FALECEU NA ILHA DO PICO D. ARQUIMÍNIO RODRIGUES DA COSTA
Último bispo
português de Macau tinha 92 anos
Faleceu
hoje em São Mateus, na ilha do Pico, onde residia, D. Arquimínio Rodrigues da
Costa, com 92 anos de idade.
Para
o bispo de Angra trata-se de uma “perda para a igreja e para a sociedade” dado
que se tratou de uma “figura invulgar” que, até à morte, prestou um “serviço à igreja com uma enorme
simplicidade”.
O
funeral realiza-se amanhã, em São Mateus, pelas 18h00 com uma missa presidida
pelo bispo de Angra D. João Lavrador.
Arquimínio Rodrigues da Costa, bispo emérito de Macau, que enveredou pela igreja por influência dos pais, ingressou, com 25 anos, no seminário de S. José em Macau, onde completou os seus estudos eclesiásticos completando teologia em Junho de 1949.
Natural
de São Mateus na ilha do Pico, onde nasceu a 8 de Julho de 1924, cedo se
movimentou junto da igreja, por influência dos pais e, quando aprendeu as
primeiras letras foi para Macau com o Monsenhor José Machado Lourenço e mais
dois companheiros.
Enquanto
estudante no seminário de Macau revelou ser “ inteligente e virtuoso”, tendo
sido nomeado professor antes da sua ordenação presbiteral, que se realizou
pouco tempo depois, a 6 de Outubro de 1949.
No
mesmo seminário exerceu a prefeitura de disciplina desde 1949 a 1953 e foi
reitor interino (1955/6) na ausência do reitor daquele estabelecimento de
ensino, o cónego Juvenal Garcia.
Regressou
aos Açores em 1956, para passar férias com a família, na ilha do Pico mas, um
ano depois, seguiu para Roma, onde frequentou o curso de direito canónico na
Pontifícia Universidade Gregoriana, concluindo a licenciatura em 1959.
De
regresso a Macau, retomou as suas funções de prefeito de disciplina, sendo
então nomeado professor do seminário. Em Agosto de 1961 era reitor interino
passando a efetivo em Novembro seguinte.
Com
a ausência do prelado diocesano de Macau durante o período de realização do
Concílio Vaticano II, D. Arquimínio foi nomeado governador do bispado em 29 de
Agosto de 1963 e depois em 1965.
Com
o surgimento da Revolução Cultural chinesa, com Mao Tse Tong, a igreja viveu
tempos conturbados em Macau e os alunos do seminário, e os professores foram
transferidos para o território vizinho de Hong Kong.
Lecionou
(1968/9) no seminário de Aberdeen, em Hong Kong, as disciplinas de filosofia e
latim, sendo ali nomeado prefeito de Estudos do Curso Filosófico.
“Professor
competentíssimo, sacerdote cheio de humildade, é tido como poliglota, com
destaque para o mandarim e cantonense, em que fala e prega fluentemente”, diz a
referida nota da ouvidoria.
Eleito
pelo cabido vigário capitular da diocese em 14 de Junho de 1973, viu-se elevado
à dignidade episcopal três anos depois, em 1976, altura em que o Papa Paulo VI
o nomeia definitivamente Bispo de Macau.
A
sua sagração decorreu na catedral macaense em dia da Anunciação, 25 de Março
daquele ano.
Em
1983 esteve outra vez nos Açores, passando um longo período desde Junho a
Setembro na sua terra de origem, visitada igualmente nesse verão por outros ilustres
do episcopado, nascidos também na ilha do Pico, como D. José Vieira Alvernaz
que, com seu irmão Monsenhor Manuel Vieira Alvernaz, passaram algum tempo na
Ribeirinha, e D. Jaime Goulart, bispo resignatário de Díli, que esteve na
Candelária de onde era natural.
Desse
período recorda-se o empenho na evangelização. Confrontado com ausência do
pároco durante as férias no Pico, “atirou-se ao trabalho em S. Mateus e
percorreu a ilha contactando o povo, ouvindo, falando, rindo, participando nas
maiores manifestações de fé Pico e no Faial”.
Presidiu
à festa do Senhor Bom Jesus Milagroso e, na Prainha do Norte, presidiu às
festas em honra da Padroeira. Sagrou a Matriz das Lajes, a primeira igreja a
ser sagrada no Pico pelo prelado de Macau. Presidiu, também, à festa da Senhora
de Lurdes no Faial, na comunidade da Feteira e participou numa missa campal na
ilha azul.
D.Arquimínio
realizou “uma notória obra na sua diocese, tão cheia de características
especiais pela bipolarização de culturas”, como referem os seus conterrâneos.A
10 de Junho de 1984, D. Arquimínio foi condecorado pelo Governo português com o
grau de Grande Oficial da Ordem de Benemerência e em 1986 recebeu o grau de
Doutor Honoris Causa em Filosofia pela Universidade da Ásia Oriental de Macau.
Este
ilustre açoriano viu o seu pedido de resignação à Diocese de Macau aceite pela
Santa Sé a 6 de Outubro de 1988 e, um mês após, a 7 de Novembro de 1988 foi
condecorado, agora pelo Presidente da República Portuguesa, com o grau de
Grã-Cruz da Ordem de Mérito a 7 de Novembro de 1988.
Desde
Janeiro de 1989 que fixou residência na ilha do Pico, na freguesia de S.
Mateus, ocupando o seu tempo na recuperação de uma quinta familiar.
O
Pe. Tomás Bettencourt Cardoso, que na sua estada em Macau procedeu à recolha de
textos de D. Arquimínio (e de outros bispos açorianos de Macau) descreve a
maneira de ser de D. Arquimínio como “um bispo-padre e um padre-bispo” que
“celebra, confessa, prega, catequiza, senta-se ao harmónio, ensaiando e
ensinando, compondo e pacificando… sempre ao serviço”.
Quando
celebrou as suas bodas de diamante sacerdotais, em 2009, começou por lamentar o
facto de ter sido ordenado sem a presença da família, que esteve sem ver entre
1938 e 1956. E fez um balanço da sua estada em Macau, durante 50 anos, um
período “difícil” em que serviu “duas comunidades culturalmente heterogéneas: a
portuguesa e a chinesa.
Fonte:
IA
Povoação,
12 de setembro de 2016.
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