OPINIÃO: IRMÃOS DE SANGUE

Em cada cinco minutos é martirizado um cristão no mundo…

“Não tocar! É cristão!”, assim adverte um cartaz colocado no caixote de lixo, onde estão os seus restos. Assim acontece repetidamente nos países onde se perseguem cristãos.

Todos os dias nos chegam notícias arrepiantes acerca daquilo que se faz aos nossos irmãos. Já não sabemos o que pensar. No entanto, corremos o risco, diria mesmo, o crime, da indiferença. “Silêncio cúmplice do ocidente”, como afirma o Papa Francisco. Deparei-me há alguns dias com um vídeo que aconselho a ver:


Irmã Guadalupe, das Missionárias do Verbo Divino, natural da Argentina, cheia de fé, de vida e de sonhos, ofereceu-se para a missão do Médio Oriente, primeiro em Belém, onde aprendeu o árabe. Em seguida, passou para o Egipto, e finalmente, sentindo-se cansada depois de vários anos de entrega, pediu para ir para a Síria, país tranquilo, de cultura milenar, exemplo de sã convivência entre religiões e de exemplar prosperidade. Até que infelizmente rebentou o drama da guerra. A história da sua vida e das suas histórias são arrepiantes, mas ela sobreviveu para nos contar.

Falou-se em primavera árabe, mas o que aconteceu foi a violência cruel de grupos de terroristas, entre os quais o tão famigerado “estado islâmico” (não merece ser escrito em maiúsculas). Destroem-se pessoas, culturas, património mundial, famílias inteiras.

Depois de começar a guerra, teve de falar com os pais pedindo-lhes autorização para ficar. O pai disse-lhe: “o que se passa é estiveste com estas pessoas até agora e vais abandoná-las quando mais precisam? Tens de estar aí. Isso significa dar a vida, és missionária”. E acrescentou: “para além disso não pretendo de alguma forma competir com Deus. Ele cuida de ti aí, melhor do que eu posso cuidar aqui”.

Todos os dias os habitantes de Alepo, cerca de cinco milhões, enfrentam a morte, sem luz e água. Os hospitais e as escolas colapsaram. A cidade foi cercada, mas nunca foi notícia. O ataque é permanente. As bombas “chovem” literalmente.

O mais importante é que esses cristãos continuam a sua vida! Batizam-se, casam em Igrejas sem tecto, continuam a ir à escola, a concretizar os seus cursos académicos. Fogem com os apontamentos de estudo. Sofrem muito e rezam muito. São persegui-dos e são mais fortes! Têm um segredo gigantesco: a fé. Estão mais felizes que antes, quando tinham tudo. Vivem o mesmo Evangelho que vivemos nós: “Perseguir-vos-ão”. Não deixam de sorrir…

A Síria já tem cerca 12 milhões de refugiados, num total de 22 milhões de habitantes. Como ela afirma, recolher os refugiados não é solução. Há que tapar a “fábrica dos refugiados que é a guerra e a perseguição”. O seu discurso é verdadeira denúncia! Pede simplesmente que não sejamos indiferentes, que rezemos por eles.

E nós? Preocupados com efemeridades, com detalhes, com comodidades insignificantes. Estamos mais mortos que eles! No entanto, sofremos perseguições cruéis, mas muito subtis. Mina-se a família e ataca-se a vida! Aplaude-se no nosso parlamento as maiores atrocidades! Não podemos estar calados e indiferentes!

Quo usque tandem? Gritava Cícero.

Pe. Hélder Miranda Alexandre

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