OS CEM ANOS DA OUVIDORIA DA POVOAÇÃO


24 de Abril de 1916/ 24 de Abril de 2016
Por este motivo, “celebremos os louvores dos homens ilustres,
dos nossos antepassados através das gerações.
Foram homens virtuosos
e as suas obras não foram esquecidas.
Na sua descendência permanece
a excelente herança que deles nasceu.
Os seus filhos são fiéis à aliança
e, graças a eles, também os filhos dos seus filhos.
A sua descendência permanece para sempre
e jamais se apagará a sua memória.
Os seus corpos repousam em paz
e o seu nome vive através das gerações.
Os povos proclamam a sua sabedoria
e a assembleia canta os seus louvores”(I Sir 44, 1.10-1)

Ao preparar as celebrações do próximo Domingo, 24 de Abril, dou por mim a pensar nas gerações que construíram e moldaram o seu tempo e nos legaram o que agora usufruímos. Se formos intelectualmente honestos, constataremos que a grande maioria das instituições de maior relevância das paróquias e freguesias actuais não nasceram das nossas mãos, mas do trabalho de homens e mulheres, padres e leigos, que desbravaram a rudeza da sua época com convicções hercúleas e com uma utopia capaz de se fazer realidade por ser totalmente livre de proveitos próprios. A Ouvidoria da Povoação, se tiver a coragem de olhar para o seu passado, encontrará um património humano difícil de igualar. Olhemos, por exemplo, para o nosso primeiro Ouvidor, Pe. Ernesto Jacinto Raposo que é recordado pelo Dr. Benjamim Cabral desta forma: “…foi um dos mais ilustres povoacenses: sacerdote culto e humilde, pastor desvelado, notável orador sacro, músico exímio, colaborador devotado de vários jornais e defensor acérrimo dos interesses dos povoacenses, desempenhou com lisura, lhaneza, transparência, brilho e isenção os cargos de Presidente da Câmara Municipal, Provedor da Santa Casa da Misericórdia (da qual foi seu fundador), delegado da Misericórdia na Caixa Económica da Povoação…”

Ou então para o Mons. João Maurício de Amaral Ferreira, trabalhador incansável pela formação moral e académica dos jovens, nosso segundo Ouvidor, que é recordado pelo Pe. Doutor Octávio de Medeiros como um homem corajoso que “conseguiu transformar esta terra (Povoação), fazendo com que muitas crianças que não passariam da instrução primária, hoje estejam a ocupar cargos que nunca seriam realidade, proporcionando a muitos um estudo gratuito, visto não terem possibilidades financeiras.”

Poderíamos, sem dúvida, continuar a elencar os Ouvidores que se seguiram: Padre José Fernandes de Medeiros, Padre Silvino Amaral, o Padre Doutor Octávio Henrique Ribeiro de Medeiros, figuras ilustres que, felizmente, continuam a caminhar connosco nos trilhos desta vida, ensinando-me a viver em presbitério e contribuindo muitíssimo para a minha integração nestas paragens. Mas, o importante será a minha geração e as gerações futuras, que agora assumem ou irão assumir os destinos desta terra, em instâncias civis ou eclesiásticas, reconheçam que são devedoras a uma multidão de sacerdotes, religiosas, catequistas, professores, médicos, enfermeiras, pais, mães e tantos cristãos anónimos que moldaram esta Ouvidoria em cem anos de existência.

No entanto, a comemoração deste centenário, para além de nos fazer recuar ao passado brilhante desta unidade pastoral, é, mais que tudo, um convite muito sério a fazermos um exame de consciência, questionando-nos acerca do que iremos legar às novas gerações. Se agora estamos a colher o que outros semearam, o que estamos agora a semear para que as próximas gerações possam colher? A gratidão a todos os que nos antecederam passa por continuar e aperfeiçoar, se assim for possível, a herança recebida. E como a herança recebida é preciosa e muito rica, mais grave se torna a nossa responsabilidade na actualidade.

Cem anos de serviço que nos recordam e desafiam a servir e a esperar como única recompensa a certeza de que, se agora semeamos, seremos recordados pelos que no futuro colherão.

Ricardo Manuel Melo Pimentel

Povoação, 15 de Abril de 2016

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