MENSAGEM DO SENHOR BISPO PARA A QUARESMA 2015
«Felizes os misericordiosos, porque
alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7)
«O
tempo chegou ao seu termo. O Reino de Deus está próximo: mudai de vida e
acreditai na Boa Nova» (Mc 1, 5). Foi com estas palavras que Jesus iniciou o
Seu ministério público. Palavras muito oportunas para a caminhada quaresmal,
que agora iniciamos, como momento especial da graça do Senhor, que vem ao nosso
encontro, para transformar a nossa vida, com a Sua misericórdia, a máxima
expressão do amor.
«Ninguém
jamais viu a Deus: o Filho Único, que está no seio do Pai, é que O deu a
conhecer» (Jo 1, 18), precisamente como Deus-Amor, que é todo misericórdia.
«Sede, pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai Celeste» (Mt 5, 48) -
recomenda-nos Jesus.
O
caminho da perfeição humana é, pois, o do amor, que tem a sua máxima expressão
na misericórdia, que é a capacidade de se “compadecer”: “padecer-com”, isto é,
ser capaz de se pôr no lugar do outro, assumindo a sua situação. Com Cristo e
como Cristo, que não Se valeu da Sua condição divina, mas assumiu a nossa
condição humana, sob a forma de servo, que dá a vida pelo bem de todos (cf Fil 2, 6).
O
Papa Francisco recomenda continuamente uma nova “saída” missionária da Igreja,
para levar o Evangelho a todas as periferias existenciais (cf Exortação
Apostólica, Evangelii Gaudium=EG, 2013). O Santo Padre apresenta a imagem de
uma Igreja sempre de “portas abertas”, que acolhe e vai ao encontro das
pessoas:
• «corre o risco do encontro com o rosto do
outro» (EG 88);
• cultiva a «arte do acompanhamento» (EG
169);
• sabe «escutar, que é mais do que ouvir…
(EG 171… ).
«Escutar…
é a capacidade do coração que torna possível a proximidade», sem a qual não
existe um verdadeiro encontro com o outro, em atitude de «escuta respeitosa e
compassiva» (EG 171).
1.Na
Sua Mensagem da Quaresma deste ano, o Santo Padre insiste, precisamente, na
luta contra a «globalização da indiferença». «Tempo de renovação para a Igreja,
para as comunidades e para cada um dos fiéis, a Quaresma é, sobretudo, um
“tempo favorável” de graça» (cf 2 Cor 6, 2). Deus nada nos pede, que antes não
no-lo tenha dado: “nós amamos, porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4, 19). Ele
não nos olha com indiferença…
«Coisa
diversa se passa connosco. Quando estamos bem e comodamente instalados,
facilmente nos esquecemos dos outros…: encontrando-me relativamente bem e
confortável, esqueço-me dos que não estão bem. Hoje esta atitude egoísta de
indiferença atingiu uma dimensão mundial tal que podemos falar de uma
globalização da indiferença. Trata-se de um mal-estar que temos a obrigação,
como cristãos, de enfrentar» (Papa Francisco, Mensagem para a Quaresma
=MQ2015).
Que
fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de indiferença?
*
«Em primeiro lugar, podemos rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. Não
subestimemos a força da oração de muitos (…)! Se humildemente pedirmos a graça
de Deus e aceitarmos os limites das nossas possibilidades, então confiaremos
nas possibilidades infinitas que têm de reserva o amor de Deus. E poderemos
resistir à tentação diabólica que nos leva a crer que podemos salvar-nos e salvar
o mundo sòzinhos (…).
«A
iniciativa 24 horas para o Senhor,
que espero se celebre em toda a Igreja – mesmo a nível diocesano – nos dias 13
e 14 de Março, pretende dar expressão a esta necessidade de oração (Trata-se de
ligar esta iniciativa ao tradicional “Laus-Perenne”).
*
«Em segundo lugar, podemos levar ajuda, com gestos de caridade, tanto a quem
vive próximo de nós, como a quem está longe, graças aos inúmeros organismos da
Igreja. A Quaresma é um tempo propício para mostrar este interesse pelo outro,
através de um sinal – mesmo pequeno, mas concreto – da nossa participação na
humanidade, que temos em comum» (MQ2015).
2.Nesse
sentido, destinamos o fruto da Renúncia
Quaresmal deste ano às populações da Ilha do Fogo (Cabo Verde), atingidas
pelas consequências de uma erupção vulcânica, que tem causado muitos estragos
materiais. Nós precisamos, mas não podemos esquecer quem precisa mais do que
nós.
Vamos
procurar, ao longo desta Quaresma, renunciar a algo, para que o resultado
obtido até Domingo de Ramos constitua uma ajuda significativa para as famílias
sinistradas da Ilha do Fogo. No ano passado a Renúncia Quaresmal somou: Euros
13. 426, 13 (treze mil quatrocentos e vinte e seis Euros e treze cêntimos). Não
nos deixemos vencer em generosidade! Sejamos solidários e generosos!
Nesta
caminhada quaresmal, vamos também ter presente a Semana da Caritas, de 2 a 8 de Março, com o lema: «Um só coração,
uma só família humana». Ao longo dessa semana, haverá o Peditório Nacional da
Caritas. Como sabemos, a Caritas é o serviço oficial da Igreja, em apoio à
acção social, no sentido mais abrangente de promoção social, que vai para além da
simples ajuda material. É de toda a importância apoiar essa acção e desenvolver
uma rede de intercâmbio e de colaboração com a Caritas Diocesana.
3.«Felizes
os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7)!
Como
muito bem explicava S. João Paulo II, «se todas as bem-aventuranças do Sermão
da Montanha indicam o caminho da conversão e da mudança de vida, a que se
refere aos misericordiosos é particularmente eloquente a esse respeito. O ser
humano alcança o amor misericordioso de Deus e a Sua misericórdia, na medida em
que ele próprio» for misericordioso para com o próximo (Carta Encíclica, Dives
in Misericórdia, 1980, 14).
Assim,
a Quaresma será tempo favorável da misericórdia divina, na medida, em que
formos misericordiosos uns para com os outros. Começando por quem mais precisa,
mesmo que menos mereça. É que a verdadeira misericórdia é gratuita. Vence o mal
com o bem.
Como
adverte o Papa Francisco, «nem sempre conseguimos manifestar adequadamente a
beleza do Evangelho, mas há um sinal que nunca deve faltar: a opção pelos
últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora» (AE 195). É o que
nos diz claramente na Mensagem Quaresmal de 2015: «desejo que (…) as nossas
comunidades se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença».
+
António, Bispo de Angra
Angra,
11 de Fevereiro de 2015.
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