O FURNENSE PADRE MANUEL ANTÓNIO PIMENTEL

Nascido na freguesia das Furnas, em 1939, na ilha de São Miguel, o Padre Manuel António Pimentel ordenou-se a 3 de junho de 1962, tendo depois ido para Roma, onde estudou Direito Canónico e Teologia Moral.

Depois de ter regressado à ilha Terceira foi, durante dois anos, professor do Seminário Maior de Angra do Heroísmo e em seguida esteve em São Miguel, durante três anos, onde foi Diretor Espiritual do Seminário Menor de Ponta Delgada.

Regressou à Terceira, voltando a lecionar no Seminário até ao ano de 1975, ano em que foi “expulso” daquela ilha, juntamente com outros três colegas (Padre Avelino Soares, Padre Olegário Paz e Padre António Moniz), por exigência de alguns lavradores terceirenses que se reuniram no Reguinho, no dia 18 de agosto daquele ano. A razão apresentada pelos lavradores para a transferência dos quatro sacerdotes “para fora dos Açores” foi a seguinte: “por estarem a fomentar o ódio no seio da comunidade católica desta terra”.

A sua ligação ao jornal O Trabalhador, a sua luta em prol dos pobres e oprimidos e os seus textos e entrevistas a vários órgãos da comunicação social terão sido a causa do pedido do seu afastamento por parte de alguns dos lavradores cujas reivindicações, na época, eram bastantes “politizadas”.

Sobre o seu pensamento em relação à sociedade açoriana após o 25 de Abril de 1974 transcreve-se, abaixo, um extrato de uma entrevista dada por ele ao jornal “República”:

“Parece que o 25 de abril está a representar para o povo açoriano a possibilidade e a esperança de “ser gente”, ouvida e respeitada nos seus direitos, e conseguir que a sua terra deixe de ser quinta útil a uma minoria de privilegiados e exploradores para ser a terra de todos.

Dada, porém, a despolitização existente o povo açoriano tornou-se presa fácil das manobras reacionárias que entrincheiradas, no medo e no anticomunismo, fazem crer que o 25 de abril não passou dum simples golpe de Estado. Em S. Miguel, por exemplo, o grau de despolitização e alienação é tal que o explorado chega, por vezes, a defender o próprio explorador”.

O Padre Manuel António Pimentel lutou ao longo da sua vida por uma sociedade mais livre e solidária, tendo-se empenhado no combate ao Estado Novo. Com efeito foi um dos subscritores da Declaração de Ponta Delgada, que mais não foi do que “a plataforma eleitoral com vista às eleições de 1969” e um dos dinamizadores da Cooperativa Sextante.

Sobre o combate ao Estado Novo, o Padre Manuel António explica, num texto publicado no livro “A oposição ao salazarismo em São Miguel e em outras ilhas açorianas (1950-1974) que o mesmo era mais do que a luta contra a ditadura pois tratava-se de “um projeto humanista e cultural, de cultura democrática e de anúncio da Boa Nova, a partir das aspirações profundas das chamadas camadas populares; um projeto que, na verdade, se aproximava muito das intensões fundamentais da teologia da libertação.”

Depois de 75, em França, o Padre Manuel António Pimentel trabalhou junto dos emigrantes portugueses, tendo nos anos oitenta sido assistente do Movimento dos Trabalhadores Cristãos.

Mais tarde, voltou a Portugal, onde foi pároco na diocese de Setúbal e, no ano 2000, por iniciativa do Bispo D. António de Sousa Braga regressou aos Açores, onde desempenhou a função de Vigário Episcopal para a Formação e, na delegação de Ponta Delgada, a de coordenador do Tribunal Eclesiástico.

Depois do seu falecimento a 10 de setembro de 2004, tem sido alvo de algumas homenagens. Assim, no dia 26 de janeiro de 2005, a Assembleia Legislativa dos Açores aprovou um voto de pesar pelo seu falecimento e a 14 de Setembro de 2014, em Setúbal, foi homenageado por amigos e colegas.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 3092, 28 de abril de 2016, p.12)

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