OUVIDORES SUBLINHAM IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DA REALIDADE DIOCESANA COMO FORMA DE DESCONSTRUIR PERIFERIAS
Reunião
de ouvidores realizou-se esta sexta feira, depois de terem terminado os
trabalhos da 40ª assembleia plenária do Conselho Presbiteral na diocese de
Angra
Depois
da ouvidoria ter sido identificada como a “a melhor estrutura” a promover
iniciativas e “a congregar o clero” pelo Conselho Presbiteral, onde têm assento
também os responsáveis pelos Serviços e Comissões diocesanas, os 14 ouvidores
que estiveram presentes na 40ª Sessão Plenária deste órgão de consulta do
prelado diocesano fazem um balanço positivo dos trabalhos.
Esta
sexta feira estiveram reunidos com o Vigário geral, Cónego Hélder Fonseca
Mendes, e, em declarações ao Sítio Igreja Açores, os 14 dos 16 ouvidores que
integram a Diocese de Angra sublinham a importância da “radiografia” feita à
realidade açoriana, aos níveis eclesial e social, como instrumento de partida
“para um melhor trabalho futuro”.
“Foi
essencial a radiografia que fizemos à vivência pastoral” e apesar “do negativismo
com que muitas vezes vemos estas questões quer no que respeita ao trabalho dos
leigos quer o do clero, foi essencial esta análise para projetarmos o futuro
com esperança”, disse o ouvidor das Flores, Pe Davide Barcelos que este ano
lidera uma das comemorações mais importantes a nível local, na diocese,
que são os 500 anos da igreja das Lajes.
“Só
podemos avançar quando conhecemos o nosso ponto de partida e por isso esta
radiografia foi muito importante”.
Também
o ouvidor do Nordeste, na ilha de São Miguel, Pe Agostinho Lima, destacou a
“radiografia muito completa quase ao jeito de um exame de consciência, que nos
ajudou a compreender a nossa realidade e nos deve fazer refletir com serenidade
mas muito maduramente”.
O
Conselho Presbiteral, que terminou ontem em Ponta Delgada teve como ponto
essencial a análise da realidade diocesana, traçada a partir de uma
“radiografia” tirada pelas estruturas intermédias da diocese. O documento
identificava algumas fragilidades que afetam não só as comunidades em geral, como
o clero, em particular.
“Temos
de continuar a trabalhar no terreno. Somos uma diocese descontinua e temos a
consciência que isso exige mais de nós”, frisa o ouvidor dos Fenais da Vera
Cruz, Pe Carlos Simas, lembrando que o grande desafio “hoje e sempre é envolver
os leigos e evangelizar a religiosidade popular”.
Aliás,
o ouvidor das Capelas, Pe Horácio Dutra, destacou a este propósito a presença
de duas leigas no Conselho, na manhã de estudo, como “um caminho que tem que ser
intensificado e valorizado”, porque a Igreja precisa de “leigos formados que
tragam outras leituras da realidade”.
“Este
conselho foi muito positivo porque deu para perceber as diferentes realidades
dos açores e da igreja em saída missionária, procurando colocar o evangelho em
prática”, disse o Pe Horácio Dutra.
O
sacerdote refere mesmo que “a dinâmica a que D. António de Sousa Braga nos
exortou, pedindo-nos constantemente para estarmos junto das pessoas, dos que
sofrem, dos excluídos daqueles que precisam efetivamente veio-nos trazer
imensos desafios para os quais precisamos de mais formação”.
“Se
não tivermos leigos formados serão sempre nossos colaboradores mas não serão
responsabilizados e este é o grande desafio que se coloca à nossa igreja:
termos mais leigos responsáveis”, acrescenta o ouvidor da Povoação, Pe Ricardo
Pimentel, o mais novo no cargo, já que assumiu a liderança da ouvidoria no início
do novo ano pastoral.
O
representante da Ouvidoria de Santa Cruz da Graciosa, Pe Carlos Santo, diz
mesmo que este conselho “deu a certeza de que há esperança e formação
suficientes para responder aos desafios”.
“Uma
oportunidade” para “percebermos como cada ilha vê, percebe, entende e vive a
igreja”, diz o ouvidor da Horta, Pe Marco Luciano, a propósito deste Conselho
Presbiteral, que uma vez mais evidenciou “que temos alguma dificuldade para
lidarmos com aquilo que efetivamente somos”.
“Nós
somos peritos em apontar o que está mal mas temos alguma dificuldade, o que é
um reflexo da igreja do nosso tempo em propor e indicar caminho” diz o
sacerdote, “mas temos de ser capazes de arriscar e pensar que podemos fazer
parte de um caminho novo e para isso precisamos de fazer um esforço para nos
despirmos de uma certa roupagem que nos prende e ainda nos amarra”.
Destacou
a religiosidade popular “como um caminho da igreja nos Açores, que tem de ser cada
vez mais ligado ao conteúdo bíblico”.
“Nós
vamos entrar no jubileu da misericórdia. Há aspetos nas nossas ilhas, que já
nos ligam à misericórdia como o Espírito Santo, e isso tem de ser valorizado,
porque é a nossa identidade”, refere o sacerdote.
Uma
ideia secundada pelo ouvidor da Lagoa, Pe Pedro Coutinho.
“São
Miguel tem uma componente de forte religiosidade popular que faz parar a vida
das comunidades e nos permite respirar ainda um clima de alguma cristandade,
então temos de saber aproveitar isso dando-lhe um conteúdo mais profundo” disse
o sacerdote elogiando a criação de um Instituto Católico de Cultura, “o que foi
muito positivo”.
“Vamos
ter grandes desafios neste ano jubilar da Misericórdia, não só em termos do
sacramento da Reconciliação mas, sobretudo, ao nível das obras da Misericórdia”
refere o ouvidor de Vila Franca do campo, Pe António Cassiano, que diz que o
próximo ano pastoral, tal como ficou expresso no comunicado final do Conselho
Presbiteral, tem “orientações claras” mas “podemos correr o risco de nos faltar
mão de obra”.
“Nas
paróquias somos cada vez mais os mesmos a fazer tudo e há um cansaço que
desmotiva e nos afasta muitas vezes”, reconhece o sacerdote que dirige um dos
dois jornais de inspiração cristã na diocese, A Crença.
O
ouvidor de Santa Maria destaca o período que a igreja vive nos Açores “não só
de maior avaliação, mas também de mudança dado o próprio contexto em que há um
Bispo que está de saída e outro que está para entrar”.
O
Pe Vitor Arruda, que é ouvidor de Santa Maria há três anos, sublinha a
vitalidade diocesana, sobretudo a partir de cada uma das suas unidades.
“A
nossa perceção da diocese varia muito de lugar para lugar mas isso não nos deve
impedir de trabalhar e essa é talvez a maior certeza que levamos deste
conselho”, referiu
“Levamos
a certeza de que com este bispo ou com outro quem está no terreno tem que
trazer o evangelho para a vida das pessoas. Não temos uma diocese ideal mas
temos muita gente válida e estas orientações vão ser importantes para o novo
prelado”, conclui o sacerdote.
O
ouvidor de Ponta Delgada, Cónego José de Medeiros Constância, reconhece também
a importância “útil” desta avaliação que “é difícil” porque “ou se faz de uma
maneira evangélica ressalvando os aspetos positivos e também os negativos ou
faz-se à maneira empresarial” e, por vezes, “corremos o risco de não sermos
compreendidos”.
“Gosto
mais da avaliação à luz da fé; e afinal fazemos coisas muito positivas”,
acrescentou o sacerdote, regozijando-se pelas referências feitas às ouvidorias
enquanto estruturas intermédias na diocese.
Quanto
ao futuro “estamos tocados por uma transição de ministério episcopal, mas para
o próximo ano, o caminho está identificado – misericórdia, família, imagem
peregrina, já temos campo para desenvolver a nossa ação”, conclui.
Também
é essa a convicção do ouvidor eclesiástico do Pico, Pe Marco Martinho.
“A
análise crítica das ouvidorias despertou-nos para a realidade e motiva-nos, por
outro lado, para avançarmos”.
“Temos
de continuar a trabalhar e não ficar presos a condicionalismos que não dependem
de nós”, acrescentou o ouvidor da ilha Terceira que salienta a dinâmica do
Conselho Presbiteral como forma de “partilha e de conhecimento mutuo tão
importantes numa diocese dispersa” por nove ilhas.
A
reunião dos ouvidores que decorreu esta sexta feira no Centro Pastoral Pio XII,
em Ponta Delgada, culminou uma semana de trabalhos dos mais altos responsáveis pela
diocese de Angra.
Comentários
Enviar um comentário