MENSAGEM PARA A FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA 2017
«Família torna-te o que és»
No domingo a seguir
ao natal, celebramos a festa da Sagrada Família. Unir esta celebração com o
Natal é dar-lhe a maior profundidade no significado e na identidade que a
família pode ter.
Deste modo, a
família, não só é querida por Deus que assim manifestou a Sua vontade no acto
da criação, como quis que a Encarnação do Seu Filho acontecesse numa família.
Estamos perante a identidade, a vocação e a missão da família na Igreja e no
mundo.
Esta festa é uma
ocasião propicia para proclamar o Evangelho da família perante tantas situações
degradantes que afectam as famílias de hoje. Lucidamente importa discernir os
Sinais dos Tempos de hoje pelos quais Deus nos está a interpelar para a
necessidade de convocar as famílias para que sejam o que verdadeiramente são.
Daí o apelo a todas
as famílias cristãs para que não tenham medo de testemunhar, apesar de todas as
dificuldades, a alegria e a beleza do amor matrimonial e dos benefícios das
relações familiares estáveis. Como em qualquer situação humana, também a
família é chamada a crescer no amor, na generosidade e na entrega mútua para se
tornar escola de valores essenciais para o desenvolvimento de cada pessoa e da
sociedade.
Mas os tempos em
que vivemos exigem de todos os homens e mulheres de boa vontade e de todos os
que reconhecem o valor fundamental da família que profeticamente se denunciem
os ataques que, vindos de determinados sectores culturais e ideológicos,
procuram destrui-la.
Em nome da
autodeterminação e liberdade individuais agride-se a identidade mais profunda
do ser humano e consequentemente a família. Numa sociedade laicizada e numa
cultura secularista e materialista, nas quais domina o poder económico e a
pessoa fica à mercê do consumo, estrategicamente pretende-se destruir a família
para que a pessoa se sinta como individuo sem segurança e sem orientação.
Por isso, é a hora
de evangelizar a família, na família e pela família. Como afirma o Papa
Francisco, há uma Boa Noticia para a família. Na verdade, «no mundo actual,
aprecia-se também o testemunho dos cônjuges que não se limitam a perdurar no
tempo, mas continuam a sustentar um projecto comum e conservam o afecto». Deste
modo, abre-se «a porta a uma pastoral positiva, acolhedora, que torna possível
um aprofundamento gradual das exigências do Evangelho» (AL, 38).
Partindo da
pedagogia de Jesus Cristo o Papa exorta a um crescimento gradual na vivência da
união matrimonial e desenvolvimento da vida familiar. Assim, «o “Evangelho da
família nutre também as sementes ainda à espera de desenvolver-se e deve cuidar
das árvores que perderam vitalidade e necessitam que não as transcurem”, de
modo que, partindo do dom de Cristo no sacramento, “sejam conduzidas
pacientemente mais além, chegando a um conhecimento mais rico e uma integração
mais plena deste mistério na sua vida”» (AL 76).
Com o objectivo de
evangelizar a família, urge que em cada paróquia se promova uma equipa de
pastoral familiar que sensibilize a comunidade cristã, esteja atenta às
necessidades das famílias e programe acções de ajuda às famílias para que estas
vivam a sua vocação e executem bem a sua missão.
A Diocese conta com
um serviço para a pastoral familiar que tem vindo a desempenhar um riquíssimo
trabalho na promoção, na sensibilização e na ajuda às comunidades paroquiais
para que estas possam desenvolver uma verdadeira pastoral familiar.
No programa pastoral
para este ano dedicado à pastoral social, foi incorporada também a família
porque a maior parte das problemáticas sociais que afectam as pessoas são
vividas na família e acabam por limitar e mesmo condicionar o crescimento
harmonioso dos laços familiares.
Esta é a hora de um
novo vigor na evangelização da família. Oxalá a pastoral familiar proporcione
uma experiência tal em que o Evangelho da família seja apreciado como «resposta
às expectativas mais profundas da pessoa humana: a sua dignidade e plena
realização na reciprocidade, na comunhão e na fecundidade» (AL201).
Como afirma o Santo
Padre, «não se trata apenas de apresentar uma normativa, mas de propor valores,
correspondendo à necessidade deles que se constata hoje, mesmo nos países mais
secularizados» (AL, 201). Na verdade, no Sinodo dos bispos sobre a família
«sublinhou-se a necessidade duma evangelização que denuncie, com desassombro,
os condicionalismos culturais, sociais, políticos e económicos, bem como o
espaço excessivo dado à lógica do mercado, que impedem uma vida familiar
autêntica, gerando discriminação, pobreza, exclusão e violência» (AL, 201).
Como resposta,
«temos de entrar em diálogo e cooperação com as estruturas sociais, bem como
encorajar e apoiar os leigos que se comprometem, como cristãos, no âmbito
cultural e sociopolítico» (AL, 201).
A alegria da
família é a alegria da Igreja, a construção de uma sociedade mais humana
depende da salvaguarda das legitimas relações familiares e a promoção de uma
cultura que respeite a dignidade humana e o bem comum depende da aprendizagem
que no seio familiar adquirem e experimentam os membros da família.
Família torna-te o
que és!
+João Lavrador,
Bispo de Angra e Ilhas dos Açores
Povoação,
Quarta-feira, 27 de dezembro de 2017.
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