DESPEDIDA DO PADRE OCTÁVIO DE ÁGUA RETORTA

Os … titulares de cargos pastorais ao “chegarem aos 75 anos

são convidados a submeter a renúncia de seus deveres pastorais".


Querido Povo de Água Retorta:

Hoje, dia 22 de Setembro de 2019, assinala-se o fim de um ciclo, na vida desta Paróquia, com a despedida do seu pároco. Foram 19 anos que, espero, ficarão registados na nossa memória colectiva. Em 2000, quando foi nomeado para a Paróquia, confesso que fiquei um pouco apreensivo e sem saber o que responder. Encontrava-me, então, professor da Universidade dos Açores a “tempo inteiro” e iria assumir, a pedido de Dom António de Sousa Braga, a responsabilidade paroquial de Água Retorta que, para mais, tinha em obras a sua Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Penha de França.

Durante estes dezanove anos em que fui vosso Pároco, procurei marcar cada família e cada pessoa da Paróquia. Só Deus sabe em que medida consegui chegar ao coração de cada um, embora sinta o sabor amargo do muito que ficou por cumprir.

Tenho consciência de que não fui o sacerdote que muitos esperavam, pois a informalidade do meu feitio, se por um lado pôde trazer maior proximidade às pessoas, por outro lado, pode também ter criado obstáculos a uma atmosfera mais favorável para pôr as pessoas no caminho de Deus. Talvez não tenha conseguido perceber bem o tempo que Deus me chamava a ser vivido para-os-outros. Não sei se a minha vida ao longo destes dezanove anos foi uma vida serena, oferecida em sacrifício a Deus; uma vida alegre, testemunha do amor de Cristo; uma vida empenhada, na esperança do advento do Reino de Deus; uma vida disponível, dada ao próximo, a exemplo de Cristo; uma vida partilhada, como testemunha de que a fraternidade que as pessoas anseiam é possível em Jesus Cristo.

Neste momento em que, por limite de idade, deixo os trabalhos pastorais nesta paróquia, cabe-me uma palavra de despedida. Quem fala em despedida evoca sempre uma convivência que termina, e uma esperança que começa. A convivência que termina deixa-me saudades e uma grande gratidão. A esperança que começa, é uma esperança esperançada que tem de bom ser a última a morrer. O que já não é mau!

Agradeçotodo o carinho e atenções que recebi durante estes 19 anos que estive ao serviço Pastoral nesta Paróquia de Água Retorta [Agosto de 2000 - Setembro de 2019]Peço,humildemente, perdãopelo que tenha feito de mal ou menos bem e façovotosque a Paróquia, com o novo Pároco, Padre André Jesus de Resendes, continue a crescer, e cada vez mais, no amor a Deus e à Igreja e no serviço humilde aos mais necessitados.

Estou muito grato a Deus por me ter permitido conhecer mais de perto a vida, a história e a religiosidade do povo de Água Retorta. Cheguei aqui sem querer querendoe pouco a pouco fomos construindo amizades e semeando, com a graça de Deus, a semente da Sua Palavra. Encontrei na Paróquia agentes de pastoral comprometidos com a Igreja e que me ajudaram bastante. Dentro dos meus limites e com a colaboração de muitos, procurei anunciar a Palavra de Deus e estimular a todos para um verdadeiro encontro com Cristo na escuta da Palavra de Deus e na vivência dos Sacramentos, sobretudo através do Sacramento da Eucaristia – onde me encontrava mais vezes com o povo. Penso que a interpelação feita aos fiéis para se manterem firmes e perseverantes foi uma constante na minha pregação. A fé em Jesus Cristo e na sua Palavra, que em cada Eucaristia se celebra, torna-nos mais próximos uns dos outros porque nos faz filhos do memo Pai. O bem espiritual do povo de Deus foi sempre a minha principal preocupação.

Procurei também não negligenciar – como era aliás meu dever – o cuidado com o património da paróquia. Assim, procuramos zelar, preservar e melhorar os bens pertencentes à nossa Paróquia. O que conseguimos fazer nestes dezanove anos foi obra de muitos e não de um só. Estou bem consciente de que não fiz nada sozinho, pois contei sempre com colaboradores que me ajudaram a conduzir os trabalhos voluntariamente e com muito entusiasmo.

Quando cheguei, encontrei o Passal num estado lastimável. Não tínhamos um espaço para nos reunirmos. Hoje podemos entrar na Passal e habitar nele. Outras obras foram realizadas, quer no Templo quer no exterior. Não me vou alongar sobre o que se conseguiu fazer. Se o que foi feito nos alegra, entristece-nos pensar no que ainda ficou por fazer.

No que se refere à Prestação de contasdestes anos do meu mandato, informo que nos encontramos em dia com a Diocese e com todos os credores e que ainda deixamos no Banco Santander Tottaalgum provimento para a gestão do Pároco que me vem substituir. Aproveito a oportunidade para agradecer a todos os membros das Comissões da Igreja e da Comissão de Festas que muito me ajudaram a “arranjar” este pecúlio. 

A despedida é um momento de olhar para trás e ver tudo o que passamos juntos.
Mas é, sobretudo, hora de valorizar a amizade e os laços de afectividade – e até de alguma cumplicidades – que se foram criando ao longo destes anos. Se tivesse de descrever o que este momento representa para mim, diria que é um momento de: emoçãode esperançade saudade.

A todos os agentes de pastoral, mormente aos Ministros Extraordinários da Comunhão e às Catequistas, o meu muito obrigado! Obrigado pela disposição de Servir a Nosso Senhor Jesus Cristo, através de sua Igreja. Obrigado pela confiança que sempre depositaram na minha pessoa. Perseverem e nunca deixem de colaborar com a Igreja – se possível, mais do que até ao presente – pois sem a vossa colaboração fica muito difícil para qualquer sacerdote dar continuidade ao trabalho pastoral que não pode parar.

Tenho consciência de que da minha parte nem tudo foi perfeito. Reconheço que houve falhas no meu trabalho pastoral, mas posso afirmar com convicção que nunca agi com maldade e que estes anos foram muito importantes na minha caminhada de fé.Como podem imaginar, este momento não é nada fácil para mim. Não é nada fácil dizer até logo a uma comunidade que entrou na minha vida e no meu coração. Dizer até logo a uma comunidade que me acolheu com tanto afecto e que me ajudou a viver o meu ministério sacerdotal. Talvez nem todos acreditem como me é difícil dizer “até mais”. Podem contar sempre com minha amizade e a minha oração onde quer que me encontre.

Não é fácil sorrir com vontade de chorar…E não é fácil dizer adeus com vontade de ficar… Oxalá que eu mereça PARTIR FICANDO!

Quero fazer-vos um pedido que, estou certo, nem seria necessário:acolham de coroação aberto e generoso o vosso novo Pároco, o senhor Padre André Jesus de Resendes, como é, aliás, vosso timbre. Tenho a certeza que ele vem com muita boa vontade para servir a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo nesta freguesia mais pitoresca dos Açores – Água Retorta. Seguramente, ele vem para, em união com todos, continuar a missão evangelizadora.

Deus abençoe a todos! Que a nossa Padroeira, Nossa Senhora da Penha de França, proteja o novo Pároco e continue a interceder por cada um de nós.

Água Retorta, 22 de Setembro de 2019

Pe. Octávio de Medeiros
Pároco Jubilado de Água Retorta

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