HOMILIA DO SR. VIGÁRIO GERAL - CENTENÁRIO DA POVOAÇÃO
Homilia
do 5º domingo da Páscoa
Centenário
da Ouvidoria da Povoação
Senhor
Ouvidor da Povoação
Senhor
Pároco da Matriz da Povoação
Senhores
Ouvidores Eméritos da Povoação
Senhores
Párocos das freguesias da Ouvidoria da Povoação
Senhores
Padres naturais do concelho da Povoação
Excelentíssimas
Autoridades Regionais, Municipais e das Freguesias locais
Irmãs
consagradas e seminaristas
Membros
desta assembleia do Povo de Deus que vive na Povoação
A
Páscoa é o tempo da comunidade cristã. Longe vão os diais em que a quaresma
esgotava as forças dos crentes em práticas penitenciais. Sem desvalorizar
estas, redescobrimos, nos últimos 50 anos, que a Igreja encontra a sua
verdadeira origem e fundamento na experiencia pascal. A experiencia de que
Jesus está vivo infunde, por meio do seu Espirito a audácia para anunciá-Lo por
todas as partes da terra.
O
processo catecumenal culmina com a celebração dos sacramentos do batismo, do
crisma e da eucaristia. É com o Pentecostes que começa a Igreja no seu ser e
agir. Assim começa também a vida das pessoas que aderimos de coração a Jesus e
nos incorporamos dentro da missão da comunidade que nos acolhe, ajuda e anima a
participar na tarefa de evangelização. Repare-se, aliás, como este tempo pascal
ou do Espirito Santo é rico na Igreja: em batismos, crismas, na Eucaristia com
a festa da primeira comunhão e do Corpo de Deus, as festas da catequese com
celebrações de inspiração catecumenal, as domingas com as suas corações, as
festas do Senhor Santo Cristo, do Senhor Espirito Santo e da Santíssima Trindade,
e ainda o centenário da Ouvidoria que poe todas as comunidades em
movimento.
Depois
das aparições do Ressuscitado (1ºs. três domingos da Páscoa), e da apresentação
de Jesus como o Bom Pastor (4º. Domingo), as leituras deste domingo têm tema
global a circularidade do amor que abraça na unidade, o Pai, o Filho, o
Espirito e a Comunidade. A Igreja vive da comunhão do Pai do Filho e do
Espirito Santo, participando da sua própria vida, conforme primeiro nos é
comunicada.
Temas
como a eleição divina (recorde-se hoje o termo da semana das vocações), os
ministérios na comunidade, também encontramos nos textos bíblicos o que
fundamenta a igualdade única de que participamos e os variados carismas e
ministérios que sentimos e precisamos. Essa é a riqueza da Igreja: universal e
livre, atenta à situação Ucrânia e aos refugiados da Síria, de implantação
Local como é o caso dos Açores, atenta a cada ilha, participando do mesmo
Espirito Santo, do mesmo Evangelho, da mesma Eucaristia, do mesmo Bispo, e da
comunhão com todas as outras Igrejas locais. É tão próxima como uma Lomba, uma
Paróquia ou uma Ouvidoria.
Não
resta dúvidas que depois de Nossa Senhora dos Anjos em Santa Maria, tendo sido
da lá avistada a ilha de São Miguel, os primeiros povoadores entraram por este
lugar a que chamaram de Povoação, dedicando-o a Maria como Mãe de Deus (o
primeiro e mais importante dos dogmas marianos), a que ficou associada a igreja
mãe da futura vila, sem esquecer a velha matriz de Nª. Sª. do Rosário e ainda
Nª. Sª. das Graças no Faial da Terra, Nª Sª. dos Remédios na Lomba do Loução,
Nª. Sª. da Penha de França em Água Retorta, Nª. Sª. da Alegria ou Santa Ana nas
Furnas e o Apostolo São Paulo na Ribeira Quente.
A
24 de Abril de 1916, D. Manuel Damasceno da Costa, bispo de Angra, há poucos
meses, desejava «podermos com maior facilidade e eficácia exercer a nossa
atividade pastoral na vasta ilha de São Miguel por intermédio dos nossos
representantes, os muito reverendos ouvidores, que melhor poderão também
cumprir os graves encargos que lhes estão inerentes a ainda porque mais
favorecidos ficam os fiéis em todos os serviços que daquelas autoridades
dependem», e decide «havemos por bem elevar a sete as Ouvidoras daquela ilha
que ficaram formadas pelas paróquias e curatos constituídos do seguinte mapa:
«3ª. Ouvidoria: «Ribeira Quente, Furnas, Nossa Senhora Mãe de Deus, Lomba do
Loução, Faial da Terra, Agua Retorta».
Depois
das antigas Ouvidorias de Vila Franca do Campo, Ribeira Grande, Ponta Delgada e
Nordeste, surgem então Povoação, Capelas e Fenais de Vera Cruz, hoje em
festa.
Só
a 8 de abril de 1984, D. Aurélio Granada Escudeiro eleva para oito as
ouvidorias de São Miguel, criando a mais jovem ouvidoria da Diocese açoriana -
a da Lagoa.
Finalmente,
a 13 de julho de 2013, D. António de Sousa Braga trata das ouvidorias de São
Miguel corrigindo todas, exceto Capelas e Povoação, que mantem a sua
constituição original, o que demonstra que o decreto de 1916 foi ajustado até
ao presente.
Nos
documentos mais recentes do Magistério da Igreja no século XXI, as ouvidorias
devem ser constituídas na base de critérios de homogeneidade da índole,
costumes e condições sociais da população, bem com pela identidade geográfica e
histórica das paróquias agrupadas e por uma comunhão de interesses pastorais e
administrativos. Aliás, Vitorino Nemésio, contemporânea da época a que nos
referimos, preconiza que a geografia para nós vale tanto quanto a história. As
nossas unidades pastorais, como sejam as ilhas não são uma invenção humana ou
decisão administrativa, mas um dado que a própria natureza e cultura impõem.
Mas
então o que é uma ouvidoria, termo tão próprio e especifico da cultura
açoriana: Como o temo diz, é o lugar onde as pessoas se ouvem umas às outras e
o ouvidor tem a responsabilidade de fazer o ministério da síntese na comunhão
do povo com o Bispo. A ouvidoria é uma instância de encontro, que promove uma
experiencia comunitária mais alargada e rica do que acontece na vida do
dia-a-dia; uma oportunidade de formação, que as paróquias e organismos locais
nem sempre têm a possibilidade de proporcionar por si mesmos; uma ajuda para
melhorar a ação pastoral, desde a informação mútua, o intercâmbio de
experiencias, a coordenação das ações mais importantes, até á planificação
comum; é também uma plataforma missionária e de evangelização num tempo em que
a sociedade e a cultura têm necessidade da verdade e da força, da beleza e da
frescura do evangelho que converte o coração à pessoa de Jesus, sobretudo quando
Ele nos explica e Escritura e nos reparte o Pão da Vida. A Ouvidoria da
Povoação é constituída pela equipa sacerdotal, felizmente bastante jovem - e
onde há padres felizes há vocações sacerdotais e uma Igreja feliz - mas também
pelos consagrados e leigos, formando equipas de trabalho conforme os carismas e
as necessidades locais.
Estes
jubileus, como o da Misericórdia que estamos a viver, associados à feliz
memória da passagem da imagem peregrina da Nossa Senhora, em vésperas de outro
centenário, o de Fátima, fazem-nos muito bem. Estimulam, dão alento e alegria,
servem para ajuizar, planear e equacionar o futuro, Foi assim, há pouco tempo
com os 50 anos da construção da igreja a Nª. Sª. da Alegria na Furnas, dos 50
anos da criação da Fundação Maria Isabel do Carmo Medeiros, dos 50 anos da
inauguração da igreja de Nª Sª de Fátima na Lomba do Botão que se aproximam,
dos 50 anos instauração da figura de vigário episcopal de São Miguel, para a
qual a ouvidoria Povoação contribuiu, dos 60 anos da ordenação do Senhor Padre
José Fernandes que ocorre dentro de dias, dos 100 anos da construção da atual
igreja da Ribeira Quente, dos 160 anos da abertura ao culto desta igreja matriz
e dos 250 anos da conclusão da igreja dos Remédios da Lomba do Loução.
Não
podemos esquecer a ação social da Igreja desempenhada pela Santa Casa da
Misericórdia da Povoação, instituição que deve a inspiração e fundação ao
primeiro ouvidor, o Padre Ernesto Jacinto Raposo, pela Obra da Madre Clara, da
responsabilidade das Irmãs Hospitaleiras da Imaculada Conceição, das Irmandades
do Espírito Santo presentes em todas as comunidades, com destaque para o dia do
feriado regional na Lomba do Loução; e da ação de tantos Centros Sociais
Paroquiais, não são presentes por paróquia, mas por Lombas, com é o caso das
Lombas do Alcaide, do Carro, do Cavaleiro, do Pomar, do Botão, e dos Pós, e
ainda o apreço à Eucaristia, merecendo que o dia da festa do Corpo de Deus seja
considerado feriado municipal, felizmente agora reposto como feriado nacional.
Não
há dúvida de que a maior força de atração que possui uma comunidade cristã para
as pessoas de fora dela é ver como se amam e estimam os diferentes membros da
mesma, como se preocupam os mais fortes dos mais débeis, tal como numa família
quando os que podem cuidam das crianças, dos doentes, dos idosos, dos
desempregados. A ajuda que se recebe na comunidade não é interessada nem
interesseira. Não fazemos para que os outros nos façam - ainda que o testemunho
seja importante - mas resta a certeza de que quando precisarmos temos a
comunidade cristã que há-de encontrar uma resposta para nos valer. É uma
exigência enorme, mas o amor de Deus – de que a comunidade é o reflexo – nunca
se esgota. O modelo de referência é Jesus Cristo: «amai-vos uns aos outros como
Eu vos amei».
A
«cidade santa», de que nos fala a 2ª.leitura e o cântico de entrada não é um
lugar geográfico, porque o «reino de Deus já está dentro de vós» (Lc 17, 20),
mas está no coração dos simples, dos crentes, nas comunidades pobres e pequenas
que se comprometem com o evangelho. Esta cidade não desce do céu perfeita, está
a construir-se, a aperfeiçoar-se, cada dia se renova progressivamente.
E
nossa tarefa, isto é da Igreja, enxugar as lágrimas dos que choram, partilhar
as dores dos que sofrem, combater as causas da pobreza e de morte. É nosso
compromisso transformar as lombas e freguesias do concelho para que haja
alegria nas outras pessoas e a Povoação seja então o encanto de Deus.
Assim
seja, por mais cem anos.
Vila
da Povoação, 24 de abril de 2016
Hélder
Fonseca Mendes
Vigário
geral
Comentários
Enviar um comentário