MULHERES SIMPLES “ENRAIZADAS NO AMOR A JESUS”
Irmãs Doroteias
servem duas ouvidorias em São Miguel, onde estão há 22 anos
Se
a vida na terra fosse tão longa quanto no Céu, Paula Frassinetti comemoraria
esta quarta feira, dia 12 de agosto, 181 anos da congregação das Irmãs de Santa
Doroteia, que com seis companheiras, fundou em agosto de 1834, cumprindo “a
vontade de Deus, o seu paraíso”.
E
foi tal o seu compromisso que hoje, mesmo sem ela, a congregação continua a
missionar de acordo com o seu carisma: “mulheres de fé, enraizadas no amor de
Jesus Cristo, apaixonadas pela urgência de educar para a transformação do mundo
em Família de Deus”.
Hoje
são pouco mais de 200 em Portugal porque a “crise de vocações também bateu à
nossa porta” diz a Irmã Judite Moinheiro, coordenadora da comunidade Doroteia
que serve na diocese de Angra há 22 anos, com a presença de três religiosas.
A
fundadora cresceu e viveu numa época de forte e violento choque entre antigas e
novas ideologias e não foi indiferente ao seu tempo. Tal como estas três
religiosas atentas aos sinais do mundo, integradas na comunidade e vistas como
verdadeiras irmãs, sem hábito.
“Nós
estamos onde é preciso estar, de forma muito próxima. A nossa prioridade é a
educação. E continua a ser, porque entendemos que só assim podemos promover o
Homem, a sua dignidade enquanto pessoa”, refere a Irmã Maria do Rosário,
natural de Vila de Rei, na Diocese de Portalegre-Castelo Branco.
Esta
disponibilidade de “servir com simplicidade” como a fundadora queria, faz com
que os dias das religiosas desta congregação sejam tudo menos rotineiros.
Divididas entre a oração matinal, os trabalhos diários seja nos centros
educativos seja nas instituições particulares de solidariedade social e o
trabalho pastoral “era bom que o dia tivesse mais do que 24 horas pois ás vezes
parece que o tempo não chega” diz a Irmã Maria Amélia, natural da guarda e a mais
velha das três religiosas da congregação que está em São Miguel, repartindo a
sua atividade entre as ouvidorias do Nordeste e de Fenais da Vera Cruz.
As
Irmãs Doroteias gerem o Centro Comunitário Cais de Remar, nos Fenais da Ajuda e
residem na Salga. Mas limitar a sua ação desta forma pode parecer redutor.
Sobretudo depois de percebermos o alcance do seu trabalho.
“De
manhã fazemos a oração comunitária e cada uma parte para o seu trabalho” diz
com simplicidade familiar a Irmã Maria Amélia que tem a seu cargo o pelouro dos
idosos. Trabalha na Santa Casa da Misericordia da Maia, apoia os idosos da
Salga e visita regularmente os mais velhos destas duas comunidades, incluindo
também os Fenais da Ajuda, com quem passeia, de quem ouve os desabafos, proporcionando-lhos
um ombro consolador.
“Estas
pessoas vivem muito sozinhas e a minha missão é despertá-las”, diz.
“Se
nós fizermos com que as pessoas percebam e descubram o quanto são amadas por
Deus já estamos a cumprir a nossa missão porque é esta descoberta que nos
conduz à felicidade”, acrescenta a Irmã Maria do Rosário que, tal como a Irmã
Judite Moinheiro, está a “tempo inteiro” no Centro Comunitário Cais de Remar.
Trata-se
de um projeto de intervenção social, na lógica dos projetos de solidariedade
social desenvolvidos pela Congregação, que atende toda a comunidade mas está
particularmente focado nas mulheres.
“Se
a mulher souber qual é o seu lugar e estiver equilirada contribuirá em larga
medida para o equilibrio do lar” diz a Irmã Judite sublinhando que no Remar ela
aprende a cozinhar, a costurar, e valoriza-se abrindo horizontes quer através
dos ensinamentos que recebe quer através dos contatos que lhe são
proporcionados nas visitas de estudo e através das pessoas que orientam
palestras e ações de formação.
Além
disso, no Cais de Remar as Irmãs dão apoio a toxicodependentes, sobretudo
“somos a ponte com a familia que muitas vezes os abandona por cansaço”;
apoiamos as crianças nos trabalhos de casa e jovens e adolescentes, sempre na
perspetiva de lhes abrirmos horizontes”.
Além
do trabalho social concreto “servimos também de encaminhamento para outras
instituições com quem temos parerias- como a Cáritas_ e isso faz com que essas
instituições e essas valências cheguem a estas pessoas”, remata a Irmã Judite
Moinnheiro, que está há cinco anos nos Açores.
Há
no entanto um trabalho de raíz que estas religiosas vão desenvolvendo:
“procuramos estimular crianças para as missões (projeto infância missionária)
despertando-lhes sentido de entreajuda, de solidareidade e sobretudo um sentido
critico para que sejam agentes ativos na evangelização e na ajuda ao outro”,
recorda a Irmã Judite que, a este propósito, destaca o trabalho feito na ajuda
a Moçambique.
A
comunidade fixou-se primeiro na Maia e só há dois anos reside na Salga, no
Nordeste. Atualmente, em Portugal, as Irmãs Doroteias têm 26 comunidades e
constituem uma província. No território nacional só não estão presentes na
Diocese do Funchal.
O
Governo Central está em Roma, onde reside a Superiora Geral, que tem um
conselho com representantes de cada zona geográfica dos quatro continentes onde
as Doroteias estão presentes.
Em
Portugal, a Casa Provincial é em lisboa;
cada comunidade tem uma coordenadora responsável e é visitada anualmente
pela Superiora Provincial.
As
Irmãs Doroteias fazem a sua formação inicial em três anos- um ano de
postulentado e dois de noviciado- findos os quais fazem os primeiros votos,
renovados de dois em dois anos até um máximo de nove. Habitualmente, fazem um
retiro anual de oito dias, apostando na formação contínua quer em termos
religiosos quer em termos académicos, “sempre de acordo com as necessidades das
províncias onde estão inseridas”.
Esta
família religiosa apostólica, de origem italiana, chegou a Portugal em 1866.
“Sentimo-nos
responsáveis por dar continuidade à obra iniciada por Deus e por mantê-la viva
em fidelidade ao Evangelho e às exigências do mundo de hoje. Procuramos
incarnar as escolhas fundamentais com que Paula marcou a nossa Família desde os
inícios: a pobreza – o maior serviço – a espiritualidade inaciana”, diz o Sítio
da Internet da Congregação. Aliás, a estrutura interior de Doroteias, formada
na Escola do EE de Santo Inácio, exige a “mais perfeita abnegação e uma
generosidade sempre maior que só a familiaridade contínua com Deus pode
alcançar”.
Um
dos lemas desta espiritualidade é “ Nada negar ao Senhor para sermos
instrumentos aptos para a glória de Deus”.
O
trabalho das Doroteias é sempre coordenado em termos paroquiais e diocesanos e
é na paróquia que encontram a “alegria de se darem aos outros, a todos, vivendo
num grupo alargado”.
Das
Constituições da Congregação, de 1851, fica um outro lema bem presente na ação
Doroteia: “Educar bem as crianças é reformar o mundo e conduzi-lo à verdadeira
vida”.
Santa
Paula Frassinetti nasceu e foi batizada em Génova em 1809, funda a Congregação
em 1834 e em 1866 envia as primeiras missionárias para o Brasil e para
Portugal. Morre com 73 anos, em 1882. Nove anos depois inicia-se o processo
ordinário sobre a fama de Santidade; em 1930 é beatificada pelo Papa Pio XI e
canonizada em 1984 pelo Papa João Paulo II.
As
Doroteias constituem uma das 15 congregações que trabalham atualmente na
Diocese de Angra.
Fonte:
Igreja AÇores
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