GENTE COM ALMA
É com grande
alegria que me associo ao centenário da Ouvidoria da Povoação, unindo a voz e a
alma ao Te Deum que as comunidades
cristãs, orientadas pelos seus pastores, elevam ao Deus vivo e verdadeiro que
vive na comunhão excelsa do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
As primeiras
memórias das terras da Povoação encontro-as na minha infância. Sendo natural de
Ponta Garça sempre ouvi falar das
magníficas festas que se celebravam para lá da lagoa das Furnas.
Fica na memória o ouvir falar da Primeira Dominga nas
Furnas, com os seus artísticos tapetes de flores em louvor do Santíssimo
Sacramento, das Festas do Corpo de Deus que se realizavam na longínqua Vila da Povoação; das Festas
da Senhora Santa Ana nas Furnas e das Festas de São Paulo que se realizavam na
vizinha Ribeira Quente.
Mesmo sem
participar nestas religiosas festividades sabíamos bem as suas datas e vivíamos
à distância o seu pulsar festivo.
Depois de ser Padre
tive a oportunidade de tomar parte nalgumas das festas da Ouvidoria da Povoação
e apreciei a grandeza da alma das suas
gentes.
Momento encantador
e solene – o qual guardo na minha melhor memória – foi a participação na Festa
em honra do Corpo de Deus no ano de 2014.
Vi, com a alma em
festa, a forma simples e solene como esta gente
com alma foi capaz de louvar o Senhor Jesus – o arco-íris dos tapetes, o
silêncio da fé e os harmoniosos acordes da música, louvavam a Deus de forma
sublime.
Relembro também,
com gostosa saudade, as duas vezes em que tive a oportunidade de tomar parte nas
Festas em honra do Apóstolo São Paulo – as quais se celebram na freguesia da
Ribeira Quente, em cada ano, no último dos domingos de Setembro.
Aí contemplei as
saudosas lágrimas de quantos viviam do mar, senti no peito o desejo da divina
protecção ante uma vida laboriosa e cumprimentei, de forma afectuosa, tantas
mãos calejadas por um trabalho difícil e árduo.
Gosto de dizer que
o nosso Povo é Gente com Alma – sentem a presença de Deus na sua vida e invocam,
com uma estranha simplicidade, a
misericórdia do Senhor sobre a família e sobre o trabalho – não tem vergonha de
chorar perante as imagens de um Deus maior, nem temem se descalçar sobre uma
terra que é sagrada.
Por tudo isto – e
pelo muito mais que as palavras não são capazes de expressar – estou grato por
ter contribuído, com uns meros rascunhos, para esta história sublime de 100
anos de Ouvidoria e de caminhada cristã.
Desta Ilha de São
Jorge, estendida sobre o Atlântico, envio a todos os Presbíteros e a todos os
Irmãos em Cristo Senhor um abraço afectuoso.
Ilha de São Jorge,
22 de Abril de 2016
Padre Alexandre
Medeiros é pároco em São Jorge
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