CATEQUESES QUARESMAIS DO BISPO DIOCESANO / II Reflexão

II Reflexão


«QUEM ME VÊ, VÊ O PAI» (Jo 14, 8)

«A misericórdia é a alma da Quaresma» (Cardeal-Patriarca). Tempo especial de graça, a Quaresma é o “momento favorável” da misericórdia divina. A chamada quaresmal à conversão é um apelo a voltar para Deus, para experimentar a Sua misericórdia e levá-la a toda a gente.

A misericórdia é o atributo principal de Deus, revelado em Jesus Cristo, através das suas palavras, gestos e, sobretudo, através do Mistério Pascal da Sua Paixão-Morte e Ressurreição

Jesus revela-nos o Deus-Amor, que é todo misericórdia. «Quem Me vê, vê o Pai» - adverte, dirigindo-se a Filipe, que Lhe pedira: «Mostra-nos o Pai» (Jo 14, 8). «Deste modo, em Cristo e por Cristo, Deus com a Sua misericórdia torna-se também particularmente visível; isto é, põe-se em evidência o atributo da divindade, que já o Antigo Testamento, servindo-se de diversos conceitos e termos, tinha chamado “misericórdia”. Cristo confere a toda a tradição do Antigo Testamento, quanto à misericórdia divina, sentido definitivo.

Não somente fala dela e a explica com a utilização de comparações e parábolas, mas, sobretudo, Ele próprio encarna-a e personifica-a. Ele próprio é, em certo sentido, a misericórdia. Para quem a vê n’Ele e n’Ele a encontra – Deus torna-Se particularmente “visível” como Pai “rico em misericórdia” (Ef 2, 4)…» (João Paulo II, Carta Encíclica Dives in Misericordia=DM, 1980, nº 2).

1.«Ninguém jamais jamais viu a Deus. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer» (Jo 1, 18). E deu-O a conhecer, precisamente, como o Deus-Amor, que é todo misericórdia. Foi o que nos ensinou, com a Sua vida e com as Suas palavras.

Admiráveis são as parábolas, com que ilustra a misericórdia divina, nomeadamente, as parábolas do Bom Samaritano (Cf Lc 10, 25-37) e a do Filho Pródigo (Cf Lc 15, 11-32):

- A Parábola do Bom Samaritano é a resposta à pergunta: quem é o meu próximo? «Não é qualquer pessoa que esteja longe, mas antes aquela de quem nos fazemos próximos, aquela com quem nos encontramos de uma forma concreta e que, na situação que vive, precisa da nossa ajuda. Jesus não prega o amor àqueles que estão longe, mas sim ao próximo, àqueles que estão perto de nós. Esse amor não fica sujeito a vínculos familiares, nem à amizade, nem à pertença a um determinado grupo religioso ou étnico. Concretiza-se na pessoa concreta que sofre e que tem necessidades e com a qual nos encontramos no caminho.

- «Jesus vai um passo mais além na Parábola do Filho Pródigo do Evangelho de Lucas … A Parábola do Filho Pródigo, que seria melhor denominar “Parábola do Pai Misericordioso”, reflete, com maior acuidade o que acaba de ser dito (cf Lc 15, 11-32). É certo que os termos “justiça” e “misericórdia” não aparecem na Parábola. Mas nela descreve-se o drama que se desenrola entre o amor do pai e a perdição do filho, que, vivendo de forma libertina e dissoluta, delapida a parte que lhe corresponde da herança paterna, perdendo assim os seus direitos filiais e a possibilidade de reclamar do pai aquilo que legalmente lhe correspondia…

«Em nenhuma outra Parábola Jesus descreve a misericórdia divina de modo tão magistral como nesta. Com a Parábola do Filho Pródigo, Jesus quer dizer:

assim como Eu atuo, atua também o Pai. Nesta Parábola, a misericórdia do Pai é justiça suprema. Também caberia aqui afirmar: a misericórdia é mais perfeita realização da justiça. A misericórdia de Deus leva o ser humano a “regressar à verdade acerca de si mesmo” (DM 6)…» (Walter Kasper, Misericórdia, Condição Fundamental do Evangelho e Chave da Vida Cristã, Lucerna, 2015, pp.89-90).

2.Mas não foi apenas por palavras que Jesus revelou a misericórdia divina. Não se limita a falar da misericórdia do Pai. Vive o que anuncia, passando a vida, fazendo o bem (cf Actos):

• «Sente compaixão pelos numerosos enfermos (cf Mt 14, 14);

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