REINCIDÊNCIA DA INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ A PEDIDO “É A PROVA DE QUE O ABORTO AFINAL ESTÁ A FUNCIONAR COMO MÉTODO CONTRACETIVO”
Responsável pelo
Serviço Diocesano da Pastoral Familiar afirma que a igreja deve sensibilizar e
formar para uma paternidade responsável
Os
números mais recentes, publicados na imprensa regional sobre o número de
abortos praticados por açorianas no hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta
Delgada, são vistos pelo responsável pelo Serviço Diocesano da Pastoral
Familiar como a “prova” de que o aborto a pedido da mulher, até às 10 semanas,
está a funcionar nalguns casos como método contracetivo.
Os
números não são muito expressivos quando comparados com o todo nacional- das
cerca 500 mulheres que puseram fim à gravidez, entre 2011 e 2015, 60
reincidiram-, no entanto o sacerdote afirma: “o aborto nunca por nunca pode ser
um método contracetivo. O que se está a passar nos Açores é a prova provada de
que isso está a acontecer infelizmente e isso quer dizer que muita coisa está a
falhar”.
Em
declarações ao Sítio Igreja Açores, o Cónego José de Medeiros Constância
recorda, de resto, que depois do referendo em 2007, que despenalizou o aborto a
pedido da mulher até às 10 semana, “pouca coisa ou nada mudou”.
“Passados
estes anos é difícil de dizer mas temos de admitir, com toda a clareza, que demos poucos passos em frente e estamos
quase na mesma”.
“Temos
de ser capazes de criar uma atitude nova, isto é, temos de ser capazes de criar
uma maneira do planeamento familiar ser feito como deve ser e a igreja, na área
que lhe diz respeito, tem de ser capaz de comunicar os valores e os princípios
que fundamentam uma maternidade e paternidade responsáveis” sublinha o
sacerdote.
“Não
podemos nem devemos substituir-nos a ninguém e muito menos aos técnicos mas
temos de encontrar instrumentos como a educação Moral e Religiosa Católica, os
movimentos da família, a catequese, onde quer que tenhamos jovens e menos
jovens para lhes transmitir valores e princípios”, refere ainda o Cónego José
Medeiros Constância.
“A
vida é para nós uma valor inviolável e por isso não podemos aceitar nenhum
comportamento ou atitude que a desvalorize” referiu ainda destacando que, no
entanto, a igreja também tem de saber acolher e ajudar as pessoas que estão em
sofrimento.
“A
atitude não pode ser condenatória. É o próprio Papa que nos desafia a sermos
mais misericordiosos uns com os outros” refere ainda lembrando que no caso do
aborto, em concreto, “o grande desafio passa por sermos capazes de atuar
preventivamente, pois quando uma mulher recorre ao aborto duas, três, ou quatro
vezes, alguma coisa está errada e nós não podemos ficar descansados, fingindo
que nada se está a passar”.
Desde
que a lei foi promulgada, as mulheres que querem abortar fazem-no num hospital
publico de referência e proximidade. No início em 2008, na Região Autónoma dos
Açores, apenas o Hospital da Horta fazia abortos. As restantes pacientes eram
deslocadas com frequência até ao Serviço Nacional de Saúde, para hospitais do
Continente. No arquipélago todos os médicos com habilitação para esta área da
saúde invocaram objeção de consciência, inviabilizando a prática da Interrupção
Voluntária da Gravidez (IVG) nos hospitais do Divino Espírito Santo e Santo
Espírito, nas ilhas de São Miguel e da Terceira, respetivamente.
Atualmente
a IVG, a pedido da mulher até às dez semanas, faz-se apenas em Ponta Delgada e
as grávidas de outras ilhas são encaminhadas para outras unidades de saúde,
quase sempre fora da região.
Em
Portugal continental, só em 2015 foram realizadas 15873 IVG´s. A Federação
Portuguesa pela Vida(FPV) lamenta o “drama humano” que esses números
representam, em concreto, as crianças a quem “é tirado o direito a nascer” e as
milhares de mulheres que, “sem apoio e, muitas vezes obrigadas pelas
circunstâncias, acabam por recorrer ao aborto”.
Para
o organismo, enquanto existir uma mulher que diga ‘abortei porque não tive quem
me ajudasse’, Portugal vai ser “sempre” um país que “nega a solidariedade, os
direitos humanos e a paz”.
Neste
contexto, a FPV observa que o Apoio à Maternidade e Paternidade seria “um
primeiro passo” para combater a “chaga social” que é o aborto mas,
“infelizmente”, a atual maioria parlamentar “continua na luta ideológica e
fecha os olhos aos mais carenciados”.
“Estes
15 873 abortos não são fruto da liberdade, mas da recusa política em apoiar as
mulheres na hora de carências e dramas humanas”, considera a Federação
Portuguesa Pela Vida.
Apesar
dos números, a Direção-geral de Saúde diz que as 15873 interrupções
“correspondem a uma diminuição de 1,9% relativamente ao período homólogo de
2014”.
Povoação,
25 de outubro de 2016.
Fonte:
I.A.
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