“SÓ QUANDO OS NAVIOS DE CRUZEIROS TROPEÇAREM NOS MORTOS A EUROPA ACORDARÁ PARA O FENÓMENO DA EMIGRAÇÃO”
Teólogo açoriano
aponta baterias à falta de estratégia da Europa em relação ao Mediterrâneo
Se
a Europa não for capaz de ajudar os países africanos e os do Médio Oriente a
encontrarem soluções duradoiras de paz, não estará a cumprir a sua missão,
disse esta terça feira o teólogo açoriano, Pe Júlio Rocha, durante o segundo e
último dia de formação de agentes pastorais da ouvidoria das Capelas, na ilha
de São Miguel.
Consternado
pela “catástrofe” que transformou o mar Mediterrâneo “num grande cemitério
humano” o sacerdote juntou a sua voz à do Papa Francisco e apelou aos políticos
para atuarem “rapidamente” na busca de soluções que “preservem a dignidade
humana”.
“A
Europa, e Portugal ajudou, enriqueceu e satisfez-se à custa das riquezas que
vieram de Àfrica, da Ásia e das Américas. Enchemo-nos com o tráfico de escravos
e com as madeiras preciosas e agora fechamos as portas a quem pura e
simplesmente procura uma terra onde possa sobreviver e garantir o sustento dos
filhos”, disse o professor de Teologia Moral no Seminário Episcopal de Angra.
“É
imprescindível que os nossos dirigentes ajudem esses povos a encontrarem formas
de paz duradoira para evitar o êxodo dessas populações que fogem com medo da
guerra e a falta de condições de subsistência”, acrescentou ainda o Pe Júlio
Rocha, lembrando o discurso do Papa na ilha italiana de Lampedusa, principal
porta de entrada de imigrantes clandestinos, na Europa.
“Ser
solidário não é escancarar as portas da Europa mas é ajudar os povos a
construir a paz; olhar para estes migrantes e ver que são nossos irmãos. Mas,
infelizmente, temo bem que só acordemos para esta tragédia quando os nossos
belos navios de cruzeiro do mediterrâneo começarem a tropeçar nos corpos destas
pessoas mortas”, concluiu.
Durante
a conferência que proferiu, a partir da exortação apostólica A Alegria do
Evangelho, o teólogo identificou os 10 “grandes sinais” do programa do
Pontificado de Francisco, marcado pela “simplicidade dos gestos e do
testemunho” que transformam a sua mensagem “em verdade e autenticidade” com as
quais abriu “avenidas de comunicação”, com sucessivos apelos à Paz e à
Misericórdia.
O
sacerdote sublinhou os desafios constantes do Papa à igreja para que promova o
encontro, “incluindo e não excluindo” e a necessidade do cristianismo se
recentrar em Jesus.
“Jesus
é o centro. O objetivo da igreja não é salvar almas, quem as salva é Deus. Ele
é a razão da nossa fé, a razão pela qual fazemos igreja”, ressalvou o teólogo,
retomando uma ideia deixada no dia anterior.
O
Pe Júlio Rocha passou em revista as 15 doenças identificadas pelo Papa
Francisco, apontando-as como “doenças de que todos nós padecemos” e apelou a
uma igreja em saída missionária, que privilegie sempre “os mais desfavorecidos”,
aqueles que “são marginais na sociedade”.
“A
igreja tem que ser uma igreja dos pobres como refere o Papa e enquanto não
virmos no nosso irmão que sofre o rosto de Jesus o nosso cristianismo não será
mais do que um cristianismo celebrante”, disse o sacerdote frisando que a
“eucaristia é o centro da vida cristã mas é preciso que ela se prolongue pelo
resto do tempo e sirva de inspiração para a ação”.
Esta
formação que contou ao longo dos dois dias com mais de 200 pessoas, numa
ouvidoria marcada por comunidades muito pequenas, insere-se nos desafios
pastorais diocesanos.
“Esta
formação acontece numa altura em que somos desafiados a sair em missão e também
percebermos que a igreja está desperta para os problemas do mundo e que cada
vez mais estão dentro da nossa casa”, disse ao Sitio Igreja Açores o ouvidor Pe
Horácio Alves.
“Hoje
não podemos ficar fechados dentro da igreja e a forma de vencermos as barreiras
geográficas e da disposição é promovermos estes encontros onde todos possam
estar e dialogar entre si fortalecendo-se como igreja”, sublinhou o sacerdote
que é um dos mais novos ouvidores da diocese, liderando uma equipa de
sacerdotes também jovem.
Fonte:
Igreja Açores
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