ENC: MENSAGEM PARA O DIA MUNDIAL DA PAZ / 2020
«A Paz brota da
Comunhão entre os Homens»
No
contexto da celebração do Natal, com o olhar em Nossa Senhora Mãe de Deus,
somos convidados a viver o primeiro dia do ano acolhendo o dom da Paz e de nos
comprometermos nos caminhos que nos conduzem à tão ansiada Paz.
Na
verdade, desde os inicios da história da humanidade e nomeadamente nos tempos
em que vivemos, o ser humano procura a Paz.
Efectivamente
sendo um dos mais profundos anseios por que clama a humanidade, merece uma
especial atenção, não só sobre a sua natureza mas também do que se reveste de
desafio e compromisso para com cada pessoa na sua edificação.
Segundo
a revelação bíblica e sobretudo na pessoa de Jesus de Nazaré, a Paz é um dom de
Deus que é concedido quando implorado e quando o coração do homem se prepara
para o acolher. Mas é igualmente um compromisso por estabelecer relações
pessoais que têm como modelo as Bem – Aventuranças proclamadas pelos Evangelhos
e que caracterizam os critérios de quem deseje construir uma sociedade no amor,
na misericórdia, na partilha de vida e na atenção privilegiada aos mais
excluídos.
Aí
se exalta «Bem – aventurados os construtores da Paz porque são chamados filhos
de Deus».
Para
este ano, o Papa Francisco na Menagem para o Dia Mundial da Paz, através do
lema «a Paz como caminho de Esperança: diálogo, reconciliação e conversão
ecológica» destaca cinco condições para obter o dom da Paz. A primeira
refere-se ao caminho da esperança face aos obstáculos e provações; a segunda
sublinha o caminho de escuta baseado na memória, solidariedade e fraternidade;
a terceira enaltece o caminho de reconciliação
na comunhão fraterna;
a quarta realça
o caminho
de conversão ecológica; e a quinta apela para a esperança na certeza de que se
obtém tanto quanto se espera.
Estamos
perante cinco condições que são igualmente desafios ao compromisso pessoal e
comunitário, dos cidadãos e das sociedades, para se edificar a Paz.
Nunca
é demais reconhecermos que a Paz começa em cada um de nós, no ambiente
familiar, nas diversas instituições educativas, em cada comunidade e nas
variadas estruturas culturais e sociais. Cuidar do modo como nos relacionamos,
como acolhemos, como salvaguardamos a dignidade de cada pessoa e do bem comum,
é algo preciosíssimo para a edificação da Paz.
Dada
a relevância que a comunicação social tem nas nossas sociedades, nomeadamente
as redes sociais, é uma profunda exigência colocada aos comunicadores serem
verdadeiros construtores da Paz, na verdade, na justiça, na defesa dos mais
débeis, provocando gestos de autêntica solidariedade, fraternidade e respeito
pela dignidade de cada pessoa.
Naturalmente,
que aos governantes, nas diversas instâncias de poder, exige-se-lhes um
redobrado cuidado de modo que tudo se faça para favorecer a construção da Paz.
Na referida Mensagem, o Papa Francisco sublinha que «a questão da paz permeia
todas as dimensões da vida comunitária: nunca haverá paz verdadeira, se não
formos capazes de construir um sistema económico mais justo». E esclarece,
recorrendo ao Papa Bento XVI, referindo que se exige «a progressiva abertura,
em contexto mundial, para formas de atividade económica caraterizadas por
quotas de gratuidade e de comunhão».
Estamos
de há longos anos a debatermo-nos com a crise ecológica e pela degradação
violenta do meio ambiente que resulta numa crise climática que está a afectar
as condições de vida de muitos povos.
O
Papa não só chama a atenção para a relação entre a edificação da Paz e o
cuidado com a criação mas apela a um compromisso pela preservação do ambiente
de modo a criar condições de vida.
Atendendo
ao caminho de reconciliação que «inclui também escuta e contemplação do mundo
que nos foi dado por Deus, para fazermos dele a nossa casa comum» somos
convidados a descobrir as «motivações profundas e um novo modo de habitar na
casa comum, de convivermos uns e outros com as próprias diversidades, de
celebrar e respeitar a vida recebida e partilhada, de nos preocuparmos com
condições e modelos de sociedade que favoreçam o desabrochar e a permanência da
vida no futuro, de desenvolver o bem comum de toda a família humana».
Daí
a exigência à ecologia integral que no dizer do Papa exige uma conversão de
modo a suscitar a «transformação das relações que mantemos com as nossas irmãs
e irmãos, com os outros seres vivos, com a criação na sua riquíssima variedade,
com o Criador que é origem de toda a vida».
A
tarefa é de tal maneira enorme que poderia levar ao desanimo. Por isso, o Papa
apela à esperança e a rejeitar qualquer ameaça do medo. Porque, diz ele, «o
medo é, frequentemente, fonte de conflito. Por isso, é importante ir além dos
nossos temores humanos, reconhecendo-nos filhos necessitados diante d’Aquele
que nos ama e espera por nós, como o Pai do filho pródigo (cf. Lc 15, 11-24)».
Daí
o compromisso numa cultura do encontro porque só deste modo, numa promoção da
cultura do encontro entre irmãos e irmãs se rompe com a cultura da ameaça.
Na
verdade, a cultura actual projectou o medo sobre as condições de vida das
pessoas; por isso, importa, como refere o Santo Padre, abrirmo-nos ao caminho
da reconciliação com paciência e confiança. Na certeza de que «não se obtém a
paz, se não a esperamos».
Colocando-nos
sob o olhar e protecção de Nossa Senhora que na Sua Maternidade divina nos
oferece a Jesus o Principe da Paz nos impulsione a edifica-la em cada pessoa,
em cada família, em cada comunidade, nas nações e no mundo actual.
Apresento
os meus votos de um Ano Novo abençoado por Deus e que todos
os diocesanos, nomeadamente os
mais sofredores e
carenciados da
verdadeira paz, sejam
agraciados pelos gestos
que conduzem à Paz.
+João
Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores
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