MENSAGEM: MOVIDOS PELA MISERICÓRDIA DE DEUS
“Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos,
porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado”
Deus é misericórdia
Celebramos
este ano a Semana dos Seminários durante o Jubileu da Misericórdia. Este facto
ajuda-nos a compreender com mais clareza qual a origem de todas as vocações na
Igreja, qual a fonte da vocação sacerdotal: Deus, rico de misericórdia.
As
três parábolas do Evangelho de S. Lucas, no capítulo XV, da dracma perdida, da
ovelha perdida e do filho perdido ou do filho pródigo, mostram-nos a alegria do
reencontro do pai, rico de misericórdia, com aquilo que perdera. De um modo extraordinário
vemos a alegria do pai que reencontra o filho perdido, caído na desgraça, que
desceu às portas da morte. Tinha de fazer uma festa, pois o filho estava morto
e reviveu, estava perdido e foi encontrado.
A
comoção do pai que sofre a ausência do filho transforma-se na comoção das suas
entranhas no momento do encontro com o mesmo filho. É a sua misericórdia de pai
que nos revela a misericórdia infinita de Deus, o modo de ser de Deus, o nome
de Deus.
A vocação nasce da
misericórdia
A
única realidade capaz de transformar alguém que, na vida, se encontra perdido,
sem esperança nem salvação, é o encontro com a misericórdia dos outros, reflexo
da misericórdia de Deus.
Nenhuma
lei deste mundo, nenhum conselho, nenhum raciocínio da razão têm a mesma
capacidade para mover a mente, a vontade e o coração do filho perdido, mas pode
move-lo a comoção do pai, que sintoniza com o sofrimento ou as alegrias do
filho.
No
momento do encontro não há perguntas, nem recriminações ou discussão; apenas
acolhimento afetuoso, perdão, amor, porque mais importante do que tudo o que o
filho fez é o próprio filho que estava perdido, regressou e precisa de ser
salvo.
Tinha
de fazer-se festa, pois não há maior alegria do que estar morto e reviver, estar
perdido e reencontrar-se. A transformação operada pela misericórdia tem de ser
celebrada, é acontecimento ímpar enquanto obra de Deus, que recria, anima e
abre ao homem caminhos de salvação.
A
vocação sacerdotal não nasce somente de um chamamento, de um desejo ou de um
impulso interior; ela é fruto do encontro do Deus misericordioso com o homem
perdido e que é encontrado, com o homem morto e que revive.
Como
dom da iniciativa divina, a vocação sacerdotal só pode desabrochar em quem
humildemente conhece aquilo que é e sabe que tudo deve à grandeza do amor de
Deus. Quem se considera perfeito e santo nunca acolherá o dom da vocação; se
porventura se decide pelo sacerdócio é porque atribui a si mesmo o mérito da
decisão. Nessa altura, não se trata de uma verdadeira vocação, pois é uma
escolha humana e não o acolhimento do dom da iniciativa divina.
Pastoral das
vocações e misericórdia
As
crianças e os jovens, potenciais candidatos à vocação sacerdotal, precisam de ser
longa e profundamente introduzidos na vivência da relação com o Deus da misericórdia.
Se nunca se sentiram perdidos na vida nem mortos por causa do pecado, se nunca
se encontraram com a necessidade do perdão, do abraço, da alegria de Deus pelo
seu regresso, não podem desejar pôr-se ao seu serviço para que outros
experimentem a mesma salvação.
Uma
educação cristã que não favorece experiências fortes de encontro com Deus nos
momentos de espiritualidade, de oração, de reconciliação, de perdão, de partilha
das misérias humanas, não pode ter consequências vocacionais.
Uma
família que não vive relações de comunhão a partir da fé e onde cada um não
está disposto a acolher, compreender e perdoar no seguimento de Jesus, não
fomenta os gérmenes da vocação.
Uma
séria pastoral das vocações sacerdotais assenta na promoção de ações que levem
a experimentar a misericórdia de Deus que se alegra com cada um dos filhos que
reencontra e conhecer em primeira mão a alegria de cair nos seus braços de Pai.
Seminário, casa da
misericórdia
A
decisão de entrar no Seminário, devidamente acompanhada pela Igreja, e a caminhada
que ali se faz, têm como primeiro objetivo ajudar os jovens a crescer no
conhecimento da misericórdia de Deus para consigo mesmos; nessa altura sentir-se-ão
movidos interiormente a pôr a sua vida ao serviço dos outros.
A
decisão de ser padre, ministro de Deus e da Igreja, nasce do encontro com o Deus
rico de misericórdia que escolhe e capacita alguns para serem seus rostos visíveis
por meio do sacramento da Ordem.
O
Seminário, é um lugar, um tempo, uma comunidade cristã, que favorece o crescimento
dos candidatos ao sacerdócio na alegria do encontro com a misericórdia de Deus
que os move no sentido da misericórdia para com os irmãos. É, por isso,
verdadeira casa da misericórdia onde todos se alegram porque Deus continua em
todos os tempos a fazer festa por um só pecador que se arrepende, por um filho
perdido que se reencontra, por alguém que estava morto e reviveu.
Deus,
Pai de misericórdia,
nós
vos damos graças porque
nos
esperais quando saímos de casa,
nos
acolheis quando regressamos,
vos
alegrais e fazeis festa quando perdoais.
Fazei
dos seminários casas de misericórdia,
Comunidades
de escuta e comunhão,
Escolas
de fé, esperança, amor e serviço.
Deus,
Pai de misericórdia, nós vos pedimos
Jovens
disponíveis para o sacerdócio,
Seminaristas
fiéis à graça do chamamento,
Famílias
abertas ao amor,
Paróquias
vivas na comunhão,
Padres
felizes no ministério.
Por
Jesus Cristo, vosso Filho,
que
é Deus convosco,
na
unidade do Espírito Santo.
Ámen
Ó
Maria, Mãe de Misericórdia,
Dai-nos
muitos e santos sacerdotes.
Ámen.
+
Virgílio do Nascimento Antunes
Presidente
da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios
Povoação,
26 de Outubro de 2016.
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