OPINIÃO: IRMÃOS DE SANGUE
“Não
tocar! É cristão!”, assim adverte um cartaz colocado no caixote de lixo, onde
estão os seus restos. Assim acontece repetidamente nos países onde se perseguem
cristãos.
Todos
os dias nos chegam notícias arrepiantes acerca daquilo que se faz aos nossos
irmãos. Já não sabemos o que pensar. No entanto, corremos o risco, diria mesmo,
o crime, da indiferença. “Silêncio cúmplice do ocidente”, como afirma o Papa
Francisco. Deparei-me há alguns dias com um vídeo que aconselho a ver:
Irmã
Guadalupe, das Missionárias do Verbo Divino, natural da Argentina, cheia de fé,
de vida e de sonhos, ofereceu-se para a missão do Médio Oriente, primeiro em
Belém, onde aprendeu o árabe. Em seguida, passou para o Egipto, e finalmente,
sentindo-se cansada depois de vários anos de entrega, pediu para ir para a
Síria, país tranquilo, de cultura milenar, exemplo de sã convivência entre
religiões e de exemplar prosperidade. Até que infelizmente rebentou o drama da
guerra. A história da sua vida e das suas histórias são arrepiantes, mas ela
sobreviveu para nos contar.
Falou-se
em primavera árabe, mas o que aconteceu foi a violência cruel de grupos de
terroristas, entre os quais o tão famigerado “estado islâmico” (não merece ser
escrito em maiúsculas). Destroem-se pessoas, culturas, património mundial,
famílias inteiras.
Depois
de começar a guerra, teve de falar com os pais pedindo-lhes autorização para
ficar. O pai disse-lhe: “o que se passa é estiveste com estas pessoas até agora
e vais abandoná-las quando mais precisam? Tens de estar aí. Isso significa dar
a vida, és missionária”. E acrescentou: “para além disso não pretendo de alguma
forma competir com Deus. Ele cuida de ti aí, melhor do que eu posso cuidar
aqui”.
Todos
os dias os habitantes de Alepo, cerca de cinco milhões, enfrentam a morte, sem
luz e água. Os hospitais e as escolas colapsaram. A cidade foi cercada, mas
nunca foi notícia. O ataque é permanente. As bombas “chovem” literalmente.
O
mais importante é que esses cristãos continuam a sua vida! Batizam-se, casam em
Igrejas sem tecto, continuam a ir à escola, a concretizar os seus cursos
académicos. Fogem com os apontamentos de estudo. Sofrem muito e rezam muito.
São persegui-dos e são mais fortes! Têm um segredo gigantesco: a fé. Estão mais
felizes que antes, quando tinham tudo. Vivem o mesmo Evangelho que vivemos nós:
“Perseguir-vos-ão”. Não deixam de sorrir…
A
Síria já tem cerca 12 milhões de refugiados, num total de 22 milhões de
habitantes. Como ela afirma, recolher os refugiados não é solução. Há que tapar
a “fábrica dos refugiados que é a guerra e a perseguição”. O seu discurso é
verdadeira denúncia! Pede simplesmente que não sejamos indiferentes, que
rezemos por eles.
E
nós? Preocupados com efemeridades, com detalhes, com comodidades
insignificantes. Estamos mais mortos que eles! No entanto, sofremos
perseguições cruéis, mas muito subtis. Mina-se a família e ataca-se a vida!
Aplaude-se no nosso parlamento as maiores atrocidades! Não podemos estar
calados e indiferentes!
Quo
usque tandem? Gritava Cícero.
Pe.
Hélder Miranda Alexandre
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