AS FESTAS DO ESPÍRITO SANTO / UM POUCO DE HISTÓRIA...
Há
quase sete séculos que surgiram, em Portugal, os primeiros exemplos do que
viria a ser uma das mais vigorosas manifestações de religiosidade manifestações
de religiosidade popular, o culto do Espírito Santo. Teria sido sua causa
imediata a busca de protecção divina contra certas calamidades naturais: a
Peste, no Continente, os sismos, mais tarde, nas ilhas dos Açores.
A
atitude colectiva dominante é a da solidariedade social, ultrapassando
geralmente o mero conceito de caridade.
Na
verdade, há aqui um conceito de igualdade e fraternidade que parece antecipar
conquistas sociais do futuro.
Relativamente
às formas assumidas, as festividades do Espírito Santo, realizadas por alturas
do Pentecostes, correspondem a uma aparente convergência de antiquíssimos
rituais pagãos.
Sobrevivências
disso mesmo, seriam: a distribuição da carne da rês ou reses sacrificiais,
ainda hoje abatidas (ou sacrificiais, ainda hoje abatidas (ou imoladas)
ritualizada e publicamente em algumas comunidades; a distribuição do pão bento,
segundo alguns autores vestígio de velhíssimas celebrações das colheitas; a
eleição ou nomeação de “Imperadores”, “Reis”, ou “Juízes”, em número de um ou
mais, escolhidos entre as crianças, as donzelas ou os mais pobres, o que parece
radicar em festas pagãs como as Saturnalias romanas.
Nestas,
um “imperador por um dia”, escravo geralmente, ditava as suas “leis”, a uma
comunidade cuja norma passava a assumir a total inversão dos valores e papéis
sociais habituais. É isso mesmo o que acontece, aliás, no Carnaval e em
determinadas festas rurais cíclicas, pretexto também para verdadeira catarse
colectiva, constituindo, simultaneamente, verdadeira “válvula de segurança”
social....
O
fio condutor de tão rica quão complexa herança cultural é extremamente difícil
de destrinçar, sendo mil e uma as faces assumidas pela sociabilidade popular,
variando na sua expressão em todo o território português, continental e
insular, e ainda no Brasil e entre as ainda no Brasil e entre as comunidades
portuguesas no Estrangeiro.
Segundo
a maioria dos autores, teria sido Isabel de Aragão, a Rainha Santa Isabel, a
instituidora da primeira festa do “Império do Espírito Santo”, realizada no
Convento de Franciscanos de Alenquer, cercade 1323.
A
rainha, mulher de D. Dinis, era neta de Jaime II, e filha de Pedro III de Aragão,
ambos Gibelinos (membros do partido favorável ao imperador e contrário ao papa,
que era apoiado pelo partido dos Guelfos) e conheceu Arnaldo de Vilanova,
teólogo e médico da família real de Aragão, conhecido joaquimita. Em Portugal
teve conhecido joaquimita. Em Portugal teve graves problemas com os frades
Crúzios (de Santa Cruz de Coimbra) que tudo fizeram para impedir a construção
do Mosteiro de Santa Clara, sem o conseguirem. Teriam conspirado para evitar a
sua canonização, também sem êxito.
Isabel
de Aragão, possivelmente a mais popular das santas de Portugal, seria bem pouco
simpática à hierarquia católica, suspeita até de simpatias heréticas.
Porém,
culto do Espírito Santo já surgira no nosso País antes da vigorosa acção da
Rainha Santa, sendo disso prova a instituição de algumas Confrarias dedicadas
ao sustento de pobres, à organização de bodos e à criação de hospitais. A mais
antiga de que há notícia é a de Benavente, segundo Leite de Vasconcelos,
anterior a 1237.
Mesmo
aceitando uma maior antiguidade do culto, só a partir do primeiro quartel do
século XIV ele viria a atingir a expansão que o transportou para as ilhas
oceânicas e o Brasil, transformado assim numa verdadeira ponte cultural sobre o
Atlântico: entre 1321 e o final do século XVI , surgem 75 igrejas matrizes de
outras tantas cidades, vilas e aldeias, tendo por orago o Espírito Santo.
Se
a estas adicionarmos os cerca de 80 hospitais e albergarias e o milhar de
conventos, capelas e ermidas em sua honra, ermidas em sua honra, apercebemo-nos
imediatamente da extraordinária popularidade que rapidamente alcançou e é na
época da Rainha Santa que se manifesta esta verdadeira explosão devota.
A
difusão deste culto nas ilhas atlânticas revelou-se poderoso agente de
sociabilidade, em especial nos Açores, onde não há ilha onde não possamos
admirar os encantadores “Impérios do Divino”, pequenas capelas e sedes de
outras tantas festividades, bem menos deturpadas em relação às origens, que as
do Continente.
A Guia: Boletim Paroquial
da Comunidade Cristã de Nossa Senhora dos Remédios
Diretor: Pe. André de
Resendes
Povoação,
quarta-feira, 31 de maio de 2017.
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