CENTENÁRIO DA IGREJA DE SÃO PAULO - ANO DE 1950
"Ao longo da sua história, só se notaram na
Ribeira Quente duas vocações religiosas: uma foi a de João Vieira Jerónimo
Júnior que não chegou ao sacerdócio, e outra, a de Antero Jacinto de Melo,
feito sacerdote neste ano de 1950 - no percurso do tempo, e já no findar do
século passado, também se manifestaram outras vocações como a de Luís Manuel do
Rego Miúdo, que chegou à Filosofia; Luís Miguel Lima, que atingiu o 5.º ano;
João Linhares Costa, que atingiu só o segundo ano e Márcio Paulo Pimentel
Peixoto que frequentou a Escola Apostólica Dominicana da Ordem dos Pregadores,
concluindo o Secundário.
O Padre Antero foi então, depois da sua Missa Nova
celebrada na sua Igreja de São Paulo, colocado no lugar da Covoada.
Depois de um longo interregno de 50 anos, neste ano
de 1950 a Ribeira Quente volta a figurar nos Serviços Nacionais de Estatística,
como povoado. A primeira vez ocorreu no ano de 1864, 1878, 1890, mas depois da
estatística de 1900 desapareceu totalmente e só meio século depois voltou.
A 20 de Junho deste ano de 1950, desta vez como
Ministro das Obras Públicas, o engenheiro José Frederico do Casal Ribeiro
Ulrich, que sucedeu a Duarte Pacheco no cargo de ministro, visita a Ribeira
Quente pela segunda vez. Tinha então esta freguesia 2.126 habitantes.
É o Padre Mansinho quem descreve este
acontecimento:
"Em 20 de Junho, visitou esta freguesia Sua
Excelência o Ministro das Obras Públicas, Eng.º José Frederico do Casal Ribeiro
Ulrich, pelas dezassete horas, acompanhado de uma numerosa comitiva, por alguns
engenheiros do seu ministério, tendo estudado demoradamente, "in
loc", todas as necessidades desta terra: porto, bairro piscatório, muralha
da ribeira do porto dos barcos e ainda a nova estrada para a praia de banhos do
Fogo, certificando-se e atendendo com a melhor das atenções ao péssimo estado
desta freguesia".
Esta linguagem, embora hoje nos pareça bajulatória,
não o era, porque era uma linguagem quase convencional, cujo fecho redundava
sempre em novas promessas por parte do lisonjeado, que raramente eram
cumpridas.
Embora a necessidade de novas habitações fosse
premente, nada resultou desta visita ministerial, isto é:
Não foi feito fosse o fosse no porto da Ribeira
Quente; não foi feita nenhuma estrada nova entre a Ribeira e o Fogo, por isso o
mar continuou a comer a terra neste percurso do litoral; não foi feito nenhum
bairro piscatório nem nenhum paredão de protecção às águas da Ribeira. Por
isso, foram as entidades locais, concelhias e de ilha, que deram seguros passos
para que algo fosse feito em prol do povo da Ribeira Quente, porque já era
grave a situação social em matéria de agregados familiares, visto que muitos
dos velhos e novos casais viviam aboletados em velhos casebres de uma só
divisão.
Com dinheiros pedidos ao Fundo de Assistência, do
Governo Civil, Junta Geral e Câmara Municipal da Povoação, foram construídas
oito modestas casas cuja empreitada foi adjudicada a um filho deste lugar da
Ribeira Quente, ao carpinteiro Diniz de Melo Cidade.
Pouco experiente na matéria de avaliação, a sua
proposta de 59.750$00 foi a mais baixa, por isso a empreitada lhe foi
concedida.
Obrigado a cumprir com aquilo que estava
preceituado no contrato, o mesmo teve de recorrer a um empréstimo de vinte e
quatro mil escudos para poder concluir o trabalho, mas teve de emigrar para a
Venezuela - ao tempo refúgio de quem ambicionava viver e sonhar - para poder
satisfazer o seu grave compromisso.
Porque também o paredão da ribeira era
impreterivelmente necessário, foi feito, o mesmo, neste mesmo ano. Embora
rudimentar, porque a matéria ciclópica foi assenta sobre velhos alicerses de
pedra e barro com mais de 50 anos de existência, este então monumental
empreendimento foi adjudicado pela importância de trezentos e sessenta e oito
contos (368.000$00), a um eventual empreiteiro das Capelas".
Povoação, quinta-feira, 21 de setembro de 2017.
Comentários
Enviar um comentário