiu não se intimidar perante as contrariedades de que fora acometido.
A
coragem do Monsenhor conseguiu transformar esta terra, fazendo com que muitas
crianças que não passariam da Instrução Primária, hoje estejam a ocupar cargos
que nunca seriam realidade, proporcionando a muitos um estudo gratuito, visto
não terem possibilidades financeiras. Hoje muitos poderão afirmar: «Sou o que
sou devido à existência do Externato na Povoação».
Assim
perante obra tão notável que colocou o Monsenhor João Maurício Amaral Ferreira
numa das figuras mais notáveis desta terra, não foi por acaso, nem em vão que
Rubens de Almeida Pavão, Diretor Escolar de Ponta Delgada sugeriu para Patrono
desta Escola Básica e Jardim de Infância da Vila da Povoação Monsenhor João
Maurício Amaral Ferreira(86).
____________________
(85)Escola EB/JI
Monsenhor Maurício Amaral Ferreira, O Ilustre Povoacense Monsenhor João
Maurício Amaral Ferreira, Vila do Povoação, 1996, pp. 13-22
(86)Escola EB/JI Monsenhor Maurício Amaral
Ferreira, O Ilustre Povoacense Monsenhor João Maurício Amaral Ferreira, Vila do
Povoação, 1996, pp. 22-31.
O
Monsenhor Maurício é cumprimentado pelo Pe. Octávio Raposo no dia da sua
“investidura” (foto)
A concluir, mais um testemunho
escrito:
“Sua
Senhoria Ilustríssima gastou longos anos desenvolvendo social, material e
religiosamente este concelho, a Vila e Lombas principalmente. Não se poupou a
esforços, trabalhos, arrelias, desgostos, para bem deste povo. Venceu
teimosamente todos os obstáculos que se lhe deparavam para conseguir o bem
espiritual e material dos povoacenses. Ultrapassou dificuldades, consideradas
muitas vezes invencíveis, para realizar os seus intentos no sentido de melhorar
o bem comum dos seus paroquianos. Mas a sua ação não se ficou só pelo coletivo.
Individualmente considerado, atendia de igual modo e resolvia as dificuldades
pessoais de quem o procurava.
Convivi
de perto com tão ilustre personalidade, sempre ou quase sempre em desacordo com
ele. […] Foram muitas as situações em que ideológica e pedagogicamente
extremámos posições antagónicas. Nem por isso deixei de ver em Monsenhor João
Maurício uma pessoa do meu respeito e consideração. […]
[…]
... aqui fica, após vários anos do seu falecimento, o preito de quem,
exclusivamente sob o ponto de vista intelectual, religioso e compreensivo
sempre o apreciou e defendeu”(87).
_______________________
(87)José Gaudêncio, “Monsenhor João Maurício de
Amaral Ferreira”, Seara Verde, Ano II, Nº 41, 25 de Junho de 1998, p. 9.
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