MENSAGEM DE NATAL 2019 DE DOM JOÃO
Mensagem
de Natal de D. João Lavrador deixa críticas a um modelo de sociedade
consumista, frenética e fechada “sem dimensão da transcendência”
O
bispo de Angra exorta os açorianos a buscar o sentido da vida e da sua
existência a partir da simplicidade do presépio, na mensagem de Natal que acaba
de tornar pública segunda-feira, 9 de dezembro, inspirada no Evangelho de São
João “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.
«Eu vim para que tenham vida e a tenham em
abundância» - Jo. 10,10 Em cada Natal, marcado pelo nascimento de Jesus de
Nazaré, Filho de Deus, o ser humano, pessoal e comunitariamente, reveste-se de
alegria e de esperança.
A
sociedade, marcada pelo consumismo, não deixa de ser alertada para quem vive ao
lado, muitas vezes na exclusão, para lhe despertar a consciência que a vida só
pode ser portadora de esperança e de alegria se
se torna partilha em autêntica fraternidade.
De
igual modo a cultura actual fechada num humanismo sem expressão da
Transcendência, é desafiada a abrir-se para o futuro que liberta o presente e
lhe dá sentido e por isso é interpelada a ver os sinais
da presença de Deus na história dos homens.
Mas
também, os cristãos e as comunidades cristãs são convidados a renovarem e a
revigorarem as suas vidas na comunhão com Deus que toma a iniciativa de vir ao
encontro dos homens e mulheres para lhes oferecer o sentido pleno para a
existência humana que se reconhece e experimenta no amor vivido e partilhado.
É
muito actual a expressão de Jesus de Nazaré que dirige aos seus contemporâneos
e neles aos homens de todos os tempos quando afirma «Eu vim para que tenham a
vida e a tenham em abundância» (Jo.10,10).
Ao
longo da história o principal problema da pessoa é a vida.
Saber
donde vem, para que se vive, para onde ela nos encaminha e como vivê-la com a
plenitude de realização e de sentido.
Se
a vida foi sempre uma questão aberta para o ser humano, então, deparamo-nos com
a necessidade de encontrar n’Aquele que é o Senhor e autor da vida, a resposta
a todas as questões que se colocam à pessoa sobre a sua realização e missão.
Tendo
Deus falado de muitos modos, ao longo dos tempos, nos últimos falou-nos no Seu
próprio Filho (cfr. Heb. 1, 1-2).
Este
Menino que nos é apresentado no presépio é verdadeiramente o Filho de Deus que
nos vem revelar não só a Deus, mas também o que o homem é em si mesmo, o
sentido da sua existência, o valor da vida e o caminho do amor.
Para
o ser humano que não sabe o que fazer com a vida, e por isso a maltrata, a
desvaloriza, se apropria dela e se deleita em imprimirlhe os sinais de morte, é
urgente e imperioso conduzir a pessoa humana, em qualquer contexto cultural,
religioso, social ou étnico para fazer o caminho até ao presépio onde se
encontrará não só com a presença pessoal de Deus mas também com a resposta
profunda embora velada ao sentido da existência humana.
Esta
experiência foi feita pelos pobres pastores que na sua humilde fragilidade
esperavam a libertação que Deus tinha prometido.
Mas
igualmente, foi feita pelo percurso dos homens da inteligência, da ciência e do
conhecimento, que na época se inquietavam por obter respostas seguras para as
suas interpelações.
Também
hoje, o presépio onde encontramos a Palavra Eterna de Deus Encarnada na nossa
história, na fragilidade de uma Criança, é o forte e surpreendente convite a
todos para se encontrarem com a Fonte da Vida e n’Ela beberem da realização
plena que se nos oferece.
Mas
os peregrinos da primeira hora ensinam-nos que há algumas disposições para este
encontro. Desde logo o despojamento e o deixarmo-nos desinstalar do nosso
conforto pessoal, racional, religioso e emocional; encetar um caminho com a sua
aridez e incómodo até chegar ao local do encontro; descobrir ao longo da
caminhada os sinais de Deus que vêem da contemplação da natureza ou do clamor
dos nossos contemporâneos; percorrer o caminho do amor, da entrega pessoal e da
descoberta do outro como irmão.
No
contexto de uma cultura de morte, numa sociedade que não sabe como viver a vida
em plena realização, urge percorrer os caminhos que levam até Jesus de Nazaré
para aprender a viver no Amor e fazer d’Ele uma missão permanente.
Deste
modo, podemos oferecer esperança aos idosos, aos doentes, mesmo os que estão em
maior sofrimento, aos excluídos da sociedade, aos pobres e aos abandonados, aos
emigrantes e aos prisioneiros, porque o Amor é vida, é alegria, é esperança e é
missão junto de todos os que imploram de nós os gestos concretos para
saborearem nas Fontes da Vida a alegria plena.
Desejar
a todos votos de um Santo e feliz Natal – aos idosos, aos doentes, aos
emigrantes, aos prisioneiros, aos pobres e excluídos – é aprender junto do
presépio o caminho do Amor que nos é oferecido por Deus e se revela em Jesus de
Nazaré, o Menino que nasce na nossa humanidade, para o viver na entrega de
todos e cada um de nós junto
dos
nossos irmãos.
Para
todos os diocesanos, na Região Autónoma e na diáspora, um santo e feliz natal.
+
João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores
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