SEMANA DAS VOCAÇÕES 2019 – MENSAGEM DO SANTO PADRE
Mensagem
56.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações (12 de maio 2019)
Na
nossa Diocese a semana culminará com a instituição no Ministério do acolitado
dos 6 alunos do 5º ano do Seminário, na Celebração Eucarística das 18.00 do dia
12 de Maio, na Sé de Angra.
No
dia 11 teremos um workshop vocacional (vários modos de vida consagrada) aberto
a todas as catequeses da Ilha Terceira, entre as 16.00 e as 18.00, no
Seminário. Por volta das 21.00, ocorrerá a Vigília de Oração pelas Vocações,
também no Seminário.
Mensagem do Santo Padre
A coragem de arriscar pela promessa de Deus
Queridos
irmãos e irmãs!
Depois
da experiência vivaz e fecunda, em outubro passado, do Sínodo dedicado aos
jovens, celebramos recentemente no Panamá a XXXIV Jornada Mundial da Juventude.
Dois grandes eventos que permitiram à Igreja prestar ouvidos à voz do Espírito
e também à vida dos jovens, aos seus interrogativos, às canseiras que os
sobrecarregam e às esperanças que neles vivem.
Neste
Dia Mundial de Oração pelas Vocações, retomando precisamente aquilo que pude
partilhar com os jovens no Panamá, desejo refletir sobre a chamada do Senhor
enquanto nos torna portadores duma promessa e, ao mesmo tempo, nos pede a
coragem de arriscar com Ele e por Ele. Quero deter-me brevemente sobre estes
dois aspetos – a promessa e o risco –, contemplando juntamente convosco a cena
evangélica da vocação dos primeiros discípulos junto do lago da Galileia (cf.
Mc 1, 16-20).
Dois
pares de irmãos – Simão e André, juntamente com Tiago e João – estão ocupados
na sua faina diária de pescadores. Nesta cansativa profissão, aprenderam as
leis da natureza, desafiando-as quando os ventos eram contrários e as ondas
agitavam os barcos. Em certos dias, a pesca abundante recompensava da árdua
fadiga, mas, outras vezes, o trabalho duma noite inteira não bastava para
encher as redes e voltava-se para a margem cansados e desiludidos.
Estas
são as situações comuns da vida, onde cada um de nós se confronta com os
desejos que traz no coração, se empenha em atividades que – espera – possam ser
frutuosas, se adentra num «mar» de possibilidades sem conta à procura da rota
certa capaz de satisfazer a sua sede de felicidade. Às vezes goza-se duma pesca
boa, enquanto noutras é preciso armar-se de coragem para governar um barco
sacudido pelas ondas, ou lidar com a frustração de estar com as redes vazias.
Como
na história de cada vocação, também neste caso acontece um encontro. Jesus vai
pelo caminho, vê aqueles pescadores e aproxima-Se… Sucedeu assim com a pessoa
que escolhemos para compartilhar a vida no matrimónio, ou quando sentimos o
fascínio da vida consagrada: vivemos a surpresa dum encontro e, naquele
momento, vislumbramos a promessa duma alegria capaz de saciar a nossa vida. De
igual modo naquele dia, junto do lago da Galileia, Jesus foi ao encontro
daqueles pescadores, quebrando a «paralisia da normalidade» (Homilia no XXII
Dia Mundial da Vida Consagrada, 2/II/2018). E não tardou a fazer-lhes uma
promessa: «Farei de vós pescadores de homens» (Mc 1, 17).
Sendo
assim, o chamamento do Senhor não é uma ingerência de Deus na nossa liberdade;
não é uma «jaula» ou um peso que nos é colocado às costas. Pelo contrário, é a
iniciativa amorosa com que Deus vem ao nosso encontro e nos convida a entrar
num grande projeto, do qual nos quer tornar participantes, apresentando-nos o
horizonte dum mar mais amplo e duma pesca superabundante.
Com
efeito, o desejo de Deus é que a nossa vida não se torne prisioneira do banal,
não se deixe arrastar por inércia nos hábitos de todos os dias, nem permaneça
inerte perante aquelas opções que lhe poderiam dar significado. O Senhor não
quer que nos resignemos a viver o dia-a-dia, pensando que afinal de contas não
há nada por que valha a pena comprometer-se apaixonadamente e apagando a
inquietação interior de procurar novas rotas para a nossa navegação. Se às
vezes nos faz experimentar uma «pesca miraculosa», é porque nos quer fazer
descobrir que cada um de nós é chamado – de diferentes modos – para algo de
grande, e que a vida não deve ficar presa nas redes do sem-sentido e daquilo
que anestesia o coração. Em suma, a vocação é um convite a não ficar parado na
praia com as redes na mão, mas seguir Jesus pelo caminho que Ele pensou para
nós, para a nossa felicidade e para o bem daqueles que nos rodeiam.
Naturalmente,
abraçar esta promessa requer a coragem de arriscar uma escolha. Sentindo-se
chamados por Ele a tomar parte num sonho maior, os primeiros discípulos,
«deixando logo as redes, seguiram-No» (Mc 1, 18). Isto significa que, para
aceitar a chamada do Senhor, é preciso deixar-se envolver totalmente e correr o
risco de enfrentar um desafio inédito; é preciso deixar tudo o que nos poderia
manter amarrados ao nosso pequeno barco, impedindo-nos de fazer uma escolha
definitiva; é-nos pedida a audácia que nos impele com força a descobrir o
projeto que Deus tem para a nossa vida. Substancialmente, quando estamos
colocados perante o vasto mar da vocação, não podemos ficar a reparar as nossas
redes no barco que nos dá segurança, mas devemos fiar-nos da promessa do
Senhor.
Penso,
antes de mais nada, no chamamento à vida cristã, que todos recebemos com o
Batismo e que nos lembra como a nossa vida não é fruto do acaso, mas uma dádiva
a filhos amados pelo Senhor, reunidos na grande família da Igreja. É
precisamente na comunidade eclesial que nasce e se desenvolve a existência
cristã, sobretudo por meio da Liturgia que nos introduz na escuta da Palavra de
Deus e na graça dos Sacramentos; é nela que somos, desde tenra idade, iniciados
na arte da oração e na partilha fraterna. Precisamente porque nos gera para a
vida nova e nos leva a Cristo, a Igreja é nossa mãe; por isso devemos amá-la,
mesmo quando vislumbramos no seu rosto as rugas da fragilidade e do pecado, e
devemos contribuir para a tornar cada vez mais bela e luminosa, para que possa
ser um testemunho do amor de Deus no mundo.
Depois,
a vida cristã encontra a sua expressão naquelas opções que, enquanto conferem
uma direção concreta à nossa navegação, contribuem também para o crescimento do
Reino de Deus na sociedade. Penso na opção de se casar em Cristo e formar uma
família, bem como nas outras vocações ligadas ao mundo do trabalho e das
profissões, no compromisso no campo da caridade e da solidariedade, nas responsabilidades
sociais e políticas, etc. Trata-se de vocações que nos tornam portadores duma
promessa de bem, amor e justiça, não só para nós mesmos, mas também para os
contextos sociais e culturais onde vivemos, que precisam de cristãos corajosos
e testemunhas autênticas do Reino de Deus.
No
encontro com o Senhor, alguém pode sentir o fascínio duma chamada à vida
consagrada ou ao sacerdócio ordenado. Trata-se duma descoberta que entusiasma
e, ao mesmo tempo, assusta, sentindo-se chamado a tornar-se «pescador de
homens» no barco da Igreja através duma oferta total de si mesmo e do
compromisso dum serviço fiel ao Evangelho e aos irmãos. Esta escolha inclui o
risco de deixar tudo para seguir o Senhor e de consagrar-se completamente a Ele
para colaborar na sua obra. Muitas resistências interiores podem obstaculizar
uma tal decisão, mas também, em certos contextos muito secularizados onde
parece não haver lugar para Deus e o Evangelho, pode-se desanimar e cair no
«cansaço da esperança» (Homilia na Missa com sacerdotes, pessoas consagradas e
movimentos laicais, Panamá, 26/I/2019).
E,
todavia, não há alegria maior do que arriscar a vida pelo Senhor!
Particularmente a vós, jovens, gostaria de dizer: não sejais surdos ao
chamamento do Senhor! Se Ele vos chamar por esta estrada, não vos oponhais e
confiai n’Ele. Não vos deixeis contagiar pelo medo, que nos paralisa à vista
dos altos cumes que o Senhor nos propõe. Lembrai-vos sempre que o Senhor,
àqueles que deixam as redes e o barco para O seguir, promete a alegria duma vida
nova, que enche o coração e anima o caminho.
Queridos
amigos, nem sempre é fácil discernir a própria vocação e orientar justamente a
vida. Por isso, há necessidade dum renovado esforço por parte de toda a Igreja
– sacerdotes, religiosos, animadores pastorais, educadores – para que se
proporcionem, sobretudo aos jovens, ocasiões de escuta e discernimento. Há
necessidade duma pastoral juvenil e vocacional que ajude a descobrir o projeto
de Deus, especialmente através da oração, meditação da Palavra de Deus,
adoração eucarística e direção espiritual.
Como
várias vezes se assinalou durante a Jornada Mundial da Juventude do Panamá,
precisamos de olhar para Maria. Na história daquela jovem, a vocação também foi
uma promessa e, simultaneamente, um risco. A sua missão não foi fácil, mas Ela
não permitiu que o medo A vencesse. O d’Ela «foi o “sim” de quem quer
comprometer-se e arriscar, de quem quer apostar tudo, sem ter outra garantia
para além da certeza de saber que é portadora duma promessa. Pergunto a cada um
de vós: sentes-te portador duma promessa? Que promessa trago no meu coração,
devendo dar-lhe continuidade? Maria teria, sem dúvida, uma missão difícil, mas
as dificuldades não eram motivo para dizer “não”. Com certeza teria
complicações, mas não haveriam de ser idênticas às que se verificam quando a
covardia nos paralisa por não vermos, antecipadamente, tudo claro ou garantido»
(Vigília com os jovens, Panamá, 26/I/2019).
Neste
Dia, unimo-nos em oração pedindo ao Senhor que nos faça descobrir o seu projeto
de amor para a nossa vida, e que nos dê a coragem de arriscar no caminho que
Ele, desde sempre, pensou para nós.
Vaticano,
Memória de São João Bosco, 31 de janeiro de 2019.
FRANCISCO
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