SENHOR SANTO CRISTO É OFICIALMENTE TESOURO REGIONAL
Assembleia
Legislativa
Decreto
Legislativo Regional n.º 4/2015/A
ATRIBUIÇÃO
DA DESIGNAÇÃO DE «TESOURO REGIONAL»
À
IMAGEM DO SENHOR SANTO
CRISTO DOS MILAGRES
E SEUS CINCO DONS
Há
mais de três séculos que os micaelenses prestam devotado culto ao Senhor Santo
Cristo dos Milagres. Depois das festas em honra do Divino Espírito Santo, que
deverão remontar aos primeiros tempos do povoamento, este é, seguramente, um
dos cultos religiosos mais antigos e enraizados na alma das nossas gentes. Uma
devoção secular, iniciada por Madre Teresa da Anunciada, que se implantou noutras
paragens do arquipélago – de Santa Maria a São Jorge, passando pela Graciosa –
e da diáspora, aqui com particular significado em FallRiver e Toronto, sendo a
capital do Ontário a cidade onde mais emigrantes e seus descendentes se reúnem
em torno deste culto.
O
culto do Senhor Santo Cristo está associado à sua veneranda imagem, que
permanece há séculos no coro baixo do Santuário de Nossa Senhora da Esperança.
Desconhece-se a origem, época e autor desta escultura única, bem como a data da
sua chegada a São Miguel, por alguns atribuída a uma oferta do Papa Clemente
VII, ainda na primeira metade do século XVI, a duas freiras do Vale de Cabaços.
A
grande devoção do povo micaelense ao Senhor Santo Cristo juntou à respetiva
imagem um cetro, uma coroa, um medalhão-relicário, uma corda em ouro e um
sumptuoso resplendor, constituído por milhares de elementos preciosos em ouro,
prata, diamantes, esmeraldas, topázios, rubis e ametistas, resultado das doações
feitas pelos devotos no pagamento de promessas. Os especialistas em arte
consideram o tesouro do Senhor Santo Cristo de incalculável valor e um dos mais
belos e sumptuosos da joalharia devocional do país e até da Península Ibérica.
Fruto
da exaltação devocional, o tesouro do Senhor Santo Cristo inclui também mais de
duas dezenas de capas, ricamente bordadas e também impregnadas por pedras preciosas,
para além de um acervo de outras pedras preciosas, que continuam a ser
oferecidas como expressão de agradecimento e promessas efetuadas por milhares
de pessoas.
À
dimensão material do tesouro junta-se um incalculável valor simbólico derivado
da profunda relação afetiva dos açorianos com este conjunto religioso que muito
veneram.
Considerando
que a imagem e o tesouro do Senhor Santo Cristo são bens de valor simbólico e
religioso em toda a Região Autónoma dos Açores e na sua diáspora;
Considerando
o disposto no n.º 2 do artigo 10.º do Decreto Legislativo Regional n.º
29/2004/A, de 24 de agosto, na redação que lhe foi dada pela Declaração de
Retificação n.º 92/2004, de 22 de outubro, e pelos Decretos Legislativos Regionais
n.os 8/2005/A, de 20 de maio e 43/2008/A, de 8 de outubro.
Assim,
a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores decreta, nos termos da
alínea a) do n.º 1 do artigo 227.º da Constituição da República Portuguesa e dos
números 1 e 2 do artigo 37.º, do n.º 1 e da alínea a) do n.º 2 do artigo 63.º
do Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores, o seguinte:
Artigo 1.º
Tesouro
Regional É atribuída a designação de «tesouro regional» à imagem do Senhor
Santo Cristo dos Milagres, do Convento da Esperança na ilha de São Miguel, e
seus Cinco Dons – Cetro, Corda, Coroa, Relicário e Resplendor – descritos no anexo
ao presente diploma e que dele faz parte integrante, em virtude de se revestir
de valor especialmente simbólico para a Região e ter inequívoco valor regional.
Artigo 2.º
Entrada
em vigor O presente diploma entra em vigor no dia seguinte ao da sua
publicação.
Aprovado
pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, na Horta, em 14 de
janeiro de 2015.
A
Presidente da Assembleia Legislativa, Ana Luísa Luís.
Assinado
em Angra do Heroísmo em 9 de fevereiro de 2015.
Publique-se.
O
Representante da República para a Região Autónoma dos Açores, Pedro Manuel dos
Reis Alves Catarino.
ANEXO
1 - Imagem do Ecce
Homo Busto da Paixão de Cristo.
Madeira
Policromada.
Séculos
XVI-XVII.
Altura
86 cm.
2 – Cetro
Cetro
em forma de ramo de flores com doze folhas móveis e com um laço sobreposto,
cujo nó é rematado com a insígnia da Ordem de Cristo. Na base, encontra-se uma
imagem de Nossa Senhora da Conceição em ouro esmaltado e uma pluma de
brilhantes.
Ouro
e prata, recobertos com pedras preciosas.
Joalharia
Portuguesa.
Século
XVIII.
Altura
73 cm.
3 – Corda
Tissu
de ouro torcido da direita para a esquerda com quatro segmentos unidos nas
extremidades em dois nós, dos quais partem pontas rematadas por borlas e duas
laçadas pendentes.
Ouro,
aljôfares e joias.
Séculos
XVIII-XX.
Comprimento
520 cm.
4 – Coroa
Coroa
com lineamento entrançado, com um eixo centrado em três espinhos verticais
rematado ao centro por um diamante triangular.
Ouro
com aplicação de pedras preciosas.
Séculos
XVII-XVIII.
Diâmetro
22 cm.
5 – Relicário
Relicário
de configuração oval contendo a relíquia do Santo Lenho, apresentando no centro
o desenho de uma cruz latina cercada de brilhantes.
Ouro
forrado a prata com aplicação de pedras preciosas.
Joalharia
Portuguesa.
Século
XVIII.
Diâmetro
19 cm.
6 – Resplendor
Resplendor
circular de prata revestido a ouro, encontrando-se no centro as figuras de um
cordeiro, um triângulo evocativo da Santíssima Trindade e de um cálice, píxide,
galhetas e pelicano. Na orla do diadema, desenham-se o trigo e a vide e os
símbolos do Martírio e da Paixão de Cristo organizados em oito grupos.
Prata
dourada e ouro com incrustação de diversas pedras preciosas, designadamente
diamantes, rubis, ametistas, topázios, safiras e esmeraldas.
Joalharia
portuguesa.
Século
XVIII.
Diâmetro
43 cm.
Altura
81 cm (com haste).
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