“SEGUE-ME”
No
recomeço do Seminário
“Jesus
viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança e disse-lhe:
Segue-Me. E ele ergueu-se e seguiu Jesus”. (MT 9, 9)
O mestre Caravaggio plastifica esta passagem do Evangelho de forma
genial, dando-lhe um cariz de eternidade, como que a dizer que esta cena se
repete constantemente. A vocação de Mateus, exposta na Igreja de S. Luís dos
Franceses, em Roma, é apresentada ao visitante num local escuro. À direita está
Cristo que estende o braço direito a Mateus, que, acompanhado por quatro
companheiros, se surpreende com o inesperado convite, reagindo com o dedo da
mão esquerda para si mesmo. Só ele, e mais um jovem, dão pela presença do
Mestre. Os outros jogam. Um velho e um jovem contam o dinheiro. A luz
projeta-se da direita, como graça divina, e ilumina as personagens. Os detalhes
da pintura são precisos e muito cuidados, como as vestes das personagens, ou as
cores quentes, meticulosamente escolhidas. É a luz que dá forma e movimento à
cena e as personagens parecem sair da penumbra. Assim é a vocação, só alguns
estão atentos e percebem a presença do Senhor na quotidianidade. O resto
é mistério!
Esta passagem do
Evangelho coincidiu com o início do ano académico, no Seminário. O seguimento
de Cristo é aquilo, e só isso, que justifica a escolha da vocação sacerdotal.
São 22 jovens que se arriscam nesta aventura! Num mundo em que a imagem do
padre levanta muitas questões, que até incomoda muita gente, é necessária
coragem. Nesta contracorrente, só a fé dá sentido e alegria. Não é uma coisa de
gente formatada, mas de enorme liberdade! Deus prepara aqueles que escolhe,
como afirmava o Aquinate. Há que confiar na Providência, mas temos que fazer a
nossa parte.
Formar é uma missão
verdadeiramente difícil, sobretudo no meio da distração quotidiana do
mediatismo, por isso “o seminarista se apresenta como um “mistério para si
mesmo”, no qual se entrelaçam e coexistem dois aspetos da sua humanidade, a
serem integrados reciprocamente: por um lado, ela é caracterizada por dons e
riquezas, plasmada pela graça; por outro lado, é marcada por limites e
fragilidades. O compromisso formativo consiste em procurar ajudar a pessoa a
integrar estes aspetos, sob o influxo do Espírito Santo, num caminho
de fé́ e de progressivo e harmonioso amadurecimento dos mesmos,
evitando a fragmentação, as polarizações, os excessos, a superficialidade ou a
parcialidade. O tempo de formação para o sacerdócio ministerial é um tempo de
prova, de amadurecimento e de discernimento por parte do seminarista e da
instituição formativa. O seminarista é chamado a “sair de si mesmo”, para caminhar, em
Cristo, em direção ao Pai e aos outros,
abraçando a chamada ao sacerdócio, e empenhando-se em
colaborar com o Espírito Santo para realizar
uma síntese interior, serena e criativa, entre força e fraqueza.” (Nova
Ratio Institutionis sacerdotalis, 28-29).
Por estas razões, o
discernimento formativo constitui uma tarefa ingente, na qual o Seminário de
Angra tem investido muito seriamente. Os recentes escândalos da pedofilia ou
dos abusos sexuais no seio da Igreja, apontam para o tempo de formação. Não
queremos que os erros de outras partes belisquem minimamente a nossa realidade.
Por isso, esta missão é um caminho que deve ser tomado muito a sério, não só
pelo Seminário, mas também por toda a comunidade eclesial. Assim nos ajude o
Senhor!
Pe. Hélder Miranda
Alexandre
Reitor do Seminário
Fonte: Igreja Açores
Povoação, sexta-feira, 26
de outubro de 2018.
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