MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O XLVII DIA MUNDIAL DA PAZ
1. No início dum novo ano, que acolhemos como uma graça e um dom de Deus para a humanidade, desejo dirigir, a cada homem e mulher, bem como a todos os povos e nações do mundo, aos chefes de Estado e de Governo e aos responsáveis das várias religiões, os meus ardentes votos de paz, que acompanho com a minha oração a fim de que cessem as guerras, os conflitos e os inúmeros sofrimentos provocados quer pela mão do homem quer por velhas e novas epidemias e pelos efeitos devastadores das calamidades naturais. Sendo o homem um ser relacional, destinado a realizar-se no contexto de relações interpessoais inspiradas pela justiça e a caridade, é fundamental para o seu desenvolvimento que sejam reconhecidas e respeitadas a sua dignidade, liberdade e autonomia. Infelizmente, o flagelo generalizado da exploração do homem pelo homem fere gravemente a vida de comunhão e a vocação a tecer relações interpessoais marcadas pelo respeito, a justiça e a caridade. Tal fenómeno abominável, que leva a espezinhar os direitos fundamentais do outro e a aniquilar a sua liberdade e dignidade, assume múltiplas formas sobre as quais desejo deter-me, brevemente, para que, à luz da Palavra de Deus, possamos considerar todos os homens, «já não escravos, mas irmãos».
2.
O tema desta mensagem, inspira-se na Carta de São Paulo a Filémon […].
Infelizmente, entre a primeira criação narrada no livro do Génesis e o novo
nascimento em Cristo – que torna, os crentes, irmãos e irmãs do «primogénito de
muitos irmãos» –, existe a realidade negativa do pecado, que interrompe tantas
vezes a nossa fraternidade de criaturas e deforma continuamente a beleza e nobreza
de sermos irmãos e irmãs da mesma família humana. […]. Na narração das origens
da família humana, o pecado de afastamento de Deus, da figura do pai e do irmão
torna-se uma expressão da recusa da comunhão e traduz-se na cultura da servidão
(cf. Gen 9, 25-27), com as consequências daí resultantes que se prolongam de
geração em geração: rejeição do outro, maus-tratos às pessoas, violação da
dignidade e dos direitos fundamentais, institucionalização de desigualdades.
Daqui se vê a necessidade duma conversão contínua à Aliança levada à perfeição
pela oblação de Cristo na cruz, confiantes de que, «onde abundou o pecado,
superabundou a graça (…) por Jesus Cristo» (Rom 5, 20.21). […] Tudo isto prova
como a Boa Nova de Jesus Cristo – por meio de Quem Deus «renova todas as
coisas» (Ap 21, 5)[3] – é capaz de redimir também as relações entre os homens,
incluindo a relação entre um escravo e o seu senhor, pondo em evidência aquilo
que ambos têm em comum: a filiação adoptiva e o vínculo de fraternidade em
Cristo. O próprio Jesus disse aos seus discípulos: «Já não vos chamo servos,
visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós
chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai». Desde
tempos imemoriais, as diferentes sociedades humanas conhecem o fenómeno da
sujeição do homem pelo homem. […] Hoje, na sequência duma evolução positiva da
consciência da humanidade, a escravatura foi formalmente abolida no mundo. O
direito de cada pessoa não ser mantida em estado de escravidão ou servidão foi
reconhecido, no direito internacional, como norma inderrogável. Mas, apesar de
a comunidade internacional ter adoptado numerosos acordos para pôr termo à
escravatura em todas as suas formas e ter lançado diversas estratégias para
combater este fenómeno, ainda hoje milhões de pessoas […]
FRANCISCUS
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