MENSAGEM PASCAL 2015 DE DOM ANTÓNIO DE SOUSA BRAGA, BISPO DE ANGRA
O
MISTÉRIO PASCAL: MÁXIMA REVELAÇÃO DA MISERICÓRDIA
Depois
da caminhada quaresmal, chegamos à Semana Santa e à Páscoa, celebração da
Paixão-Morte e Ressurreição de Jesus. Efetivamente, é no Mistério Pascal de
Cristo que se dá a máxima expressão da misericórdia divina.
Como
muito bem explica S. João Paulo II, «Cristo Pascal é a encarnação definitiva da
misericórdia (…). O Mistério Pascal é
Cristo na cúpula da revelação do imperscrutável Mistério de Deus. É
precisamente então que se verificam plenamente as palavras pronunciadas no
Cenáculo: “Quem Me vê, vê o Pai”» (Jo 14, 9).
«De
fato, Cristo, a quem o Pai “não poupou” (Rm 8, 32) em favor do homem e que na
Sua Paixão, assim como no suplício da Cruz, não encontrou misericórdia humana,
na Ressurreição revelou a plenitude daquele amor que o Pai nutre para com Ele e
n’Ele para com todos os homens (…). O amor, contendo a justiça, dá origem à
misericórdia, a qual, por sua vez, revela a perfeição da justiça» (Encíclica
Dives in Misericordia, 1980, nº 8).
Assim,
quando falamos de misericórdia não estamos a relativizar a justiça. «A Bíblia supera o clamor pela justiça com o
apelo à misericórdia. Ela entende a misericórdia como a própria justiça de
Deus. Enquanto superação da justiça e não como relativização da mesma, a
misericórdia constitui o núcleo da mensagem bíblica. O Antigo Testamento
apresenta Deus como um Deus clemente e misericordioso (cf Ex 34, 6; Sl 86, 15;
etc.) e o Novo Testamento chama a Deus “o Pai das misericórdias e o Deus de
toda a consolação» (“ Cor 1, 3; cf Ef 2, 4)» (Card. Walter Kasper, A Misericórdia,
Condição Fundamental do Evangelho e Chave da Vida Cristã, Lucerna, 2014, p.
30).
Jesus
revela o Deus-Amor, que é todo misericórdia e só misericórdia: em toda a Sua
vida, em que passou fazendo o bem (cf Actos) e, sobretudo, com a entrega total
na Cruz, que culmina na Ressurreição, que é a vitória da vida.
«O
Seu caminho é também o nosso caminho» (Regra de Vida SCJ). Por mais paradoxal
que possa parecer, é pela Cruz que se atinge a vida em plenitude. Não a cruz
pela cruz, mas a Cruz, assumida e vivida com Cristo e como Cristo, como caminho
que leva ao triunfo final. Com Ele e n’Ele também nós venceremos a morte e tudo
o que oprime o ser humano.
Por
isso mesmo, o Mistério Pascal de Cristo traz a esperança certa de um mundo
melhor e diferente, que nos compromete a dar o nosso contributo pelo progresso
da civilização humana.
Jesus,
com o Mistério Pascal, veio tornar possível o Reino de Deus: Reino de Justiça,
Amor e Paz. «Como já afirmava O Papa Paulo VI e foi repetido tanto por João
Paulo II, como por Bento XVI, é necessário construir, para além de uma cultura
da justiça, uma «civilização do amor». É, desta forma, que a Igreja e os grupos
eclesiais podem, de alguma forma, contribuir para a humanização da sociedade e
do sistema social (…).
«A
vida humana e uma sociedade verdadeiramente humanitária não são possíveis sem
amizade, comunidade, solidariedade e, justamente, misericórdia… O amor e a
misericórdia têm o seu lugar, antes de mais, nas relações humanas de
proximidade. Mas também são uma condição fundamental e indispensável para a
convivência no seio de um povo, assim como entre os povos» (Card. Walter
Kasper, Ibid., p. 237-238).
Nesse
sentido, são claras as palavras do Papa emérito, Bento XVI: «O amor – caritas –
será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. Não há qualquer
ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor. Quem
quer desfazer-se do amor prepara-se para se desfazer do homem enquanto homem.
Sempre haverá sofrimento, que necessita de consolação e ajuda. Haverá sempre
solidão. Existirão sempre também situações de necessidade material, para as
quais é indispensável uma ajuda, na linha de um amor concreto ao próximo»
(Bento XVI, Deus Caritas Est, 2005, 28b).
«O
amor, contendo a justiça, dá origem à misericórdia, a qual, por sua vez, revela
a perfeição da justiça» (DM 8). Eis o que realiza e continua a realizar o
Mistério Pascal de Cristo. A Ressurreição de Jesus é um novo tipo de presença
no meio de nós: uma presença “espiritual”, que se realiza, precisamente, pelo Espírito
Santo, que Jesus prometeu enviar e envia, para estar sempre connosco até ao fim
dos tempos, para que a Igreja possa cumprir o mandato missionário de anunciar e
testemunhar o Evangelho em todo o mundo, qual fermento que leveda a massa.
Não
será a lógica do marxismo ou do capitalismo liberal que vai levar a uma
sociedade mais humana, justa e fraterna. O mundo será diferente só na medida em
que enveredar pelo caminho do amor, que tem a sua máxima expressão na
misericórdia, isto é, na capacidade de ter “compaixão”: ser capaz de
“padecer-com”, de se colocar no lugar do outro e de assumir a sua situação. Com
Cristo e como Cristo. N’Ele já vencemos todo o mal e a morte.
Por
isso, é Páscoa: triunfo da misericórdia. Votos de Boa Páscoa a todos,
nomeadamente, para quem mais sente o peso da cruz da vida. Sinto-me em comunhão
com todos/as. A operação correu bem e vou recuperando lentamente. Dando graças
a Deus, quero também exprimir o meu reconhecimento a todos aqueles/as, que me
acompanharam com a sua oração e amizade, com as suas mensagens e votos. Na
impossibilidade de me dirigir a cada um/a em particular, aproveito esta
oportunidade para agradecer a todos/as. Bem haja!
Força,
coragem e esperança! O Senhor Jesus ressuscitou por nós e para nós. Aleluia!
+
António, Bispo de Angra
Alfragide,
25 de Março de 2015,
Solenidade
da Anunciação do Senhor.
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