HOJE É DIA DE SÃO PAULO PADROEIRO DA RIBEIRA QUENTE

Hoje comemora-se no concelho da Povoação o padroeiro da freguesia da Ribeira Quente São Paulo. Um dia de verão em pleno Outono convida ao paroquianos a participarem nas festas desta pacata freguesia piscatória povoacense.

SUBSIDIO PARA A HISTÓRIA DA IGREJA DE S. PAULO – R.QUENTE

Esta freguesia foi chamada de Ribeira Quente por nela desaguar a ribeira que atravessa o Vale das Furnas, recebendo das sulfátaras a sua água quente. Deste modo, o topónimo deriva da água morna, proveniente das Caldeiras das Furnas e da Lagoa das Furnas.

Gaspar Frutuoso (1) FRUTUOSO, Gaspar Livro IV, Saudades da Terra, Cap.XXXIX, p.160 na sua narração “percorrendo” a ilha pelo lado sul refere: “Da Povoação para a parte de loeste, corre um pouco espaço de costa de pedra e calhau roliço, e da parte da terra, uma alta rocha até uma pequena ponta, da qual até à outra, que se chama do Garajau, por ali se ver algum, que está além de uma ribeira mediana e fresca, chamada dos Agriões, pelos criar muitos, acompanhada, de uma parte e outra, de graciosos arvoredos, que será meia légua da Povoação até à dita Ponta do Garajau, se faz uma enseada, dentro da qual, defronte da dita ribeira dos Agriões, está uma baixa, rasa, do tamanho de um alqueire de terra, que se chama a ilha de Mateus Dias, porque saindo ele a folgar, pescar e mariscar
nela, mandou o batel a Vila-Franca, para da tornada o tornar a tomar, e alevantou-se o tempo de tal maneira que, tornando o batel para o recolher não pôde chegar à baixa senão com muito trabalho e com grande risco de perderem todos as vidas, estando já a baixa quase coberta de água. Da ribeira pequena, que disse, corre do mar uma ponta de pedra alta, onde ela é alcantilada, que se chama, como tenho dito, Ponta do Garajau, por aparecer ali algum muitas vezes, ou porque pegada com ela, onde se chama a Escada na Rocha, está uma pedra, feita pela natureza, por onde descem abaixo, ao longo do mar, em que estava um buraco que passava a terra da outra banda, por onde se via o ar branco e alvo que de longe parecia garajau, e agora está já atupido; com a qual faz uma grande enseada, abrigada dos ventos ponentes. Passada a Ponta do Garajau, dela até à Ponta de Simão Figueira (por razão de
um penedo que defronte dela está, quase pegado com ela dentro no mar, em espaço que passam batéis entre ele e a terra, que por ser redondo se parecia com um homem, chamado assim Simão Figueira, que era anão) antre estas duas pontas, está uma enseada de areia, tanto como um tiro de arcabuz, e logo adiante da Ponta de Simão Figueira, em uma baía de compridão de um tiro de berço, que se faz antre seu penedo e antre outra ponta chamada o Rosto Branco, por ser a mesma ponta de terra branca, onde estão fajãs que terão cinco moios de terra, que têm vinhas e dão pão e pastel, está a Ribeira Quente, de muito boa e copiosa água, por causa que se ajuntam nela as três ribeiras das Furnas, sc. a Quente e a outra que corre pela fábrica da pedra hume, que se chama a Ribeira que Ferve, e a outra chamada Ribeira Fria e alguns outros regatos pequenos, deles, das mesmas Furnas, e outros doutras partes; na qual ribeira entra muito pescado, onde com não pequeno gosto e grande passatempo, fazem os principais da terra e alguns sacerdotes e religiosos e alguns nobres estrangeiros, no Verão, grandes e ricas pescarias”.

IGREJA DE SÃO PAULO DA RIBEIRA QUENTE

A Igreja de S. Paulo foi levantada, primitivamente, sobre as terras de aluvião para esta região arrastadas pela erupção vulcânica das Furnas, em Setembro de 1630. (2)

Em 1665 a freguesia da Ribeira Quente tinha uma ermida que ficou destruída. Foi esta ermida construída com o paoio de ricos proprietários de Vila Franca do Campo, que costumavam frequentar o local no verão, nomeadamente na época das colheitas e das vindimas, e sentiam necessidade de algum conforto espiritual.

Pouco antes de 1799 foi construída uma outra que ficava muito perto do mar, que devido à sua fúria também a destruiu em 1909. Na ocasião, desde meados do seculo XVIII a ermida de S. Paulo era sufragânea da Igreja de Ponta Garça.

Foi escolhido um novo terreno, quase junto à antiga ermida, mas localizado mais no alto e, consequentemente, mais seguro. Em 1911 iniciou-se a nova construção da Igreja de S.Paulo que foi inaugurada a 22 de Setembro de 1917, cuja bênção foi feita pelo Bispo de Angra e Ilhas dos Açores, D. Manuel Damasceno da Costa. Houve festa de 22 a 24 de Setembro. No dia 22, para além da bênção da Igreja, momento alto das festividades, houve missa cantada e crismas, tendo pregado o Padre António Furtado Mendonça, do Pico da Pedra. No dia 23 houve a ordenação do Padre Frederico Vieira Fernandes e no dia 24 a missa nova deste, tudo grande pompa....

Contam as crónicas que o Prelado da Povoação deslocou-se para a Ribeira Quente via marítima, utilizando um barco de pesca.

“Auto da erecção da Via Sacra na egreja  parochial de São Paulo da Ribeira Quente

Conforme o Original (Livro do Tombo)

Aos vinte e quatro dias do mez de setembro do anno de mil novecentos e dezesete Sua Excelencia Reverendissima o Senhor Bispo d’esta Diocese d’Angra, Dom Manuel Damasceno da Costa fez a erecção Canonica da Via Sacra n’esta egreja parochial do Apostolo São Paulo da Ribeira Quente, do Concelho da Povoação segundo as regras prescriptas pela Sagrada Congregação das Indulgencias no dia dez de maio do anno de mil setecentos quarenta e dois, com a assitencia de alguns eclesiasticos e de muitos fieis. Assinarão in fidem este auto Sua Excelencia Reverendissima e todas as pessoas que o possam fazer.

Egreja parochial do Apostolo São Paulo, da Ribeira Quente, aos 24 de setembro de 1917.

+ Manuel, Bispo d’Angra

Conego José Moniz Betencourt/ P. José Lucindo da Graça Sousa/ P. Angelo d’Amaral/ Pe. José de Paiva d’Amaral/ Pe. José Cabral Lindo/ P. Antonio Furtado de Andrade/ Bruno Botelho/ Pe. Guilherme da Silva Cabral/ Christiano Furtado Couto/ Pe. José Furtado do Couto/ Antonio José Raposo/ Pe. Manuel José Teixeira/ Pe. Dionisio Moniz d’Almeida/ Pe. Ernesto Jacinto Raposo”

Datado de 23 de Setembro do Ano de 1917, encontramos nos arquivos da paróquia o registo da festa de inauguração:

“Ás onze horas começou a festa em honra de S. Paulo que constou de missa cantada pelo Pe. Dionizio M. d’Almeida, coadjutor da Povoação e escrivão da Ouvidoria, acolitado pelos Rev. Andrade e Frederico, fazendo parte da capella alem dos mencionados o Rev. Bulhões de Villa Franca e em quem mais uma vez pregou o Rev. Vigario do Pico da Pedra um substancioso sermão. A esta festa não assistiu S. Excia. por se achar fadigado por tanto trabalho. De tarde em muito boa ordem saiu a procissão em que foram conduzidos os andores de S. Nicolau de Tolentino, San Paulo, Nossa Senhora da Graça e Menino Jesus; levando o Santo Lenho sob o palio o Rev. Teixeira acolitado pelos Revs. Andrade e Frederico, seguindo atraz do palio S. Excia. Rev.sima ladeado pelos Conego Bettencourt e Ouvidor da Povoação.”

O Padre Silvino Amaral resumindo o que se encontrava no arquino paroquial escreve assim:

No livro do Tombo da igreja paroquial da Ribeira Quente encontra-se registada a: «notícia circunstanciada da estadia do Senhor Bispo nesta freguesia», por ocasião de uma visita pastoral que integrou a Bênção da Nova Igreja, Festa de São Paulo, ordenação de Presbítero e Unção de Via-Sacra, nos dias 22,23 e 24 de Setembro do ano 1917.

A narrativa é bastante longa e pormenorizada, mas podemos sintetizá-la no essencial.

Começa por descrever a maneira solene como 12 embarcações bastante engalanadas foram à Vila da Povoação receber o Sr. Bispo D. Manuel Damasceno da Costa.

É recebido triunfalmente na Ribeira Quente com todos os requintes solenes de uma Visita Pastoral, que iniciava no dia 22 com a Bênção da nova Igreja Paroquial do Apóstolo São Paulo “que levara seis anos a construir”.

Na tarde daquele dia “foram administrados crismas a 600 pessoas.

No dia 23, Domingo, pelas 7 horas da manhã, sua Exa. Ordenou Presbítero ao Diácono Frederico Vieira Fernandes. Facto único na história desta Paróquia. Às 11 horas começou a festa em honra de São Paulo, que constou de Missa Solene abrilhantada pelo coro local e razoável número de Sacerdotes que reforçaram o dito coro.

A narração continua nestes moldes: “ De tarde, em muita boa ordem, saiu a procissão em que foram conduzidos os andores de São Nicolau Tolentino, São Paulo, Nossa Senhora da Graça e Menino Jesus, culminando com Santo Lenho sob o pálio. A procissão encerrou com a presença de Sua Exa. Reverendíssima, ladeado de dois sacerdotes”.

Na segunda-feira, dia 24, pelas 7 horas, procedeu-se à Unção da Via-Sacra. Às 8:30 celebrou a sua primeira missa, o novo Presbítero ordenado no dia anterior.

Esta é a primeira narração recolhida sobre as festas de São Paulo integradas numa Visita Pastoral recheada das efemérides apontadas.

Não se sabe ao certo se outras festas em honra do padroeiro já se tinham celebrado anteriormente, mas é de supor que sim pelo facto da Visita Pastoral ter sido programada para o “ último fim-de-semana” de Setembro. As outras paróquias da Ouvidoria da Povoação, por serem mais antigas, já tinham preenchido os Domingos privilegiados de Verão. Escolheram esta data pela vantagem que trazia em coincidir com o tempo das colheitas e também com o quase terminus da safra das pescas do atum e bonito.

Nessa altura já haviam alguns dinheiros arrecadados da pesca dos tunídeos e as frutas e cereais recolhidos eram abundantes. Aqui, no tempo, existiam pomares de peros, maçãs, araças, uvas e seus vinhos novos que oram faziam montões ora preenchiam numerosos potes e barris de vinho doce para arrematar em favor das festas. Tudo invocava fartura ao serviço da Festa.

Os tempos mudaram com o significativo abandono das terras devido ao forte surto migratório que se alongou até aos nossos dias; com o aparecimento das festas populares do “Chicharro”, implantadas no coração do mês de Julho, época mais propícia à presença dos emigrantes em férias e pela afluência dos veraneantes e frequentadores acérrimos da praia.

Devido a tão consideráveis mudanças foi lançado inquérito à população, se perante vantagens de monta gostariam de mudar as festas de São Paulo para o mês de Julho. Foram peremptórios em concluir que “Não”!

Por isso, embora de Verão a Ribeira Quente seja muito visitada pelos seus emigrantes, devido ainda à tradicional índole acolhedora do seu povo, à confortante e agradável orla marítima, ao conjunto paisagístico do azul do mar, do verde da montanha e casario branco, ao feiticeiro porto e relaxante praia, às festas do Chicharro que concentram multidões, o certo é que o povo não quis abdicar da marcante data tradicional das festas de São Paulo, na última semana de Setembro.

Esta data permite não só alongar o período de “Verão Quente”, mas principalmente viver o valor da comunidade, cativando muitos que nos visitam por essa altura e com objectivo bem definido de celebrar a fé que nos une. Pe. Silvino Amaral.

A Igreja do convento da Graça, em Ponta Delgada foi desmantelada com a Implantação da República Portuguesa ( golpe de estado organizado pelo Partido Republicano Português que, no dia 5 de outubro de 1910, destituiu a monarquia constitucional e implantou um regime republicano em Portugal). E dela foi transportado o retábulo do altar-mor doado à nova Igreja da Ribeira Quente, bem como várias imagens, que entretanto se danificaram, exceptuando a de Nossa Senhora do Leite, imagem de grande devoção naquela freguesia piscatória.
















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