MENSAGEM DE DOM JOÃO LAVRADOR PARA O DIA DA FESTA DA SAGRADA FAMILIA
«O bem da família é
decisivo para o futuro do mundo e da Igreja» (AL, 31)
Em
cada ano, no contexto do natal, os cristãos são convidados a celebrar a festa
da Sagrada Familia e com ela aprofundar a reflexão sobre o significado da
família, os seus desafios e a promoção de uma verdadeira pastoral familiar nas
comunidades paroquiais.
Nunca
é demais dedicarmos algum tempo sobre a realidade concreta que afecta as nossas
famílias de hoje. Desde a preparação para o casamento, passando pela
desmotivação para um compromisso sério e sacramental, incluindo uma cultura que
vai demolindo os valores familiares, os ataques à vida humana e a falta de
condições que na sociedade actual impedem uma verdadeira dignidade na
comunidade familiar, culminando num hedonismo e num materialismo reinantes que
não deixam espaço para o verdadeiro amor, entrega mutua e projecto de vida
familiar com futuro.
Se
na realidade com a qual nos deparamos descobrimos sinais que interpelam os
cristãos porque se revelam como manifestação do Espirito de Deus igualmente
convocam para a acção dos discípulos de Jesus Cristo na missão de
evangelizarem, de facto, perante uma sociedade e uma cultura que tem o ser
humano prisioneiro na ignorância acerca da identidade do matrimónio e da
família, e tem cativa a beleza que devia resplandecer no amor matrimonial e
familiar; por isso, é urgente anunciar com a Palavra e com gestos concretos a
Boa Nova da família.
Na
sequência de S. João Paulo II, na sua Exortação post-sinodal Familiaris
Consortio, o Papa Francisco convida de igual modo a anunciar ao mundo de hoje a
Boa Nova da Familia. Segundo o Papa, «diante das famílias e no meio delas, deve
ressoar sempre de novo o primeiro anúncio, que é o “mais belo, mais importante,
mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário” e “deve ocupar o centro da
atividade evangelizadora”» (AL, 58).
De
facto «é o anúncio principal, “aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de
diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, duma forma
ou doutra”» (AL, 58). Aliás «”nada há de mais sólido, mais profundo, mais
seguro, mais consistente e mais sábio que esse anúncio” e “toda a formação
cristã é, primariamente, o aprofundamento do querigma”» (AL, 58).
Encorajo
todos os que têm responsabilidades educativas e que estão na missão da pastoral
familiar a reconhecerem a urgência de uma autêntica evangelização da família.
Verdadeiramente, «o próprio mistério da família cristãs só se pode compreender
plenamente à luz do amor infinito do Pai, que se manifestou em Cristo entregue
até ao fim e vivo entre nós» (AL, 58).
No
dizer do Papa Francisco, «a pastoral familiar “deve fazer experimentar que o
Evangelho da família é resposta às expectativas mais profundas da pessoa
humana: a sua dignidade e plena realização na reciprocidade, na comunhão e na
fecundidade» (AL, 201). Porém, «não se
trata apenas de apresentar uma normativa, mas de propor valores, correspondendo
à necessidade deles que se constata hoje, mesmo nos países mais secularizados»
(AL, 201).
Mais
ainda, numa verdadeira pastoral familiar, deve
sublinhar-se «a necessidade duma evangelização que denuncie, com
desassombro, os condicionalismos culturais, sociais, políticos e económicos,
bem como o espaço excessivo dado à lógica do mercado, que impedem uma vida
familiar autêntica, gerando discriminação, pobreza, exclusão e violência» (AL,
201).
Com
este objectivo deve-se «entrar em diálogo e cooperação com as estruturas
sociais, bem como encorajar e apoiar os leigos que se comprometem, como
cristãos, no âmbito cultural e sociopolítico» (AL, 201).
Mas
o cuidado pastoral para com a família exige também o acompanhamento, seja em
grupos, seja em movimentos de espiritualidade, seja no contacto pessoal com o
ambiente familiar. A auscultação dos seus problemas e anseios, das suas
dificuldades e das suas propostas são importantes para uma pastoral familiar
que responda à realidade concreta que se vive nas comunidades cristãs.
Também
neste domínio do acompanhamento, deixo a minha palavra de estimulo para que a
pastoral familiar, que bons frutos tem dado á diocese, continue a alentar todos
os casais e famílias para se integrarem nestes círculos de vivência e
convivência nos quais poderão encontrar apoio para a caminhada feliz na vida
matrimonial e familiar.
Não
podemos deixar de continuar a sensibilizar os cristãos e as comunidades cristãs
para o apoio a dar às situações de matrimónio e de famílias em situação de
crise para o devido acompanhamento e para a adequada integração na comunidade
cristã.
A
espiritualidade familiar que se alicerça na Eucaristia, no sacramento da
reconciliação, na oração familiar, no diálogo permanente e no perdão mútuo
devem merecer uma particular atenção e empenho de todas as famílias que queiram
viver no amor fecundo, sólido e permanente.
A
caminhada sinodal na qual a diocese se empenha sob o lema «a beleza de
caminharmos juntos em Cristo» deve proporcionar às famílias a responsabilidade
que lhes cabe na promoção da comunhão e no compromisso que lhes é próprio na
evangelização, na relação com a paróquia e na resposta aos desafios de uma
participação mais activa e consciente na missão da Igreja no mundo de hoje.
No
contexto da caminhada sinodal exige-se que a rede da pastoral familiar se
estenda da diocese com o seu serviço diocesano, às Ouvidorias e às paróquias.
Deixo o apelo para que não haja nenhuma paróquia que não tenha um grupo de
pastoral familiar.
Colocamos
todas as famílias da nossa diocese no seio da Sagrada Familia de Nazaré para
que junto de Jesus Cristo, de S. José e de Maria de Nazaré aprendam a viver no
amor, na partilha, na santidade e na missão evangelizadora.
+João
Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores
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