CATEQUESES QUARESMAIS DO BISPO DIOCESANO / III Reflexão

III Reflexão

«FELIZES OS MISERICORDIOSOS, PORQUE ALCANÇARÃO MISERICÓRDIA» (Mt 5, 7)

Advertia S. João Paulo II: «Se todas as bem-aventuranças do Sermão
da Montanha indicam o caminho da conversão e da mudança de vida, a que se refere aos misericordiosos é particularmente eloquente a esse respeito.

«O ser humano alcança o amor misericordioso de Deus e a Sua misericórdia, na medida em que ele próprio» for misericordioso para com o próximo (Encíclica Dives in Misericordia, 1980, nº 14). Assim, a Quaresma será “tempo favorável” da misericórdia divina, na medida em que formos misericordiosos uns para com os outros. Começando por quem mais precisa, mesmo que menos mereça.

1. É que a verdadeira misericórdia é gratuita. Vence o mal com o bem.
Atrai; não esmaga e não subjuga; nunca desiste: tudo suporta e espera… Aos olhos do mundo parece a arma dos fracos, mas é a força do amor, que tem, precisamente, a sua máxima expressão na misericórdia.

Começando pelos últimos – como sugere o Papa Francisco: «Nem sempre conseguimos manifestar adequadamente a beleza do Evangelho, mas há um sinal que nunca deve faltar: a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora» (Evangelii Gaudium=EG, 2013, nº 195).

É para ser expressão e instrumento da misericórdia divina que o Santo Padre fala de uma nova “saída missionária”, de uma Igreja de “portas abertas” para acolher e acompanhar: uma Igreja que “corre o risco do encontro com o rosto do outro» (EG 88) e cultiva a “arte do acompanhamento” (EG 169), para expressar e transmitir a misericórdia de Deus, que deu o Seu Filho, para que todos tenham a vida com abundância.

Com Cristo e como Cristo, que não se valeu da Sua igualdade com Deus, mas, encarnando, assumiu a nossa condição humana, na forma de servo, que dá a vida, para que a misericórdia divina chegue a todos.

«O Seu caminho é também o nosso caminho» (Regra de Vida SCJ).
Na Mensagem de Quaresma deste ano, o Papa Francisco manifesta o desejo de que «no meio do mar da indiferença… as nossas comunidades se tornem ilhas de misericórdia». O que significa, concretamente, ter “compaixão”, que é a capacidade de “padecer-com”: pôr-se no lugar do outro, assumindo a sua situação, não friamente, mas com toda a solidariedade e empenhamento concreto.

2. A caminhada quaresmal de penitência é, pois, “momento favorável de salvação”. Também a “Quaresma da vida”, com as suas cruzes. Uma doença, por exemplo, pode e deve ser encarada, como “momento favorável” da graça e da misericórdia divinas.

Não é o que sucede normalmente. E não é o que nos desejam a maioria das pessoas, quando adoecemos. O que, normalmente, nos dizem é que não vai ser nada e tudo vai correr bem. Eu prefiro aceitar a situação, assim como ela é e repetir a disponibilidade do “Ecce Venio”- “Eis-me aqui”: aceita, Senhor, a oferta da minha vida, assim como ela é, para o bem de todos.

Nós dehonianos, rezamos, todos os dias, o chamado “Acto de Oblação”, uma espécie de “Oferecimento das Obras do Dia” do Apostolado da Oração. Ajuda-me muito, na situação de doença, em que me encontro, repetir o esquema de Terça-Feira, que reza assim:

«Senhor Jesus Cristo, dá-nos a graça de compreender que a nossa cooperação na obra da redenção, além de se chamar apostolado, mais cedo ou mais tarde também se há-de chamar sofrimento, solidão e noite escura, imolação e morte.

«Dá-nos o Teu Espírito para que a nossa vida, também nessas circunstâncias, continue a ser reparadora na oferta, na paciência e no abandono, na disponibilidade e na imolação, em comunhão com a tua paixão e morte redentoras, em favor dos irmãos». Assim seja!

+ António, Bispo de Angra
Alfragide, 5 de Março de 2015.

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