QUE IREMOS LEGAR ÀS NOVAS GERAÇÕES?

No seu artigo, o Ouvidor da Povoação afirmava que a comemoração do Centenário, da nossa Ouvidoria, para além de nos fazer recuar ao passado brilhante, era, sobretudo, um convite muito sério a fazermos um exame de consciência. Nesse exame, todos se deveriam questionar “acerca do que iremos legar às novas gerações”. Nada mais inteligente. De facto, uma das lacunas da Igreja diocesana, tem sido a sua “incapacidade” (ou não vontade, ou medo, ou comodismo…), de tentar confrontar as “deliberações” tomadas nas reuniões a nível diocesano e a praxis pastoral posterior. Pessoalmente, já me considero velho (e também desencantado) para prosseguir este intento (outros talvez o farão). No mesmo artigo, o Pe. Ricardo afirmava que, “agora estamos a colher o que outros semearam”. Esta é, aliás, uma convicção muito presente nas suas intervenções e que ele nunca perde a oportunidade de realçar (o que não tem sido muito comum entre nós).

Mas, não é menos importante reflectir sobre a urgência que há em se continuar e, quanto possível, aperfeiçoar, a herança que nos foi deixada. É uma boa maneira de manifestarmos a nossa gratidão aos que nos precederam. No entanto, para isso, teremos de vencer a inércia dominante. Muitas vezes, continuamos a persistir, teimosamente, fora do que é, ou deve ser, considerado essencial no campo pastoral. Não raro, as razões das circunstâncias, algumas delas poderosas – mesmo dentro da Igreja – afastam-nos do essencial. Urge descobrirmos o que o outro acorda em nós, sem que seja destruído o presente que o destino nos dá. Dado as realidades do “verdadeiro da vida”, temos de aproveitar as energias que ainda nos restam para as aplicar em coisas pastoralmente mais valiosas. Penso que há necessidade de se ter um conhecimento mais profundo e actualizado da realidade que enforma a vida colectiva dos habitantes da nossa Ouvidoria. Pastoralmente, não é de bom senso querer aplicar o “verdadeiro da fé” quando não se sabe qual é o “verdadeiro da vida” ao qual o queremos “aplicar.

Julgo que é oportuno fazer-se um contraponto entre o “passado legado”, o presente vivido e o futuro desejado. Esse contraponto torna-se muito importante para se compreender a realidade sócio-pastoral em presença.

Nestas comemorações do Centenário da nossa Ouvidoria, faço votos de que o conhecimento do “verdadeiro da vida” seja um bom ponto de partida para uma acção pastoral mais ao jeito do Evangelho.

Água Retorta, 19 de Abril de 2016

Pe. Octávio de Medeiros

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